A COVID gerou a maior crise sanitária e humanitária no Brasil dos últimos 100 anos e já vitimou o equivalente à queda de 1.500 jatos. Apesar do esforço de muitos, essa tragédia anunciada continua fazendo vítimas em ritmo intenso, destruindo vidas, empregos, empresas e a esperança de muitos brasileiros.
Nesses últimos doze meses, a nossa população assistiu a um enredo de filme de terror, em que muitos foram os responsáveis para o nosso país deter a posição de segundo em maior número de casos e mortes no mundo. O Brasil fracassou na gestão da crise e o nosso povo está pagando um preço caríssimo por essas escolhas equivocadas.
Nós, empresários, não suportamos mais os toques de recolher, lockdown e medidas restritivas. São paliativos, às vezes necessários, mas que minam a nossa capacidade empreendedora, afastando investimentos e gerando tristeza, insegurança e ansiedade. Chega de contarmos, diariamente, o número de mortos por Estado ou região. Queremos trabalhar, empregar, criar oportunidades de novos negócios, viajar; e somente a vacina poderá nos oferecer essas alternativas.
Não existe outro caminho para resgatarmos a nossa economia, salvarmos vidas, empresas e gerarmos empregos a não ser um ambicioso plano de vacinação. Ágil, rápido e eficaz. Podemos fazer muito mais do que está sendo feito. O nosso Plano Nacional de Imunização (PNI) sempre foi um dos melhores do mundo, já foram mais de 300 milhões de doses distribuídas anualmente, em um passado recente. As nossas universidades e laboratórios possuem centenas de supercongeladores que podem ser utilizados para o armazenamento de vacinas. Temos a capacidade instalada, equipe técnica e estrutura para vacinar mais de dois milhões de pessoas por dia, mas, por falta de vacinas, estamos vacinando, em média, menos de 200 mil.
Uma sucessão impressionante de erros nos levou ao caos. Erraram o STE e o Congresso, que permitiram a realização das eleições; erraram os políticos que fizeram campanha como se não houvesse pandemia; erraram prefeitos e governadores que desativaram precocemente leitos e UTIs, não adotaram medidas eficazes de restrições no Réveillon e no Carnaval e não coibiram as aglomerações; errou a ANVISA em não desburocratizar os seus processos, atrasando a liberação de vacinas; e errou a população que, de forma irresponsável, insistiu em confraternizações, festas e paredões que contribuíram para a rápida disseminação do vírus e para o surgimento de novas variantes.
Já o Governo Federal, que acertou nas medidas econômicas no ano passado, errou pelo negacionismo e pela politização, pelos maus exemplos, ao apostar em medicamentos sem eficácia comprovada, ao falhar no planejamento e não negociar previamente a aquisição de vacinas, como feito pelos principais países do mundo, e ao criar empecilhos em negociações internacionais. Na Bahia, tivemos um raro exemplo de bom senso e maturidade, com o governador do Estado e o prefeito de Salvador deixando as divergências políticas de lado para unirem esforços em prol da vida. Mas, no geral, em um momento crucial da nossa história, muitos daqueles que tinham a obrigação de minimizar os efeitos da pandemia para todos os brasileiros falharam em seu dever principal.
Por politicagem, inércia ou incompetência, o vírus encontrou no Brasil um ambiente propício para causar os maiores estragos no mundo, uma falha de gestão histórica. Os danos causados nos marcarão para sempre, mas, felizmente, a pressão da sociedade civil, das lide - ranças empresariais e da imprensa está começando a dar resultados. Alterações de legislação, novos projetos no Congresso, a aquisição de novas vacinas e o apoio de empresas e empresários nos permitem sonhar com um segundo semestre melhor. Apesar disso, tenho esperança que a história e as urnas julgarão aqueles que, por culpa ou dolo, tenham contribuído para tanto sofrimento e, sinceramente, desejo que, por dever de justiça, todos os culpados sejam condenados