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Jornalismo? Quem precisa? Tem TikTok!

Por Adriano Sampaio, Analista de Inteligência de Mercado e CEO da Duplamente Pesquisas.

Jornalismo? Quem precisa? Tem TikTok!
Da Redação

Da Redação

11/11/2024 8:00pm

A ideia de que a mídia tradicional está morta reverbera hoje com força, mas o que isso realmente significa? O fim da mídia tradicional não representa a extinção da influência, mas a transformação do cenário informativo, agora transferido para as mãos dos consumidores, plataformas e influenciadores digitais. A autoridade de jornais e emissoras de TV, que por tanto tempo moldaram a opinião pública, cede espaço para a popularidade de quem sabe dominar algoritmos e gerar engajamento. Esse novo modelo redefine a lógica de influência, onde o alcance nas redes sociais passou a ser o principal vetor de relevância, trazendo desafios inéditos para quem busca entender a credibilidade e a função do jornalismo em uma era de fragmentação informativa. Em vez de uma comunicação de massa com mensagens homogêneas, agora cada consumidor é um potencial divulgador de ideias, capaz de influenciar seu próprio público, por menor que ele seja.

Essa multiplicidade de vozes nas redes sociais criou uma avalanche de informações que não apenas satura, mas muitas vezes confunde e desinforma. A sobrecarga de dados e opiniões fragmentadas torna cada vez mais difícil distinguir o que é verdadeiramente confiável. Por isso, cresce uma demanda por um contrapeso de qualidade, e o cenário parece se dividir em dois polos opostos: de um lado, mídias sociais nativas, que abastecem os algoritmos com informações rápidas e virais; do outro, veículos de altíssima credibilidade, que prezam por análises mais profundas e criteriosas. Este movimento revela uma nova polarização informativa, onde a relevância é determinada pelo engajamento de massa e pela confiança em fontes que investem em rigor e profundidade, criando um cenário de extremos no qual a credibilidade ganha um valor raro.

Outro fenômeno marcante é a ascensão dos minis influenciadores, que, ao atuar em nichos específicos, ampliam o alcance das informações e moldam comportamentos com um nível de personalização antes impensável. Se, por um lado, essa tendência democratiza a informação e permite que mais pessoas participem da produção de conteúdo, por outro, fragmenta o consenso e dificulta a construção de uma verdade coletiva, já que cada nicho passa a viver em suas próprias bolhas informativas. Essa rede de pequenos influenciadores não só representa uma nova estrutura de comunicação, mas também desafia o modelo tradicional de autoridade, pois a confiança deixa de ser uma questão institucional e passa a ser relativa, uma troca quase íntima entre o influenciador e seu público específico.

Além disso, o controle dos algoritmos pelas redes sociais redefine os “porteiros” da informação, transferindo o poder editorial para gigantes da tecnologia que filtram e priorizam o que aparece no feed de cada usuário. Isso implica em um controle implícito sobre a percepção do público, que agora é cada vez mais moldada por algoritmos de engajamento e não por editores e jornalistas comprometidos com a curadoria informativa. Assim, o que se vê ou lê não é necessariamente o que é mais relevante ou informativo, mas o que mais ressoa com as preferências de cada usuário e gera maior retorno para as plataformas. Esse fenômeno cria um novo modelo de autoridade, onde a credibilidade tradicional precisa competir com a viralidade e a capacidade de retenção.

O futuro da mídia aponta para uma divisão clara entre veículos que se destacam pela quantidade de conteúdo e aqueles que apostam na credibilidade e na profundidade. A credibilidade será o ativo central para quem busca sobreviver em meio ao “oceano de informações”, mas será necessário conquistar a confiança de um público que cada vez mais preza pela autenticidade e pela diversidade de vozes. O fim da era da mídia tradicional marca o surgimento de um novo poder, ainda em fase de adaptação e consolidação. A verdadeira questão será ver se o público continuará aceitando a supremacia dos algoritmos sobre a veracidade, ou se a busca por um jornalismo profundo e de qualidade levará a uma nova fase de evolução na comunicação digital, onde a credibilidade possa, novamente, ocupar o centro das atenções.