Foto: Acervo Pessoal
Você já ouviu falar em dismorfia financeira? O termo, que se inspira no conceito clínico da dismorfia corporal (distúrbio em que a pessoa tem uma percepção distorcida de sua imagem), vem ganhando espaço nas ciências comportamentais e econômicas para descrever o comportamento de quem não enxerga sua real condição financeira de forma objetiva, seja por excesso ou por negação da realidade.
O que é dismorfia financeira?
Segundo a psicóloga comportamental Dra. Sarah Newcomb, pesquisadora da Morningstar e autora de 'Loaded: Money, Psychology, and How to Get Ahead without Leaving Your Values Behind' (2016), a dismorfia financeira se manifesta quando há uma diferença significativa entre a realidade financeira e a forma como o indivíduo a percebe, levando a comportamentos de risco, ansiedade crônica ou decisões financeiras incoerentes com sua real capacidade econômica.
Dados e indicadores sociais
Um estudo conduzido pelo FINRA Investor Education Foundation em 2022 revelou que 60% dos adultos nos EUA apresentam alto nível de ansiedade financeira, mesmo entre os que possuem rendas acima da média. No Brasil, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC/Fecomércio-SP) mostrou que, em abril de 2025, 78,5% das famílias brasileiras estavam endividadas, o maior índice em 10 anos.
Mais alarmante ainda é o dado de que 42% das mulheres brasileiras afirmam ter vergonha de falar sobre dinheiro, conforme estudo do Instituto Locomotiva (2023), revelando o peso emocional e psicológico da relação financeira no cotidiano feminino.
Quem sofre mais com a dismorfia financeira?
Embora o fenômeno atinja ambos os sexos, as mulheres são mais vulneráveis, sobretudo pela sobrecarga de papéis sociais, desigualdade salarial e maior tempo de vida (que exige mais planejamento de longo prazo). Jovens adultos também têm sido fortemente afetados, especialmente em tempos de redes sociais, onde a ostentação digital distorce percepções sobre o que é uma 'vida financeira de sucesso'.
Em muitos casos, empreendedores e profissionais autônomos são severamente impactados. A oscilação de renda e a ausência de planejamento estruturado ampliam a ansiedade e a sensação de incerteza, levando à procrastinação de decisões cruciais.
Impactos na vida empresarial e familiar
A dismorfia financeira pode:
- Prejudicar a tomada de decisões estratégicas empresariais, como investimentos mal calculados ou recusa em oportunidades viáveis por medo de 'perder tudo';
- Gerar conflitos familiares, principalmente em casais que não compartilham uma visão clara e conjunta sobre o orçamento;
- Comprometer a saúde mental, alimentando quadros de depressão, burnout financeiro e isolamento social.
Como o planejamento financeiro ajuda?
Um plano financeiro estruturado atua como um “espelho objetivo”. Ele revela a real situação patrimonial e de fluxo de caixa, define metas, identifica vulnerabilidades e propõe soluções estratégicas.
Ao lado de um(a) consultor(a) capacitado(a), o planejamento devolve a clareza e o controle, reduz a ansiedade e possibilita a construção de uma nova relação com o dinheiro, baseada em propósito, segurança e liberdade.
Em especial para mulheres, o planejamento oferece emancipação — ajudando a alinhar sonhos, carreira e autonomia financeira.
Conclusão
A dismorfia financeira é silenciosa, mas extremamente prejudicial. Como qualquer distorção cognitiva, precisa ser nomeada, compreendida e enfrentada. O primeiro passo é buscar informação e apoio especializado — porque o dinheiro não é fim, é meio. E você é sempre maior do que ele.
Fontes
- Newcomb, S. (2016). Loaded: Money, Psychology, and How to Get Ahead without Leaving Your Values Behind. Wiley.
- FINRA Investor Education Foundation. Financial Capability Study (2022).
- Instituto Locomotiva. Mulheres e Dinheiro no Brasil (2023).
- PEIC – Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor. Fecomércio-SP (2025).