Quando a vida profissional dá voltas inesperadas (e boas)
Adalberto Prates Jr - músico amador, Bacharel em Ciências Contábeis e Administrador de Empresas, diretor comercial da Vetare Tecnologia em Vedações Ltda.
Em meados da década de 1970, eu estava com 11 ou 12 anos quando comecei o que agora chamo de “meu primeiro emprego” na loja de móveis do meu pai, a Simperbel (acrônimo de simplicidade, perfeição e beleza), na então distante Brumado. Meu turno de trabalho era das 8 às 12, pois à tarde ia para a escola (pública, gosto de enfatizar).
Além de passar espanador nos móveis e atender telefone, tinha duas atribuições bastante aborrecidas, que eram ir ao banco e fazer o leva e traz de documentos para a contabilidade.
Sentia um tédio danado de ver aquelas montanhas de papel sobre as mesas, quase sempre empoeiradas, do escritório de contabilidade, assim como achava enfadonha a atividade do caixa do banco, manuseando aquelas enormes fichas amarelas cheias de números, que ficavam atrás do guichê.
Sempre pensava comigo mesmo: “nunca serei bancário e nem contador”. Pensamento bastante razoável para quem sonhava ser artista da música, engenheiro ou inventor (acho que já vinha daí a minha admiração inconsciente pelo seu Osmar Macêdo, que à época eu nem sabia existir). A propósito, meu pai me contou anos mais tarde que Seu Osmar era o fabricante dos móveis de aço que eram vendidos na Simperbel.
A vida deu voltas (ela sempre dá) e, quis o destino, que eu me graduasse em contabilidade e ingressasse na carreira bancária.
A bem da verdade, nunca exerci a profissão de contador, embora tenha atuado academicamente por alguns anos como professor na graduação e pós-graduação na área. Tenho enorme respeito pelos contadores, mas continuo achando que não é a minha praia.
Bancário, sim, fui com muito orgulho. Felizmente, nos meus tempos já não havia mais as terríveis fichas amarelas (risos).
Quando entrei para o Banco do Brasil, em janeiro de 1983, ainda era um garoto de 19 anos que tocava num trio elétrico. Tive a petulância de pedir ao meu primeiro chefe (o saudoso Jorge Nery) uma folga na quarta-feira de cinzas (“sabe como é, né chefe? Tocar no carnaval é cansativo e tal...”). Levei uma enquadrada histórica dele: “Menino, você acabou de entrar no banco e já quer folga pra tocar em carnaval? Esqueça. Esteja aqui às 12 horas da quarta-feira, ou traga sua carteira profissional na quinta para fazermos sua demissão”. Foi pedagógico. Nas décadas que trabalhei no BB, nunca faltei um só dia e nem mesmo cheguei atrasado. Aprendi muito lá, onde me aposentei como Gerente de Agência.
O sonho de atuar na música ficou só na instância do amadorismo, fazendo algumas composições e tocando um ou outro instrumento, que digo que venho tentando aprender há 40 ou 50 anos.
Mais recentemente, em 2012, ajudei a fundar uma empresa que atua no ramo de reforma de edificações, com uso intensivo de tecnologia, o que de certa forma preenche parte dos meus anseios na engenharia.
Assim, entre a fuga do que não queria e a aproximação às coisas que o menino desejava, tem sido meus 60 anos de vida. Como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella, busco ser a cada dia minha melhor versão.