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O corpo que dança também é resistência

Espetáculos com artistas com deficiência ganham visibilidade e mostram que expressão, beleza e arte não têm padrão: têm presença

O corpo que dança também é resistência
Jacson Gonçalves

Jacson Gonçalves

20/07/2025 7:35pm

Foto: Infinite Flow – An Inclusive Dance Company / Divulgação


Na dança, o corpo fala. Mas por muito tempo, só alguns corpos foram autorizados a ocupar os palcos, como se a estética, o ritmo e a expressão tivessem uma forma única. Esse tempo, felizmente, está ficando para trás. Em Salvador e por todo o Brasil, artistas com deficiência vêm ocupando o universo das artes cênicas com força, sensibilidade e potência, provando que todo corpo é capaz de dançar — e de emocionar.


A Bahia já é referência em iniciativas que integram pessoas com deficiência às linguagens artísticas. Grupos como o Bando de Teatro Olodum, por exemplo, vêm abrindo espaço para corpos diversos nas artes cênicas, assim como o projeto Dança sem Fronteiras, fundado por Fernanda Amaral, que realiza intercâmbios e espetáculos inclusivos envolvendo artistas com deficiência física, sensorial ou intelectual.


A dança inclusiva vai além do entretenimento: ela é ferramenta de autoestima, autonomia, cura e transformação. Não se trata de adaptação apenas, mas de criação genuína, onde a cadeira de rodas vira extensão do corpo, a muleta vira gesto, a ausência de um membro vira poesia. O palco deixa de ser vitrine para ser território de afirmação.


Esses espetáculos desafiam o olhar tradicional do público e revelam uma verdade essencial: a arte nasce onde há desejo de expressão, e não onde há perfeição física. Toda vez que um artista com deficiência pisa no palco, ele dança não só com o corpo — mas com a história, com a coragem e com a liberdade de existir como é.


Que os palcos sejam cada vez mais amplos, e que a dança siga como um ato de presença. Porque o corpo que dança também é o corpo que transforma.