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O ESG e a pandemia

Nelson Wilians é empreendedor e advogado

O ESG e a pandemia
Nelson Wilians

Nelson Wilians

14/09/2021 3:50pm

Nesses tempos em que a pandemia do coronavírus está esmigalhando nossa saúde e nossa economia, o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) deve estar no radar de todas as empresas, independentemente de tamanho e de segmento de mercado.

E pode-se dizer que o gigante de varejo, Walmart, praticamente despertou para o ESG durante a passagem do furacão Katrina nos Estados Unidos. Em 2005, a cidade de Nova Orleans, no estado de Louisiana, foi quase varrida do mapa pelo furacão. E a rede Walmart desempenhou um papel admirável nos esforços de socorro aos moradores daquela cidade americana. A empresa foi uma das protagonistas na obtenção de alimentos, água e outros recursos para áreas atingidas por violentas enchentes. Nas palavras de Kathleen McLaughlin, que ingressou na empresa em 2013 como a primeira diretora de sustentabilidade, “isso realmente colocou o grupo em um caminho diferente, que continuou a evoluir”.

Esse gigante do varejo está longe de ser um modelo perfeito. Mas esse fato é extremamente relevante por se tratar de uma rede que tem “2,2 milhões de funcionários, 11.500 locais de varejo e receitas que excedem o produto interno bruto da maioria dos países”, de acordo com a Barron's, uma publicação da Dow Jones, que apontou recentemente o esforço do Walmart para implantar iniciativas ambientais ambiciosas, introduzir programas para melhorar as condições de trabalho e apoiar a saúde pública.

Mas não é apenas um ou outro setor que precisa estar atento e implantar ações e estratégias sustentáveis. Essa percepção vem crescendo aceleradamente também entre as nações, desde a formulação da política de desenvolvimento sustentável pela ONU. Países que não se adequam a essa nova realidade estão encontrando enormes barreiras, vide o caso brasileiro e a pressão internacional para que o país proteja a região amazônica.

Essa postura ativa tem efeito dominó em relação às questões sustentáveis e, consequentemente, nas relações comerciais de maneira geral. A lógica é simples e todos precisam ser parte da solução. A nova escala criou uma mudança positiva em cadeia: ou se está dentro ou se fica, forçosamente, de fora. Inclusive, e até principalmente, as empresas.

Do meio do furacão da pandemia fica difícil enxergar o que restará ao final. Me arrisco a dizer, porém, que as questões de governança ambiental, social e corporativa serão impulsionadas ainda mais em todo o planeta.

E não se trata apenas de uma questão de mercado, que exige das empresas uma postura ativa nessa direção. A pandemia está ampliando nossa visão de questões que precisam ser levadas a sério daqui para a frente, mesmo que estejamos ainda no olho do furacão.

A bonança só virá para aqueles que se converterem. Simples assim. Acredito que, cada vez mais, futuros governantes só serão admitidos se propuserem estratégias sustentáveis fundamentadas. Isso será uma exigência da comunidade local e da global.

Parafraseando o escritor francês Bussy-Rabutin, que assinalou que “a distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande” - que o vento desse furacão pandêmico inflame o fogo de um grande novo tempo.