Em live do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o médico e cientista Miguel Nicolelis fez um alerta: a pandemia não acabou. Ao contrário, está entrando em uma fase mais grave com a chegada da variante delta - surgida na Índia - ao Brasil.
"Há uma tentativa da mídia tadicional brasileira de remover a pandemia das manchetes", afimou Nicolelis. Ao mesmo tempo em que a variante delta - "uma modificação mais grave do vírus", como explica o cientista - tomou conta do Brasil, ela espanta pela velocidade da disseminação. Como exemplo, cita o Rio de Janeiro como epicentro dessa nova onda de contaminações.
Nicolelis pede atenção ao que está ocorrendo hoje em países como Israel e Estados Unidos, este último um termômetro para situação da pandemia no Brasil. Segundo ele, os movimentos observados nos Estados Unidos geralmente acontecem da mesma forma no Brasil de seis a oito semanas depois. Logo, a onda ocasionada pela variante delta nos EUA, que está tendo pico de internações e mortes, deverá explodir no Brasil em meados de setembro.
"Não podemos baixar a guarda e achar que a pademia acabou", esclarece o cientista, que critica a intenção de reabrir comércios, restaurantes e escolas com a capacidade total, como o governador João Doria tem feito. Confira o vídeo completo.
A cidade de São Paulo deve sofrer uma nova explosão de casos de Covid-19 a partir de setembro por conta do avanço da variante Delta do coronavírus, segundo análise feita por especialistas da USP e Unesp.
Os pesquisadores compararam dados de regiões de outros países onde a variante é dominante - mesmo com a vacinação já avançada - para projetar o que deve acontecer no Rio de Janeiro e na capital paulista nas próximas semanas.
O levantamento da Info Tracker levou em consideração os casos de Covid-19 por cem mil habitantes em Londres, Nova York e Israel. Segundo a pesquisa, o tempo médio transcorrido entre os primeiros registros da variante Delta até um aumento expressivo das novas contaminações foi de 80 dias.
"Decidimos olhar essas regiões do mundo para tentar encontrar um padrão nas curvas, e chegamos aos 80 dias. O Rio já passou esse período, então já entrou nessa escalada. Em São Paulo, temos 57 dias desde que os primeiros casos apareceram, então estamos nessa iminência", afirma o professor da Unesp, Wallace Casaca, um dos responsáveis pela Info Tracker.
A análise realizada em São Paulo afirma que o percentual da Delta é de cerca de 25% na Grande SP, mas laboratório parceiro do Instituto Buantan no sequenciamento do vírus já aponta que o valor vem crescendo.
Diante deste cenário, especialistas em saúde temem as consequências do fim das restrições da quarentena decretado pelo governador João Doria (PSDB) a partir de terça-feira (17), quando todos os setores da economia foram autorizados a funcionar sem limite de horário ou restrição de público. O uso de máscaras segue obrigatório no estado.
Bahia
Dias depois da confirmação dos primeiros três casos (com um óbito registrado) da variante delta na Bahia, o governo do Estado manteve em vigor as atuais medidas de prevenção e controle da pandemia, interrompendo por ora uma tendência de flexibilização observada nas semanas anteriores.
Shows e festas permanecem proibidos, independentemente do número de participantes. Por outro lado, também continuam autorizados eventos com até 500 pessoas, como cerimônias de casamento e solenidades de formatura, por exemplo.
O governo anunciou nesta terça-feira, 31, a prorrogação até 10 de setembro das atuais regras, definidas em decreto publicado no dia 20 de agosto. Antes disso, o Estado vinha aumentando sucessivamente o limite de público para os eventos.
No início de agosto, foram autorizados eventos com público máximo de 300 pessoas. No final de julho, a autorização era para eventos com até 100 ou 200 pessoas, a depender do índice de ocupação dos leitos de UTI.
A gestão estadual também manteve outro padrão adotado: nos municípios das Regiões de Saúde em que a taxa de ocupação de leitos de UTI se mantiver superior a 50% por cinco dias seguidos, os eventos não podem ter mais do que 100 pessoas.
O infectologista Igor Brandão prevê que a variante delta "terá um impacto maior" na Bahia com o passar dos dias, ao lembrar que a cepa já circula com infecções comunitárias em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio, a delta já corresponde a quase 90% das amostras sequenciadas geneticamente - há duas semanas, a variante estava relacionada a cerca de 60% das amostras.
Para o médico, o poder público está em uma espécie de "encruzilhada": para tentar atender a segmentos como o turismo e o entretenimento, termina "afrouxando" os protocolos por ter uma boa oferta de leitos e um avanço significativo na aplicação da primeira dose da vacina, mas com uma "preocupação iminente" em relação às variantes de atenção.
Na Bahia, 32% dos leitos de UTI adulto para pacientes com Covid-19 estão ocupados; na capital, este índice é de 25%. São os menores números registrados durante toda a pandemia. O estado tem atualmente 2.836 casos ativos.
"A gente deve ficar muito atento à variante delta, por conta de aumento da transmissão e pelos estudos em torno da vacinação ainda serem muito iniciais", afirma Brandão, ao destacar que infectados com a variante apresentam carga viral 300 vezes maior do que a cepa original, conforme ume estudo. Isso não significa, porém, que a variante é 300 vezes mais infecciosa.
Procurada, a prefeitura de Salvador informou que por enquanto também seguirá com as mesmas medidas, o que inclui limite de 500 pessoas em eventos. O avanço na flexibilização tem sido pauta frequente - e alvo de discordância entre Estado e município. Enquanto o prefeito de Salvador, Bruno Reis, sinaliza para possibilidade de realização do Carnaval e até mesmo do Réveillon, o governador Rui Costa tem adotado o discurso de que é prematuro tratar do assunto.
Na última semana, os dois gestores discordaram de forma mais explícita sobre o tema. Rui afirmou que as autoridades deveriam passar a "mensagem" de que ainda não era o momento para festas, dias antes da realização do primeiro evento-teste da prefeitura para avaliar a retomada do setor de entretenimento.
Mesmo prejudicado pela chuva, o evento-teste foi considerado pelo gestor municipal um "primeiro passo" para um possível retorno dos shows. Bruno também rebateu a fala do governador, ao dizer que Rui já havia realizado "o seu evento-teste", em referência aos atos do ex-presidente Lula com público em Salvador.