Início de dezembro de 1987. Naquela época eu tinha apenas dez anos de idade. Com o boletim da escola em mãos – e com todo o planejamento das férias na cabeça -, fui conversar com o meu saudoso pai. A minha missão estudantil havia sido cumprida com louvor.
- “Parabéns, filho, foram as primeiras palavras de meu pai. “A partir de amanhã, você vai me ajudar lá na loja, pois o movimento de Natal é muito grande”, complementou.
O meu chão, naquele momento, se abriu ...Fiquei extremamente chateado, pois os meus planos do mês de dezembro haviam caído por terra ...
Ali começava a minha saga na “Loja Daiha”. Trabalhei em todas as funções possíveis: encher e ensacar bolas, varrer o chão, repor mercadorias, embalar as compras para presente, chamar os clientes para as “promoções de última hora” e (o que mais gostava) ficar no caixa.
Com o passar dos dias, aquele chão que havia sido aberto começava a se fechar. Isso porque comecei a perceber, a partir dali, o magnífico valor do trabalho e a importância do trabalho em equipe e do espírito de colaboração. Comecei igualmente a perceber o quão dura e difícil era a tarefa de meu pai, pai de família que, de forma digna e honesta, proporcionava, a todos nós de sua família, a vida feliz que nós tínhamos.
Todavia, o que mais me marcou naquele período de “profundo aprendizado”, foi a importância da solidariedade. Lembro, como se fosse hoje, cada velhinha pobre que vinha pedir esmola no caixa. Eu sempre olhava para meu pai que me acenava positivamente e, logo em seguida, eu entregava à senhora uma moeda, que me recompensava com um sorriso, seguida de uma frase de gratidão. A minha alma se aquecia ...
Ali, por simplesmente doar, percebi o verdadeiro significado da palavra “felicidade” ...
Mas a semente da solidariedade começou a “brotar” mesmo quando, já no horário do almoço da véspera do Natal, meu pai, como fazia todos os anos, reuniu todas as crianças e mulheres carentes da região e pediu que fizessem uma fila indiana. Era chegado o momento de retribuir por mais um ano de saúde vivido, dando àquelas pessoas um presente de Natal.
A fila se formou e, com ela, a confusão generalizada ... Todos avançaram nas caixas dos presentes, quebraram-nas e acabaram derrubando meu pai no chão, que se machucou na queda. Preocupado com ele, corri em sua direção e o ajudei a se levantar, perguntando-lhe se estava tudo bem. Abraçado a mim, ele sorriu e disse: “- Claro, filho, é Natal! Vamos para casa que sua mãe e seus irmãos estão nos aguardando.”
Hoje, no exercício da Superintendência da Fecomércio BA, tenho a honrosa oportunidade de relembrar esse episódio em meio a uma Campanha social do Sistema Fecomércio BA que, neste ano, completa exatos dez anos (justamente a idade que eu tinha à época): o Natal Solidário!
Idealizada por Juranildes Araújo, atual 3ª Vice-Presidente da entidade, a Campanha do Natal Solidário já angariou toneladas e mais toneladas de alimentos, matando a fome de milhares de pessoas ao longo desse período, além de arrecadar roupas, materiais de higiene e limpeza e brinquedos, destinando a pessoas efetivamente carentes e necessitadas, tudo isso através do Sesc Mesa Brasil, grandioso projeto de combate à fome, e com o apoio, nos últimos dois anos, do Instituto Liga do Bem.
O mote da Campanha deste ano é “Há 10 anos fazendo gente brilhar!”, homenageando, desta forma, tanto quem “doa”, como quem “recebe”, ambos brilhantes e dignos de aplausos!
Esperamos, neste ano, quebrar o recorde do ano passado e, com isso, espalharmos e difundirmos, ainda mais, a chama da solidariedade em todos os rincões do nosso estado.
Para tanto, contamos com a sua fundamental e indispensável ajuda para transformarmos, assim como aconteceu comigo, a vida de muitas pessoas! Viva o Natal Solidário!