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A ida de Roberto Campos Neto para o Nubank mexe com a lógica do sistema financeiro. Ex-presidente do Banco Central, ele assume a vice-presidência do conselho e a chefia global de políticas públicas do banco digital a partir de 1° julho. A movimentação não surpreende, mas é provocativa.
Campos Neto foi protagonista de uma gestão que abriu espaço para as fintechs, bancou o Pix e defendeu competição no setor. Agora, com assento na maior delas, leva know-how regulatório, contatos estratégicos e visão de sistema para dentro de uma instituição que segue em expansão.
No mercado, o recado é claro: o Nubank se posiciona com mais força no jogo político e regulatório. A escolha sinaliza que a disputa não será apenas por clientes ou tecnologia, mas também por influência. Campos Neto conhece os bastidores da formulação de regras, sabe onde estão os nós e onde há margem para mudança. Em meio ao aumento de exigências de capital e cortes em receitas de cartões, a fintech investe em presença institucional para ganhar tração num ambiente mais apertado.
A chegada incomodou. Executivos de grandes bancos e instituições médias apontam possível conflito de interesse, considerando que pautas que favoreceram as fintechs avançaram com facilidade durante sua gestão no BC.
O Nubank, mesmo não sendo o único, é o símbolo do setor e, para parte do mercado, o maior beneficiado com a gestão de Campos Neto a frente do BC. A crítica se apoia no acesso direto que a fintech teria tido no debate regulatório, muitas vezes à margem de associações como Febraban (Federação Brasileira de Bancos) ou ABBC (Associação Brasileira de Bancos).
A nova posição o coloca em rota direta com formuladores de política econômica e supervisores do sistema bancário. Ex-presidentes do BC já fizeram movimentos parecidos, mas nenhum deles ingressou em uma fintech com tamanho impacto público. Campos Neto chega com bagagem técnica, visão de longo prazo e leitura institucional. E o Nubank mostra que quer mais do que ser revolucionário, quer ser decisivo.