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IOF em Alta: O Que Muda, Quem Sente e Como Podemos Avançar

Laura Guimarães é consultora financeira, mestre em Administração, fundadora da Mérito Consult e colunista de Economia e Finanças.

IOF em Alta: O Que Muda, Quem Sente e Como Podemos Avançar
Laura Guimarães

Laura Guimarães

02/06/2025 7:00pm

Foto: Acervo Pessoal

O recente aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado pelo governo federal no final de maio de 2025, reacendeu debates importantes sobre o custo do crédito, a competitividade do setor produtivo e a condução da política fiscal no Brasil. A medida, que busca reforçar a arrecadação em cerca de R$ 20,5 bilhões em 2025, eleva significativamente as alíquotas sobre operações de crédito, câmbio, seguros e investimentos, com efeitos já sentidos por empresas e consumidores.

Entre as principais mudanças, destaca-se o aumento da alíquota para crédito tomado por empresas, que passou de 1,88% para 3,95% ao ano. Pequenos empreendedores enquadrados no Simples Nacional também foram impactados: para eles, a taxa foi reajustada de 0,88% para 1,95% ao ano. No câmbio, a alteração foi ainda mais expressiva: a alíquota para remessas internacionais subiu de 0,38% para 3,5%. Já as contribuições de previdência privada (VGBL) superiores a R$ 50 mil mensais passaram a pagar 5% de IOF. (Fonte: InfoMoney, 29/05/2025)

A resposta dos mercados foi imediata. Analistas da XP Investimentos estimam que o impacto da medida equivale a um aumento de 0,25 a 0,5 ponto percentual na taxa Selic, hoje em 14,75% ao ano. Isso, na prática, significa um encarecimento adicional do crédito, com potencial de desaceleração do consumo e do investimento privado. O economista Alexandre Espírito Santo, da Way Investimentos, foi direto ao dizer: “O IOF é um tributo ultrapassado e com efeito recessivo. Esse movimento do governo equivale a um aperto monetário informal.” (Fonte: CNN Brasil, 30/05/2025)

Para setores como o varejo, que já enfrentam margens apertadas, o impacto é ainda mais sensível. A tributação de operações como o “risco sacado”, modalidade de antecipação de recebíveis, deve encarecer o capital de giro. Segundo o professor Cristiano Corrêa, do Ibmec-SP, “a medida cria um efeito cascata em toda a cadeia de consumo e pode pressionar os preços no curto prazo.” (Fonte: O Globo, 23/05/2025)

Mesmo entre os críticos, há quem reconheça o contexto de urgência fiscal que impulsionou a decisão. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que qualquer revisão das alíquotas deverá ser feita no âmbito de uma ampla reforma da tributação sobre o sistema financeiro. “Estamos conscientes dos impactos, mas comprometidos com um ajuste que respeite o equilíbrio fiscal e a justiça tributária”, afirmou à agência Reuters. (Fonte: Reuters, 02/06/2025)

No Congresso Nacional, a pressão por alterações segue intensa, especialmente por parte de setores empresariais e parlamentares da base aliada. Há um consenso crescente de que o atual modelo de tributação indireta, altamente regressivo, precisa ser revisto. A expectativa é que o tema IOF seja absorvido pela fase final da reforma tributária, cuja tramitação avança com prioridade no segundo semestre.

Apesar das dificuldades, é importante olhar para o cenário com espírito construtivo. A elevação do IOF, ainda que questionável em seus efeitos de curto prazo, coloca na mesa a urgência de reequilibrar a política fiscal sem sufocar a produtividade. Também evidencia o quanto precisamos de um sistema tributário mais moderno, previsível e menos dependente de medidas pontuais.

Como colunista de finanças e economia, vejo com otimismo o debate público que essa medida desencadeou. Quando a sociedade se engaja, fiscaliza e propõe alternativas, todos saem ganhando. Que este seja mais um passo — mesmo que incômodo — na construção de um ambiente econômico mais justo, eficiente e sustentável para o Brasil.