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O Vale do Silício virou um Clube VIP

Por Adriano Sampaio, CEO da Duplamente Inteligencia de Mercado

O Vale do Silício virou um Clube VIP
Da Redação

Da Redação

03/11/2025 5:44pm

Foto: Acervo Pessoal

O mundo do capital de risco em 2025 parece um grande tabuleiro de xadrez onde sobram reis e faltam peões. A Carta trouxe dados que, sob uma lente irônica, poderiam ser chamados de “Edição Darwin”: menos rodadas, mais dinheiro, e um punhado de startups que viraram dinossauros blindados contra a extinção. Enquanto o investimento total sobe, o número de negócios desce. O resultado? Um mercado de convicções seletivas, onde a elite das “haves” se banqueteia em rodadas tardias enquanto o resto mendiga atenção. O dinheiro — e o talento — concentram-se nos mesmos lugares de sempre, com a Bay Area reluzindo como uma Las Vegas da inovação. É o velho Vale do Silício, mas com menos utopia e mais balanço trimestral.

E quando o IPO não vem, o mercado inventa um atalho: os secondaries. A PitchBook e a Notice.co revelam que a liquidez mudou de mãos — literalmente. Fundos e fundadores descobriram que vender participação no mercado secundário é o novo “exit”. Anthropic, SpaceX e OpenAI viraram as blue chips privadas dessa economia paralela, com negociações acima das avaliações primárias. O desconto médio nas 100 maiores empresas privadas caiu pela metade, e o setor já movimenta mais de US$ 60 bilhões. Liquidez instantânea, sem precisar da aprovação do público, do prospecto ou do humor do Nasdaq. Uma espécie de “mercado negro legalizado” do capital, com um sorriso de compliance.

Enquanto isso, o M&A ressuscita com o mesmo entusiasmo de quem voltou de um coma de juros altos. Com as taxas caindo, a confiança renasceu, e os grandes negócios voltaram a acontecer. Só no terceiro trimestre, as transações cresceram 25,6% em valor e 3,8% em volume, totalizando US$ 3,4 trilhões no ano. Os megadeals — acima de US$ 1 bi — já respondem por mais da metade desse montante. CEOs e CFOs estão finalmente tirando o pó dos “war chests”, e o mercado volta a ter aquele cheiro de 2021: ambição misturada a cafeína e PowerPoint.

E, claro, há o elefante dourado da sala: a Inteligência Artificial. A Reuters revelou que a OpenAI prepara o que pode ser o maior IPO da história, mirando um valuation de até US$ 1 trilhão. É o tipo de número que faria até a Petrobras corar. O enredo tem tudo de épico corporativo: reestruturação societária, a Microsoft recuando para 27%, a fundação mãe ganhando poder, e Sam Altman encenando o papel do visionário que sonha alto o suficiente para medir o céu em tokens. O IPO, previsto para 2026-2027, será o teste final — não só da OpenAI, mas da maturidade de um mercado que confunde inovação com idolatria.

Para CEOs, CIOs e CMOs, a moral é simples (e ligeiramente ácida): estamos diante de um novo ciclo onde o poder voltou a se concentrar. Menos players, mais capital, menos risco aparente — e mais dependência de tecnologias que poucos realmente controlam. O futuro chegou, mas só para quem ainda tem o crachá dourado da exclusividade. Aos demais, resta observar o espetáculo pela tela — talvez de um modelo “freemium”.