Data entra. Ego decide
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Foto: Acervo Pessoal
O Brasil está perdendo uma corrida silenciosa: a da retenção e atração de pessoas e capital que criam empregos, produtividade, inovação e riqueza. Desde 2022, a saída de milionários cresceu e deve bater recorde este ano. “E daí?” Daí que cada milionário que vai embora leva muito mais do que um CPF. Leva empresas, projetos, consumo, investimentos e, com eles, um pedaço do nosso crescimento futuro.
Começa pelo emprego direto. Cerca de 15% dos milionários são empreendedores e fundadores de empresas; entre os “centimilionários” e bilionários, essa proporção passa de 60%. Muitos deles abrem seus próximos negócios no novo país. As vagas nascem lá, não aqui. O efeito indireto amplifica o estrago: consumo que alimenta cadeias inteiras — turismo, gastronomia, varejo premium, construção civil, tecnologia, gestão de investimentos, seguros — esfria por aqui e aquece lá fora. Menos demanda local significa menos negócios locais, menos impostos aqui e mais arrecadação em outro CEP, que não fica no Brasil.
A perda patrimonial também tem efeito multiplicador. Investidores de alta renda irrigam o mercado acionário, dão profundidade à Bolsa de Valores, ancoram IPOs e lançamentos de debêntures e ainda financiam inovação. Quando migram, muitas vezes vendem ativos brasileiros, pressionando preços e reduzindo a riqueza de quem fica. Parte deles abre capital no exterior; parte passa a alocar sua poupança em outros mercados. A consequência é um círculo vicioso: menos capital local encarece o custo de financiamento por aqui, adiando ou impedindo novos projetos, piorando nossa infraestrutura e achatando a produtividade do trabalho e, por consequência, reduzindo salários por aqui.
Esse movimento respinga na classe média. Empreendedores de alta renda tendem a criar empregos qualificados, com salários acima da média. Se eles vão embora, o funil de vagas “boas” estreita. Some-se a isso o efeito cambial: ao transformar reais em dólares para emigrar, aumentam a demanda pela moeda americana, pressionando o câmbio e tornando mais caros bens e insumos importados — do remédio ao chip, do fertilizante ao software. Quem paga? Todo mundo que fica no país.
A boa notícia: dá para reverter esse fluxo de fuga de milionários. País forte e competitivo retém seus talentos e atrai os dos outros. Como? Primeiro, previsibilidade. Segurança jurídica, regras estáveis, mediação eficiente, prazos processuais que cabem no século XXI e carga regulatória mais simples reduzem o “custo de ficar”. Segundo, tributação que privilegia o investimento produtivo: diferimento de imposto para capital de longo prazo, isenções condicionadas a reinvestimento, reconhecimento de perdas e ganhos no tempo certo, neutralidade entre investir via bolsa, debêntures ou fundos. Terceiro, ambiente favorável ao desenvolvimento do capital humano: escolas técnicas e STEM, formando gente preparada na velocidade da expansão demanda; vistos e regimes especiais para quem empreende, investe e transfere tecnologia; programas de coinvestimento com fundos locais para ancorar startups e P&D.
Também precisamos de uma estratégia de ancoragem para quem já gera valor aqui. Planos de sucessão e “family offices” bem atendidos, governança simples para abrir capital no Brasil, crédito privado com prazos longos, e cidades que ofereçam qualidade de vida global — segurança, mobilidade, cultura, saúde e educação — porque talento decide com a família, não só com a planilha. É o combo que países vencedores oferecem para transformar “ficar” em decisão óbvia e “vir” em decisão desejada.
O objetivo não é “proteger milionários”; é proteger o ciclo virtuoso que eles acionam quando permanecem e investem: empresas que crescem, empregos melhores, produtividade maior, juros mais baixos e renda que se espalha. Quando o capital e o talento ficam, o país arrecada mais mesmo com alíquotas menores, a Bolsa fica mais eficiente, a taxa de câmbio oscila menos e a inovação é mais frequente. Reter e atrair essa turma é política industrial, fiscal e social juntas.
Se queremos um Brasil competitivo, precisamos parar de exportar quem cria valor e começar a importar valor. O roteiro é claro: previsibilidade, simplicidade, mérito, educação que forma para produzir e um ecossistema que transforme investimento em resultado. Quem fica — e quem vem — faz o país crescer. O resto é perda de patrimônio, de empregos e de tempo. E tempo, na economia, vale ouro.
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