O bom marinheiro não se faz com mar calmo
Carine Cidade – Executive e Personal Coach, consultora empresarial, especialista em Carreira, Liderança e Times.
Durante a minha jornada profissional, percebi desde cedo a importância do autoconhecimento, da coragem para expor vulnerabilidades, e de confiar no meu potencial para despertar o que tivesse de melhor. Ouvi muita gente ao meu lado dizendo “o mar não tá para peixe” e, ficava matutando isso. Então, foi assim, mesmo sem “saber pescar”, fui atrás de aprender para conquistar a minha realização pessoal e profissional com este lema em mente: “o mar tem peixe, sim, mas só depende de mim fazer a boa pescaria”.
Tive uma infância maravilhosa, com férias em Jauá com meus primos. O mar e seus mistérios foram o cenário perfeito para explorar a minha imaginação fértil. Sempre tinha um plano, uma missão ou uma brincadeira para experimentar. Filha de pai arquiteto e mãe advogada herdei o dom da arte, a curiosidade e a facilidade de argumentação que usei como instrumentos para conquistar os meus objetivos. Aos cinco anos, fiz a minha primeira experiência no intuito de testar minha capacidade e força. Vestida de Mulher Maravilha confiante que era imbatível, dei um soco numa porta de vidro, sem nenhuma ideia dos problemas que poderia gerar. Resultado: 1 mês internada. Neste dia, tive a minha lição 1 de vida: A Mulher Maravilha também é vulnerável.
É claro que todos nós temos barreiras a superar e, no meu caso, foquei em trabalhar meu lado impulsivo, antes de ir pescar. Foi na dança e no teatro que conheci as principais ferramentas da pescaria: observação do cenário (onde vai ser a pesca), respeito dos espaços e o ritmo de cada um (pescador, ondas, mar, vento), preparação para o espetáculo (aprender a navegar, ouvir os mestres com atenção, a usar os instrumentos certos, treinar o arremesso do anzol, analisar cada erro, concentrar no objetivo e estudar o alvo), além, é claro, da disciplina e da autopercepção do meu comportamento para entender qual o propósito para me movimentar. Surgi a lição 2: As ferramentas só serão bem aproveitadas quando ampliarmos a nossa consciência e temos clareza do que desejamos.
Paralelo a arte, cursei a faculdade de Contabilidade. Aproveitei as oportunidades e conheci muita gente, mas, ao navegar neste mar, percebi que não era o ambiente certo para pescar o peixe que queria e senti a necessidade de me expressar de outra forma como profissional. Ouvia com frequência, dos meus líderes, que era uma profissional de conexões, promotora de oportunidades e influência positiva. Foi quando conheci o Marketing e me apaixonei. Fiz um MBA na área e depois, para me aprofundar em negócios, me especializei em Consultoria Empresaria na Thompson Management Horizons, quando morei em São Paulo. Meu foco sempre foi relacionamento e vendas. Atuei na Credicard e em grandes projetos de eventos, adquirindo autoconfiança e o autoconhecimento necessário para começar uma nova fase na carreira e cultivar a minha preciosa rede de relacionamentos.
Aos 28 anos fui convidada a representar uma empresa brasileira na Inglaterra, país que já conhecia por causa de um intercâmbio que fiz após a faculdade. Londres foi a minha segunda escola. Lá pude explorar bastante todos os meus conhecimentos, testar minhas habilidades, ampliar meu networking, tomar decisões importantes e amadurecer. Foi uma das fases mais desafiadoras da minha jornada.
Meu propósito, além de trabalhar, era fazer um Mestrado em Marketing. De repente, no meio do caminho, descobri um câncer de mama, aos 29 anos. Tudo mudou. Os ventos sopravam na direção contrária, mergulhei no desconhecido e despertei meu potencial resiliente e de superação usando toda força e determinação que tinha adquirido, para manter a esperança de seguir em frente na minha carreira.
Como dizem os ingleses: “Keep your chin up” (mantenha seu queixo erguido). Esta frase me inspirou a continuar a trabalhar, estudar, fazer meu tratamento e observar o que fazia sentido para mim com aquela experiência. E, foi neste contexto que fui convidada para produzir um evento pioneiro, em Londres, em plena Picadilly Circus: a primeira festa sertaneja com o apelo “Matem a Saudade do Brasil”. Foi uma festa sertaneja com sotaque baiano, com camisas e chapéus personalizados, bebidas brasileiras, espaço fechado e DJ de Goiânia. Um luxo! Tive seis meses de quimio e seis meses de absoluto sucesso, abrindo portas para outros eventos com a mesma proposta. Marcou minha trajetória e tive como lição 3: Desistir é uma questão de escolha.
Voltei para o Brasil com a consciência que minha paixão era despertar o melhor nas pessoas encorajando-as a realizarem seus sonhos e planos. Estava mais segura, madura e com a clareza do meu propósito. Antes do retorno, planejei minha carreira, assim como, hoje, faço com meus clientes, ajudando-os em suas trajetórias profissionais e projetos. Trabalhei com pessoas criativas, inspiradoras, determinadas e visionárias, que contribuíram para consolidar mais de 18 anos de experiência, atuando com gestão, consultoria e coaching. Nesta caminhada atendi diversas empresas nacionais e multinacionais como Solar, Odebrecht, Danone, Heineken, N&A Consultores, Enel Green, Unigel, Grupo Alves e Cunha assessorando executivos de diferentes áreas a gerarem resultados na gestão de carreira, no desenvolvimento da liderança e de times. Hoje, sou especialista em carreira e liderança, faço atendimentos e treinamentos com base na metodologia que criei chamada SER – Sentir, Entender e Realizar que envolve diálogos estruturados, estratégias de coaching e marketing, acionando o potencial de todos que me procuram a encontrar o seu peixe”. Por isso, só tenho de agradecer e sentir orgulho dos executivos que recoloquei e que se tornarem meus parceiros, bem como das empresas que ajudei a perceber e desenvolver negócios, líderes e equipes.
Agradeço aos meus mestres de jornada e a revista Let's Go Bahia por nos convidar a refletir sobre nossa história.