Phygital evolui a conexão entre organizações e pacientes
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Por Mariana de Aguiar Buerger, advogada e consultora em compliance no Lamy e Faraco Lamy.
O colapso do Silicon Valley Bank (SVB), financiador destartups de tecnologia climática que operava sob o slogan de que “nós servimos àqueles que criam mudança ambiental positiva”, vem sendo referido como um duro golpe sofrido pela agenda ESG (Environmental, Social and Governance).
Logo após a notícia da queda, o colunista Andy Kessler declarou no Wall Street Journal, em meio a uma explicação financeira da ruína, que o banco “pode ter sido distraído por exigências de diversidade”, referindo-se a uma cartilha que destacava a diversidade de gênero, racial e de orientação sexual na composição da diretoria. Essepronunciamento, similar ao de Bernie Marcus, vem sendo citado por antiambientalistas e conservadores para desacreditar a defesa dos valores ambientais, sociais e de governança nas empresas.
Ocorre que essa noção de ESG como distração, no sentido de que a administração do SVB estaria focada demais na “agenda politicamente correta” para se ocupar do retorno aos acionistas, parece um recorte politicamente oportunista. Não que se deva descartar a crítica pertinenteà sobreposição de selos brilhantes às boas práticas de gestão, mas culpar a pauta ESG pelo colapso é um esforço retórico pouco conectado à realidade do banco.
Passadas as primeiras especulações das causas da queda, não faltam especialistas que indiquem que se tratou de uma falência desafortunadamente “banal”, devida a questões, em essência, de tesouraria. Em linhas grossas, a situação derivou de problemas de liquidez em uma onda de resgates, somados à incompatibilidade na maturidade de investimentos e depósitos.
Seja ou não esta a explicação, nenhuma hipótese técnica dada pelos economistas atribui responsabilidade pela falência aos investimentos do banco descritos como de impacto ambiental positivo.
Contudo, ainda que refutemos a retórica do ESG como distração, as informações que vieram à tona sobre a administração do SVB revelaram que a racionalidade por trás dos pretensos ideais sustentáveis de investimento priorizava os ratings de impacto ambiental e social (e a suapublicidade), mas ignorava o último elemento do acrônimo ESG, sem o qual os outros não sobrevivem: a Governança.
Aparentemente, a falta de Chief Risk Officer do banco entre abril de 2022 e janeiro de 2023 não alarmou seusmais de mil fundos investidores focados em sustentabilidade. Ainda, o quadro de executivos e diretores da instituição se desfez de US$ 84 milhões em ações nos últimos dois anos, e o fato não pareceu levantar bandeiras de inside trading aos stakeholders ou aos reguladores. E enquanto isso, na estratégia publicitária, brilhavam as letras E e S.
Nesse tumulto, seria possível recorrer ao recuo do Dodd-Frank Act, em 2018, para explicar parte do relaxamento nos mecanismos de governança do SVB. Entretanto, nenhuma hipótese de flexibilização regulatória parece justificar a particular negligência a riscos durante a maior parte de 2022. Naturalmente, seria ingênuo dizer que uma estrutura robusta de gerenciamento de riscos bastaria para evitar o ocorrido, mas é indiscutível que a falta dela é sintomática e pode, inclusive, ter corroborado as causas do colapso do SVB.
Enfim, a crítica de que a pauta ESG representaria uma distração em detrimento das boas práticas de gestão não prospera, sobretudo, porque a gestão de riscos é um pilar da governança sustentável – o G em ESG. A prática efetiva de valores ESG não é um problema; o focopublicitário e imediatista das pautas ambientais e de diversidade com desprezo à governança, sim. Assim, se as falhas na cadeia de governança desempenharam um papel sintomático na ruína do SVB, podemos afirmar duas coisas: primeiro, não existe sustentabilidade sem governança; segundo, selos brilhantes não substituem os deveres de supervisão dos riscos materiais.
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