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Vacina já!

Vacina já!
Cláudia Giudice - Jornalista, escritora e mãe de Chico

Cláudia Giudice - Jornalista, escritora e mãe de Chico

29/04/2021 11:30am

Confesso que tremi. Há 30 anos, vivo de escrever. Há 30 anos, não enrolei tanto para fazer um texto. Minha procrastinação estava doente de COVID-19. Como divagar sobre prosperidade, se eu acordo e durmo sentindo o vírus no meu cangote? Não estou doente, acho. Mas dia sim, dia não, acordo achando que ele me pegou. Cada vez que recebo um zap no grupo dos amigos de escola com novos alertas e sintomas, sinto diferentes dores. Nas costas, nos rins, coceira na garganta, no nariz… Levanto- -me da cama para buscar o pão, que servirei no café da manhã da Pousada A Capela, sentindo TODOS os sintomas. Subo na minha bike e pedalo em direção à padaria testando os pulmões e a minha máscara. 

Outro dia, depois de assistir ao governador Rui Costa chorando na TV por causa do colapso das UTIs, entendi que acordar todos os dias para trabalhar é um modo intenso de perseverança. Sim, é possível perseverar em meio ao caos, ao pânico e ao desespero. Chega de mimimi. Seguirei em frente, portanto, neste texto, sem saber direito como ele terminará e se terá pé ou cabeça. 

Perseverar e prosperar podem ser causa e consequência. Logo, podem andar juntas ou não. Tenho uma amiga querida que lutou muito para abrir um café. Era um lugar lindo, aconchegante, acolhedor, com um cardápio ótimo, cafés excelentes e pequenos eventos muito interessantes. Ela trabalhava duro. Tinha perseverança, coragem e resiliência. Todos os ingredientes para prosperar. Mas aí começou a pandemia. Ela ainda perseverou. Fez promoções. Delivery. Descontos. Apelos. Mas o negócio era novo. As contas apertadas. A perseverança acabou. A prosperidade não veio. O Café Ravel está permanentemente fechado, avisa o Google. 

Na alegria e na tristeza, perseverança e prosperidade podem andar na mesma calçada, sim. Aqui, sentada na minha mesa preferida, ouvindo o mar, que hoje está forte e barulhento, penso que a dupla dinâmica anda colada se a sorte der uma pinta. O meu negócio é a prova viva disso. 

Quando o abri, ninguém normal apostaria um dólar furado que uma pousada de charme em Arembepe, a legendária vila dos eternos hippies, daria certo. Menos ainda que se tornaria um destino de paulistas, mineiros, cariocas, curitibanos, entre tantos. Menos provável ainda ganhar fama como um destino para casamentos descolados à beira-mar. 

Passados oito anos de muita perseverança e prosperidade na medida do impossível, confesso que tive sorte. Sorte de achar o lugar certo. Sorte de conhecer as pessoas certas. Sorte de acordar cedo e trabalhar duro. Sorte de ter poupança para os dias magros. Sorte de estar fazendo o que eu gosto a maior parte do tempo. De perseverar para seguir fazendo e prosperar para fazer um pouco mais. 

Fiz uma pausa e mandei o texto (na altura do parágrafo anterior) para a leitura sagaz de Chico, meu filho, revisor, editor e juízo final das minhas colunas. A resposta foi próspera. Chico: “Acabou? Acho que falta mais um parágrafo. Senão a sensação fica a seguinte: não adianta perseverar, porque a prosperidade demanda sorte. Daí é mais fácil ganhar na loteria ou investir em logros e enganos, não é?”. 

Pois é, Chico tem razão. Não basta perseverar para prosperar. É preciso vacinar. Por isso, mais uma vez, basta de mimimi. Encerro este texto exigindo saúde e vacina já, para que todos possam perseverar na vida e no trabalho e, enfim, prosperar.