Dismorfia Financeira: Quando a percepção do dinheiro adoece
Foto: Acervo Pessoal Você já ouviu falar em dismorfia financeira? O termo, que se inspira no conceito clínico da dismorfia corporal (distúrbio em que a pessoa ...
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Em pleno século XXI, ainda é comum encontrar mulheres fortes, independentes, bem-sucedidas profissionalmente — mães ou não — que hesitam em tomar decisões financeiras sem antes consultar ou pedir "autorização" de seus companheiros.
Esse comportamento não nasce da falta de capacidade, mas de uma herança cultural profunda, marcada por séculos de exclusão feminina das finanças e dos investimentos. Por muito tempo, a mulher foi ensinada a cuidar da casa, enquanto o homem cuidava do dinheiro. Mesmo após sua entrada massiva no mercado de trabalho, essa divisão simbólica continua ecoando nos lares brasileiros.
Segundo dados do Instituto Locomotiva (2023), 6 em cada 10 mulheres brasileiras ainda não se sentem confortáveis em tomar decisões sobre investimentos sem a opinião de alguém — geralmente do parceiro. E de acordo com a Anbima, embora as mulheres representem mais da metade da população, elas são apenas 30% entre os investidores no Brasil.
Esse dado é ainda mais gritante quando consideramos que 51% dos lares brasileiros já são chefiados por mulheres (IBGE, 2022). Ou seja: são elas que sustentam a casa, criam os filhos, equilibram múltiplas jornadas — mas ainda não se sentem plenamente donas do próprio dinheiro.
Isso está diretamente ligado à baixa educação financeira no país. Em 2022, o levantamento da OCDE indicou que o Brasil ocupa o 74º lugar no ranking de alfabetização financeira entre 144 países. E quando o recorte é de gênero, as mulheres tendem a se declarar menos confiantes ao lidar com finanças — mesmo tendo comportamento financeiro mais responsável do que os homens, como mostram pesquisas do Serasa Experian.
Mas é preciso virar essa chave.
E isso começa com uma pergunta simples: por que ainda esperamos permissão para ocupar o que já é nosso por direito?
Educação financeira é uma ferramenta de emancipação. É por meio dela que mulheres aprendem a proteger seu patrimônio, a investir com consciência, a planejar sua aposentadoria e a garantir o futuro de quem amam — com ou sem a presença de um parceiro.
Tomar decisões financeiras não deve ser um ato de coragem. Deve ser rotina. Deve ser natural. Deve ser seu.
E não se trata de agir sozinha.
Assumir o protagonismo financeiro não significa tomar decisões unilaterais ou desrespeitar o orçamento familiar. Pelo contrário: quando a mulher se posiciona financeiramente, ela fortalece as decisões conjuntas, agrega visão de longo prazo e protege o futuro da família.
Aliás, poucas pessoas conhecem tão profundamente as necessidades reais do lar como a mulher. Ela sabe onde é possível economizar, onde é necessário investir, quais são as prioridades da casa e da saúde dos filhos. É ela quem sente no dia a dia o impacto da inflação no supermercado, o custo da escola, o valor do cuidado.
Autonomia financeira feminina é, na prática, um gesto de amor e de zelo. É a mulher cuidando ainda melhor de tudo aquilo que já cuida — mas com voz ativa, consciência técnica e liberdade de escolha.
Como modificar esse padrão?
A mudança começa no micro:
📍Converse sobre dinheiro com outras mulheres. Dinheiro não pode ser mais um tabu entre nós.
📍Busque orientação técnica de profissionais de confiança. Você não precisa saber tudo — mas pode aprender a perguntar.
📍Comece com o que você tem. Pouco é diferente de nada, e consistência vale mais que perfeição.
📍Participe de espaços onde o conhecimento circula e fortalece. Grupos, mentorias, oficinas, encontros de mulheres — tudo isso amplia sua visão e te fortalece na prática.
📍Inclua educação financeira na criação dos filhos. Romper o ciclo é ensinar o próximo a não repeti-lo.
📍Se priorize. Coloque seu nome no orçamento da casa. Reserve um valor para você. E invista nele.
Se você se reconhece nesse texto, saiba: você não está sozinha. E está tudo bem começar de onde está. O mais importante é começar. Porque quando uma mulher se apropria do seu dinheiro, ela se apropria da sua liberdade — e fortalece tudo ao seu redor.
Vamos juntas?
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