Ter fé sempre!
“Senhor, aumenta-nos a fé.” (cf. Lc1 7,5.). Trata-se de um pedido, de uma súplica, de uma prece, de uma graça que se eleva à plenitude que brota de um coração c...
Por Rogério Flausino
Vocalista da banda Jota Quest
Há exato um ano, estávamos de malas prontas para a realização de um grande sonho: a nossa primeira turnê oficial pela Europa. Seriam oito shows, em sete países diferentes. A duas semanas de nossa partida, notícias sobre o fechamento das fronteiras pela pandemia nos fariam cancelar a viagem e adiar os planos.
Após o final de semana de shows, voltamos para casa, no mesmo dia em que o Brasil iniciava a sua quarentena, jogando por terra, por tempo indeterminado, outro sonhado projeto: uma turnê comemorativa dos nossos 25 anos de caminhada, que a partir de junho passaria por estádios e arenas, nas capitais do país.
Naqueles longos dias, pela primeira vez, fomos tomados por sentimentos estranhos de angústia, frustração, medo e incertezas. Além de preocupações com a saúde e o bem-estar de nossas famílias, era impossível não tentar achar respostas para o que seria do futuro de nossas equipes, colegas de profissão e parceiros do show bussiness, diante daquela nuvem escura que se aproximava.
Foi quando um acontecimento surpreendente começou a mudar a nossa energia e o ponto de vista sobre tudo aquilo. Numa noite de sábado, pelas redes sociais, começamos a receber diversas imagens em vídeo de um grande condomínio de edifícios na cidade de Santos, em São Paulo, onde moradores, pelas janelas de seus apartamentos, cantavam em coro os versos de nossa canção “Dias Melhores”.
Um misto enorme de emoções nos invadiu naquele momento. Por telefone, em conversa com meu pai, Prof. Wilson, também confinado em sua casa em Alfenas, no sul de Minas, passamos a relembrar a trajetória daquela canção lançada há exatos 20 anos.
Os perrengues do início da carreira que geraram a sua composição. As críticas pejorativas à letra, ao álbum e ao grupo, julgados “simplórios” e “oportunistas” pela mídia especializada da época. Sua resiliência dentro do repertório de uma banda “pop” ao longo da caminhada. As inúmeras vezes em que, aos poucos, a canção passou a ser associada a ações e campanhas ligadas à ecologia, à educação e ao bem-estar social. Tudo isso, em perspectiva daquelas emocionantes imagens que acabávamos de assistir, parecia, finalmente, fazer sentido.
Uma nova energia tomou conta da gente. Se não poderíamos estar com a galera “ao vivo” nos shows, nossa função seria tentar de tudo para nos mantermos ativos e presentes no dia a dia da galera, através de nossas canções e mensagens.
A partir do lançamento da inédita “A Voz do Coração”, pinçada das gravações já iniciadas de nosso 10° disco, passamos a buscar dentro do trabalho pontos de vista que pudessem fazer a diferença e trazer reflexões mais positivas sobre aquele novo momento de sentimentos tão cinzas. E fomos em frente.
Ao longo dos últimos 12 meses, conseguimos lançar três canções inéditas, dois EPs com faixas-raras, além de dois remixes de faixas de clássicos. Realizamos também quatro lives históricas pelo YouTube, encontros virtuais com fãs e inúmeros bate-papos e entrevistas pelas redes sociais e veículos de imprensa. Também de forma remota, passamos por grandes programas de rádio e TV brasileiros, incluindo uma participação no Prêmio Multishow 2020.
De volta a “Dias Melhores” e sua trajetória, temos podido ainda assistir, com muita emoção e empatia, à nossa querida canção como trilha-musical para ações e homenagens às vítimas, aos seus familiares e aos inúmeros profissionais de saúde na linha de frente do combate à pandemia, ressignificando o valor da esperança.
Dos momentos mais difíceis, levaremos os maiores ensinamentos. Os “dias melhores” estão sempre a caminho. E estaremos juntos no final do arco-íris. Um abração!