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O bem só faz bem

Roberto Sá Menezes – Economista, Fundador e Presidente do Grupo de Apoio à Criança com Câncer – Bahia (GACC-BA)

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Coluna Business Bahia

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18/06/2022 4:00pm

No período da infância surge a possibilidade de construir o nosso alicerce, a base onde serão consolidadas as estruturas para a vida adulta. A inspiração para ajudar o próximo chegou para mim justamente na infância, aos 8 anos, quando tornei-me doador do Instituto de Cegos da Bahia, e, posteriormente, na adolescência, ao reunir donativos para colaborar com as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Acredito que ali eu já estava plantando uma semente que alimentaria minha vida por muitos anos e que hoje intitulo de missão. 

Sou economista pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialista em Gestão de Iniciativas Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciei carreira profissional no Centro Industrial de Aratu e na Esso Brasileira de Petróleo. No Banco Nacional de Habitação (posteriormente incorporado pela Caixa Econômica) ocupei cargos de assessoramento e chefia. À disposição do Governo do Estado, atuei na Secretaria de Saneamento, na Secretaria de Irrigação e Recursos Hídricos e na CONDER. Mais tarde, à disposição da prefeitura do Salvador, tornei-me Secretário de Governo, presidindo também o conselho de administração de várias empresas. Fui, ainda, secretário extraordinário de Assuntos Corporativos na prefeitura de Camaçari.

Minha vida mudou completamente em 1985, quando fomos surpreendidos com o diagnóstico de um linfoma no meu filho mais velho, à época com 9 anos. Apesar da angústia que vivemos, meu filho teve a oportunidade de encontrar os melhores tratamentos e obter a tão sonhada cura. Dra. Nubia Mendonça, oncologista pediátrica que o tratou, esteve conosco desde o início e relatava que crianças pobres, oriundas do interior do estado tinham dificuldades de acesso ao tratamento na Capital, bem como, sua continuidade, transporte e hospedagem. Nossa ideia, desse modo, foi de montar uma casa exclusivamente para abrigar esses pacientes e seus responsáveis, tornando assim o tratamento mais efetivo, evitando interrupções e aumentando as chances de cura. Os médicos, pais e amigos de crianças que tiveram câncer e eu sentíamos a necessidade de ajudar outras famílias. Foi com este propósito que nasceu, em 5 de janeiro de 1988, o Grupo de Apoio à Criança com Câncer – Bahia (GACC-BA). 

O nosso sonho tomou forma com a primeira sede, no bairro de Nazaré, uma casa simples, com apenas dois pisos e 4 quartos. Com o aumento dos serviços, adquirimos outro imóvel, em 1993, mas que não demorou a se mostrar insuficiente. Naquela época, eram poucas as casas de apoio para a quantidade de crianças que precisavam de ajuda. Com este cenário, surgiu a necessidade de construir uma sede maior, outro sonho concretizado em julho de 2000, com a doação, em 1998, de um terreno de 4.500 m² pelo Monte Tabor - Centro Ítalo Brasileiro de Promoção Sanitária e ajuda de empresas, doadores pessoas físicas e principalmente do Fundo Social do BNDES. 

Hoje, atendemos cerca de 240 crianças e adolescentes por mês, além de seus acompanhantes, oriundos da capital e do interior. Oferecemos, gratuitamente, hospedagem, alimentação, transporte, assistências social, odontológica, fisioterapêutica, nutricional, psicológica e apoio educacional. Desenvolvemos, também, atividades lúdicas e artísticas, em espaços modernos e estruturados, a exemplo da biblioteca e brinquedoteca. 

O tratamento do câncer infantojuvenil é uma pauta que precisa ser prioridade, sobretudo em relação à importância do diagnóstico precoce como um dos principais responsáveis pelo aumento das chances de cura. Um passo importante para a melhoria das condições do tratamento dos pacientes foi dado em 2008, com a criação da Confederação Nacional de Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer (CONIACC), da qual fui um dos fundadores e presidente. A CONIACC congrega 47 instituições de todo o país, sendo o GACC-BA uma de suas filiadas, e está à frente de diversas ações que lutam ativamente pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Foi a partir desta mobilização que conseguimos a implementação da Lei 14.308, sancionada em março deste ano, que instituiu a Política Nacional de Atenção à Oncologia Pediátrica. Está é, sem dúvida, uma vitória representativa para a oncologia pediátrica do nosso país. 

O reconhecimento pessoal nunca foi um objetivo, já o sentimento de poder colaborar com um mundo mais justo e digno, sim. Durante todos esses anos de empenho ao lado dos voluntários, colaboradores, doadores, parceiros e amigos, nossa instituição foi prestigiada por importantes iniciativas, como o Prêmio Bem Eficiente – em 1998, 2001, 2004 e 2006. Passados quase 35 anos, me alegro em saber que somos considerados uma das 100 Melhores ONGs do Brasil, nos anos 2020 e 2021, a partir de uma avaliação criteriosa envolvendo gestão, governança, sustentabilidade financeira e transparência para a sociedade, como também a chance de assistir o crescimento das crianças que, após absorver todos os estímulos que proporcionamos como passaporte para um futuro promissor, são, hoje, excelentes profissionais, mães e pais de família. 

Além da minha entrega com a causa do GACC-BA, também desenvolvo outras atividades como empresário e já estive, ainda, à frente de importantes instituições que marcaram minha trajetória, como aconteceu em 2002, quando passei a integrar a Santa Casa de Misericórdia da Bahia e tive a oportunidade de vivenciar de perto a instituição que eu já admirava. Em 2005, ocupei os cargos de tesoureiro, e posteriormente, mordomo diretor de saúde. Nove anos depois, durante dois mandatos, 2014/2016 – 2017/2019, fui eleito provedor. 

Durante os mandatos, atuei estrategicamente na melhoria dos processos de trabalho, mantendo a tradição e o espírito de inovação que marcam a trajetória da Santa Casa. Neste período, a instituição viveu uma nova fase de crescimento, modernização e qualificação dos serviços, além da melhoria dos espaços físicos e equipamentos. Firmamos, como importante instrumento de trabalho, um convênio com a Fundação Dom Cabral para a realização de planejamento estratégico, elaboramos plano diretor de informática, além de um programa de desenvolvimento de dirigentes, plano diretor de projetos e obras, investimento contínuo em projetos de humanização e na capacitação continuada dos colaboradores. Fomos o primeiro hospital a realizar cirurgia robótica na Bahia, conquistamos, ainda, importantes certificações de qualidade, como a Acreditação Canadense Qmentum International e a classificação máxima (nível 7) Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS) EMRAM 7 (hospital 100% sem papel), dentre outros importantes resultados que permearam minha passagem ocupando este cargo tão desafiador e que impactaram positivamente a vida das pessoas que usufruem dessas melhorias. Na Santa Casa, após a experiência como provedor, continuo colaborando como membro do conselho de Administração (Definitório) e, na Associação Obras Sociais Irmã Dulce (AOSID), integro a Assembléia Geral e o Conselho Fiscal, já de algum tempo.

Sempre fui um defensor perseverante do trabalho e tenho isso carimbado na minha trajetória. Recebi diversos prêmios, recheados de grandes referências, que me deixa muito feliz e honrado. Em 2016 e 2017, fui reconhecido como uma das 100 pessoas mais influentes da área de Saúde na categoria Filantropia. Em 2017, fui homenageado na primeira edição dos 100 Mais Influentes da Saúde no Mundo em cerimônia realizada na Alemanha; em 2019, voltei a ser lembrado com o título, dessa vez na categoria Referência e, em 2019, recebi a comenda 2 de Julho conferida pela Assembleia Legislativa da Bahia.

A minha história traz a certeza de que o exercício coletivo é capaz de tornar realidade muitos projetos de impacto na vida das pessoas. O Grupo Business Bahia é um exemplo desse esforço e tem se empenhado, ao integrar gestores e empreendedores locais, na valorização das atividades e serviços desenvolvidos no estado. O GACC-BA faz parte desta luta e conclama que os empresários estejam mais atentos às causas defendidas pelas instituições da Bahia.

Um filme passa pela cabeça. O bem, edificado com trabalho e dedicação, inspirou esses encontros e experiências. Sou grato por tudo e desejo continuar nutrindo esta missão com o olhar sempre atento a quem possa precisar.