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Medicina em 2021: temos motivos para o otimismo?

Medicina em 2021: temos motivos para o otimismo?
Dr. Leonardo Salgado - Médico geriatra, gerentólogo e clínico médico

Dr. Leonardo Salgado - Médico geriatra, gerentólogo e clínico médico

10/05/2021 11:30am

Estamos em março de 2021 e vivemos o pior momento da pandemia da COVID, que já dura um ano. Esta segunda onda, como é chamada, está levando ao colapso o sistema de saúde público e privado em várias cidades do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, já iniciamos o processo de vacinação em massa, que deve ser acelerado nos próximos meses, trazendo uma grande esperança de controle dessa nova doença. O principal motivo para termos tantas vacinas disponíveis em tão pouco tempo foi o compartilhamento de dados e a integração entre os vários centros de pesquisa no mundo. 

A urgência em se ter uma vacina para a COVID-19 trouxe não somente as próprias vacinas em tempo recorde, mas também um aprendizado de trabalho colaborativo e de compartilhamento de dados, que tem potencial para alavancar diversas outras áreas de pesquisas médicas. Imaginem a força desse compartilhamento de dados, do uso de plataformas comuns e do trabalho integrativo entre os vários centros de pesquisa no mundo para pesquisar e desenvolver tratamentos para outras doenças. Se já conseguimos isso contra um adversário ameaçador e urgente como esse vírus, por que não repetir esses acertos ao tentarmos desenvolver tratamentos novos para o câncer, para a doença de Alzheimer, para o diabetes, a obesidade e para tantas outras doenças que produzem um impacto negativo enorme na saúde da população em geral? 

Para além da COVID-19, a Medicina traz luz e esperança em várias outras áreas nas quais o desenvolvimento de novas tecnologias – como a Nanotecnologia e a impressão de órgãos e tecidos em impressora 3D, a utilização cada vez mais frequente de Big Data e de Inteligência Artificial – estão conseguindo mudar, para melhor, a saúde de uma grande parte da população. Então, vamos de notícias boas! 

Cientistas israelenses já produziram uma miniatura de um coração humano em uma moderna impressora 3D. A grande novidade é que o órgão foi feito com tecidos humanos e possui vasos sanguíneos e as cavidades cardíacas. Os cientistas separaram as células do tecido adiposo de um paciente e contaram com a ajuda da Engenharia Genética para produzir o tecido humano. Eles transformaram as células de gordura em células-tronco para criar o músculo cardíaco e os vasos sanguíneos que foram usados na impressão em 3D. Imaginem que, em uma década, a doação de órgãos poderá ser coisa do passado. 

A Nanotecnologia aplicada à Medicina irá revolucionar os métodos diagnósticos e de tratamento. Por exemplo, um dos maiores problemas no tratamento com quimioterapia para o câncer é que os medicamentos fornecidos não atingem apenas as células cancerígenas e por isso apresentam efeitos colaterais, mas hoje já é uma realidade em centros de pesquisa o uso de nanorobôs feitos de DNA transportando um coquetel de drogas que pode ser liberado de maneira controlada e na ordem correta, atingindo apenas as células tumorais. 

O problema hoje é que, como a Nanotecnologia é considerada estratégica e tratada como um assunto de soberania nacional por diversas nações, ainda não se permite um livre compartilhamento de dados. Agora, imagine se o mundo entendesse o desenvolvimento da Nanomedicina como entenderam o desenvolvimento da vacina para a COVID-19... O que levaria duas décadas se desenvolvendo aconteceria em menos de cinco anos. 

A pandemia da COVID-19 será controlada em um futuro próximo. Mas o sacrifício das milhões de vidas perdidas será mais bem aceito se a humanidade tiver aprendido a trabalhar em conjunto e a compartilhar livremente as suas descobertas e avanços, pois, assim, conseguiremos, em pouco tempo, salvar outras tantas vidas. Eu sou um otimista em relação a esse futuro.