Saúde

Primeiras canetas injetáveis nacionais para emagrecimento e diabetes chegam ao mercado brasileiro

Primeiras canetas injetáveis nacionais para emagrecimento e diabetes chegam ao mercado brasileiro
Ana Virgínia Vilalva

Ana Virgínia Vilalva

04/08/2025 1:00pm

Foto: Freepik

A partir desta segunda-feira (4), o Brasil começa a comercializar as primeiras canetas injetáveis produzidas nacionalmente para o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Desenvolvidas pelo laboratório EMS, as novas medicações Olire e Lirux marcam a entrada da indústria farmacêutica brasileira no competitivo mercado das terapias com análogos de GLP-1, até então dominado por produtos importados como Victoza e Saxenda, da Novo Nordisk.

Aprovadas pela Anvisa em dezembro, as novas canetas usam como princípio ativo a liraglutida, substância já amplamente estudada e utilizada no controle do apetite e da glicemia. A Olire será indicada para o tratamento da obesidade — inclusive em jovens a partir de 12 anos — enquanto a Lirux, com dosagem diferenciada, será voltada ao tratamento do diabetes tipo 2, podendo ser utilizada por pacientes a partir de 10 anos.

Ambas as versões devem ser aplicadas diariamente, em áreas como o abdome, coxa ou braço, e exigem prescrição médica, conforme nova regulamentação em vigor desde junho. A supervisão médica é essencial, não apenas para o ajuste correto da dose, mas também para o monitoramento de possíveis efeitos colaterais.

As primeiras 150 mil unidades (100 mil de Olire e 50 mil de Lirux) estarão disponíveis inicialmente em farmácias das redes Raia, Drogasil, Drogaria São Paulo e Pacheco, com vendas nas regiões Sul e Sudeste. A expansão para outras regiões deve ocorrer de forma gradual nas próximas semanas. Os preços sugeridos variam entre R$ 307,26 (unidade) e R$ 760,61 (embalagem com três canetas), dependendo do tipo e da quantidade adquirida.

Apesar de não serem classificados como genéricos, os medicamentos são similares aos importados, e seguem rígidos padrões de qualidade. A EMS afirma que o diferencial das canetas brasileiras está na tecnologia de produção. Em vez de utilizar bactérias geneticamente modificadas, como ocorre com os produtos dinamarqueses, a farmacêutica nacional optou pela produção com peptídeos sintéticos, o que, segundo a empresa, permite maior pureza e redução de custos.

A EMS investiu mais de R$ 1 bilhão na construção de uma fábrica de peptídeos em Hortolândia (SP), inaugurada em 2024, para viabilizar a produção das novas canetas. A expectativa da empresa é que esses lançamentos respondam por 25% do faturamento da companhia nos dois primeiros anos.

Além da liraglutida, a EMS já se prepara para lançar uma versão nacional da semaglutida — princípio ativo presente nas famosas canetas Ozempic e Wegovy — com aplicação semanal, mais prática para o paciente. No entanto, esse lançamento está previsto apenas para o segundo semestre de 2026, por conta da validade da patente do medicamento original, ainda vigente no Brasil.

Com o fim da patente, a EMS pretende disponibilizar a versão nacional da semaglutida também no Sistema Único de Saúde (SUS). A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, por exemplo, já criou um grupo de trabalho para estudar a incorporação da medicação na rede pública.

A corrida pela produção nacional de canetas com GLP-1 também mobiliza outras farmacêuticas. A Hypera Pharma, principal concorrente da EMS, já anunciou planos de lançar sua versão da semaglutida em 2026. A EMS, inclusive, tentou adquirir a rival em 2023, mas, após a recusa do conselho da Hypera, recuou da proposta. Ainda assim, aumentou sua participação acionária na companhia para 6% ao final de 2024.

Com a chegada dos produtos nacionais, espera-se não apenas maior acesso da população aos tratamentos, mas também uma possível redução nos preços praticados no mercado, que até então dependia fortemente da importação. O avanço representa um passo importante para a democratização do acesso a terapias inovadoras no Brasil.