Debate sobre metano ganha força e expõe desafios da justiça climática no Brasil
Reflexão amplia foco da crise ambiental e coloca pecuária intensiva e trabalho dos catadores no centro das discussões sobre responsabilidade climática
Foto RedeMar
O debate climático começa a mudar de eixo. Sem perder de vista a urgência na redução do CO₂, especialistas voltam seus holofotes para um adversário ainda mais potente no curto prazo: o metano (CH₄), gás de impacto acelerado e profundamente ligado às desigualdades estruturais do país. A discussão revela contradições que atravessam economia, território e justiça ambiental, abrindo espaço para reflexões que vão além das emissões.
Um dos pontos sensíveis é o papel da pecuária intensiva, responsável por uma das maiores parcelas de metano lançadas na atmosfera por fermentação entérica. O setor, gigante na economia nacional, é cobrado por soluções tecnológicas que reduzam emissões, como aditivos alimentares, melhoramento genético e sistemas integrados de produção. A agenda também passa por regulamentação mais rigorosa e por um diálogo franco sobre padrões de consumo. O desafio permanece: quem arca com o custo dessa transição e como garantir que ela seja socialmente viável?
Do outro lado da contradição climática estão os catadores de materiais recicláveis, agentes ambientais que mitigam diariamente a liberação de metano proveniente de resíduos orgânicos em aterros e lixões. Ainda assim, seguem invisíveis diante do impacto que geram. A reflexão reforça a urgência de políticas que valorizem e formalizem o trabalho desses profissionais, com remuneração justa, direitos assegurados e reconhecimento institucional. Estruturar a coleta seletiva, investir em compostagem e extinguir lixões continua sendo uma agenda que não pode ser adiada.
O avanço das concentrações de metano, acelerado desde a Revolução Industrial, é motivo de alerta global. À medida que se busca conter os piores efeitos das mudanças climáticas, esse gás se torna peça-chave para resultados de curto prazo. Ampliar o debate, incluindo quem paga a conta e quem vive na vulnerabilidade dessa equação, torna a pauta climática mais complexa e mais urgente.