Gente

Autor baiano usa a escrita para superar doença

Escrita terapêutica: um caminho para a cura

Autor baiano usa a escrita para superar doença
Da Redação

Da Redação

10/06/2021 1:03pm

“Confrontar as emoções e pensamentos em torno de questões pessoais promovem a saúde física”. A constatação é do professor de psicologia da University of Texas, James W. Pennebaker. Uma forma de promover esse enfrentamento é com a escrita terapêutica ou, simplesmente, escritoterapia. Trata-se de um processo terapêutico de autoconhecimento e autoanálise, que tem a finalidade de propiciar um ambiente de liberdade expressiva.
Quem encontrou na literatura essa forma de tratamento foi o escritor e advogado soteropolitano Flavio A. S. Fernandes, que em 2018 teve um diagnóstico que mudaria o rumo da sua vida: era portador de policondrite recidivante – doença autoimune que provoca a inflamação das cartilagens. Para lidar com o problema, Flavio recorreu à literatura e levou o problema vivido na época para as páginas do livro Contos de Awnya: RAVEL.
Para falar mais sobre a doença, o processo de tratamento e a escrita do livro, Flavio concedeu a entrevista a seguir. Ele revelou detalhes inéditos da obra e ao final deixou uma mensagem inspiradora para os leitores.

Por que você decidiu, entre tantos gêneros, escrever uma fantasia? Teve algum escritor ou escritora como inspiração?

FASF: Fantasia, especificamente fantasia medieval, sempre foi meu gênero favorito. Desde pequeno me divertia com as histórias de “Willow na terra da magia”, Krull, entre outros. Na adolescência, através de jogos de RPG descobri Tolkien e foi amor à primeira vista (ou leitura!). Então, por amar tanto esse gênero não teria como ser diferente. Grande parte de meu repertório de histórias são ambientadas em mundos fantásticos, notadamente no mundo de Awnya. Minhas grandes referências como escritor são JRR Tolkien e Andrzej Sapkowski.

Quando e como surgiu sua paixão pelas histórias fantásticas?

FASF: Vem desde pequeno. Quando criança eu passava as tardes assistindo tokusatsus (seriados japoneses). Acredito que ali foi plantada a semente do fantástico em minha mente. Depois vieram os animes, os quadrinhos os jogos etc. A escrita foi um pouco mais tarde, surgiu quando e tinha 15 anos. Foi quando eu decidi escrever as primeiras histórias no mundo de Awnya. Muito influenciado pela leitura de O senhor dos Anéis de Tolkien.

Na história, Ravel é um mago que tem alergia à sua própria magia, quais desafios ele teve de enfrentar para chegar à autoaceitação? E na sua vivência pessoal, como isso ocorreu?

FASF: Alerta de Spoiler! Acredito muito que somos moldados pelo o que pensamos e no acreditamos. Então, eu trouxe para mundo de Awnya essa questão e fiz a metáfora com a magia. O mago precisa de uma mente afiada para conjurar feitiços. A partir do momento que essa mente adoece, sua habilidade também fica prejudicada. Então, os desafios que Ravel teve que passar, são aqueles que remeteram às suas próprias falhas. No meu caso, foi pura experimentação. A doença destaca os meus sentimentos e meu corpo. Percebi que a raiva, a ansiedade e o medo, a potencializavam. E, agora, controlada, ela “belisca” meu corpo. Se estou ansioso, sinto o joelho fisgar, a cartilagem da orelha esquentar, ou esterno doer, algo assim. Então, comigo foi um verdadeiro autoconhecimento. Compreendi como minha mente é capaz de me prejudicar. Assim, não foi forçoso imaginar o contrário, como minha mente pode me ajudar!

De que forma a escrita te ajudou a superar o diagnóstico da policondrite recidivante? Fale um pouco desse processo da escritaterapia.

FASF: O ato de escrever, para mim, já serve de terapia, pois é algo que amo fazer. Então tudo que te proporciona prazer, já funciona como um remédio que acalma, descansa e desestressa. Todavia, este livro em especial me ajudou porque eu precisei revisar em minha mente os fatos que antecederam o eclodir da doença. Com essa compreensão estou conseguindo lidar melhor com ela. Consigo me antecipar a crises e a superar as que não consigo evitar.

Qual é a principal mensagem que "Contos de Awnya: RAVEL" traz aos leitores?

FASFNossa mente, nosso poder! Esse lema das escolas de magias do mundo Awnya é repetido várias vezes durante o livro e eu acredito que ele resume bem a lição da obra. Cuidado com o que pensa, com o que deseja, com o que almeja. Cuide de sua mente, semeie pensamentos positivos e faça o bem. Às vezes, temos um peso escondido em nosso subconsciente que carregamos com dor e nem percebemos. Contos de Awnya: RAVEL é um convite para a reflexão sobre o peso que levamos sem nos dar conta de suas implicações materiais.

Como se deu o processo de criação do protagonista? Quais são as semelhanças que ele tem com você?

FASF: Eu adoro magos! Em jogos de RPG (onde se interpreta personagens) eu sempre interpreto um mago. Então, já era um desejo antigo escrever um livro com um mago sendo protagonista. Quando me veio a ideia de usar a doença para ser retratada no livro, nada melhor que um mago para conduzir essa mensagem, afinal, qual herói usa tanto a sua mente como fonte de poder como o mago?

Além desse lançamento, você pretende publicar outros livros ou uma continuação para a história?

FASF: Sim! As aventuras no mundo de Awnya estão só começando. No meu site flavioasfernandes.com.br tem uma aba de contos e um mapa do mundo. Ou seja, tem muitos lugares para serem explorados. A fantasia tem a grande vantagem de poder exagerar fenômenos do nosso dia a dia de forma que se tornem mais fáceis a sua compreensão.