Não tenho o hábito de tomar infusões, nem sou fina conhecedora de chás, mas durante este longo período de pandemia eu incluí esses fluidos na minha vida. Na Europa, o clima estimula a tomá-los quentes. No Brasil, a melhor solução é inventar bebidinhas geladas. Afinal, o ímpeto de driblar o tédio com vinhos, cervejas e afins, que muitos reforçamos na primeira onda da pandemia, traz consequências na balança e no nosso equilíbrio. Juntam-se quilos extras à ansiedade-ambiente!
Dessa constatação, derivou a vontade de bebidas sem calorias e com efeitos calmantes e curativos. Sempre encontraremos a solução nas plantas e melhor ainda se elas vierem dos nossos jardins urbanos. Frescas, as ervas nos acalmam e trazem boas energias desde o seu plantio até as nossas xícaras.
Como as aromáticas, plantas para infusões exalam cheiros gostosos e duram muito, pelo uso parcimonioso. Podemos, de uma planta, fazer várias jarras de bebida.
A maioria dessas plantas não faz parte da lista de supermercado. Elas tendem a ser as esquecidas das compras cotidianas. Não guardam seu frescor por muito tempo, ainda que conservadas na geladeira. E o charme de catar umas folhinhas na varanda e ir já para a cozinha não tem preço. Sentimo-nos quase como curandeiros zen. Então, mãos à obra ou, melhor, mãos à terra para criar seu canteiro de mimos para o corpo e a alma!
Capim-santo ou capim-limão
Já encontrei picolé e até geladinho de capim-santo em Salvador. Então, se você ainda não provou, é a hora! A receita leva basicamente folhas, açúcar e limão. Uma delícia que acalma, ajuda no sono, tem efeitos antioxidantes, digestivos, anti-inflamatórios, regula a pressão etc. Uma coleção de utilidades medicinais com o sabor de refresco de verão. Além de chá gelado, ele também tem ofício de banho de folha, limpando-nos por fora e por dentro.
É fácil de cultivar em vasos de boca larga (ao menos 30 cm). Compre mudas e plante-o em solo drenado, leve e fértil, e exponha à luz direta na varanda. O clima de Salvador é perfeito para ele, pois é quente e úmido.
Melissa ou ervacidreira
Calmante e relaxante, a Melissa officinalis herdou seu nome do grego, que significa “erva das abelhas”. É tão apreciada por elas que alguns apicultores a usam para atrair enxames. Na França de Luís XIV, os nervos das damas da corte eram tratados com uma bebida à base de melissa: “eau de mélisse”. Então, damas e senhores nervosos do século XXI e sujeitos a seus males, usem e abusem dessa infusão. É uma planta arbustiva perene e de cultivo simples, com altura máxima de 150 cm. Exposição ao sol ou à meia-sombra.
Erva-doce (Pimpinella anisum)
Esse é o chá que conhecemos desde a nossa primeira infância. Remédio contra cólicas na mamadeira, continua a ser eficiente durante o resto da vida, pois diminui a fermentação dos alimentos. Repele mosquitos também! Por seu gosto anisado, essa planta é também conhecida pelo nome de anis verde e é confundida com o funcho (erva-doce-de-cabeça): Foeniculum vulgare. Na Europa, mais serve de verdura, sendo inteiramente comestível. Bulbo, folhas e sementes. Adoro a salada de bulbo de funcho com laranja e azeite! Escolham a sua planta, pois as duas têm propriedades similares e ambas servem para infusões.
Gostaria de finalizar com dois ingredientes superconhecidos na cozinha, mas que ainda guardam segredos para a maioria. Esses rizomas do gengibre e do açafrão- -da-terra ou cúrcuma, bem feinhos quando os compramos para o consumo, escondem plantas lindas, com flores de ares tropicais. Hoje, eles entram em muitas receitas de smoothies e sucos verdes, e acabam pesando no orçamento para o consumo diário. Pois... nada mais fácil para cultivar. Corte pedaços de uns dez centímetros com um olhinho e enterre-os superficialmente. Espere em torno de sete meses e comece a colher. Jardineira larga para eles se espalharem e para facilitar a colheita paulatinamente. Beleza e saúde reunidas!