Crônicas

Natal: O Tempo Entre Nós

Natal: O Tempo Entre Nós
Verônica Villas Bôas

Verônica Villas Bôas

24/12/2024 2:00pm

O Natal não é apenas uma data, é um reencontro com a alma. É quando as vozes enchem a casa, os risos transbordam dos cômodos, e a vida se reconcilia com o tempo. Há algo mágico no Natal, algo que nos faz querer parar e respirar fundo, como se o mundo pedisse licença para nos lembrar do que realmente importa: a família, os laços, as memórias que moldam quem somos.

Na mesa farta, não é só comida que se serve, mas histórias. Cada prato carrega uma lembrança, uma tradição, uma herança que passa de geração em geração. A avó, com mãos marcadas pelo tempo, ainda tempera o amor na ceia, enquanto as crianças, distraídas, riem e correm, sem saber que estão criando as memórias que contarão no futuro.

E assim o Natal se torna um palco. O avô, de olhar sereno, ensina o neto a colocar a estrela no topo da árvore. A mãe, com paciência infinita, revela o segredo da receita que aprendemos a amar desde crianças. E todos juntos, num ritual silencioso, celebram não só o agora, mas o que ficou e o que virá.

Mas o Natal também tem suas ausências, aquelas que se fazem presentes. O cheiro do prato preferido de quem já partiu, a música que toca ao fundo e nos faz lembrar, a lágrima que escapa, discreta, entre um brinde e outro. As cadeiras vazias na mesa não são meros espaços; são lugares onde o amor continua vivendo, mesmo na falta.

O tempo passa, mas o Natal desacelera. Ele nos dá esse presente raro: a chance de pausar e ver com clareza que a vida não é feita de grandes gestos, mas de pequenos momentos, de memórias que carregamos e recriamos. É uma festa, sim, mas também uma oração silenciosa, um agradecimento pelas pessoas que fazem e fizeram parte da nossa história.

Porque, no final, o Natal nos ensina que o maior presente não vem embrulhado. Ele está nos laços, nas lembranças e no amor que nunca deixa de pulsar.

Feliz Natal. Que ele seja eterno, na mesa, nos gestos e no coração.

Verônica Villas Boas