Colunas

“Gato nascido no forno não é biscoito”

Gabriel Venturoli - Administrador de Empresas, diretor da LA Pré-fabricados e acionista da Holding Venturoli.

“Gato nascido no forno não é biscoito”
Coluna Business Bahia

Coluna Business Bahia

21/08/2021 10:00am

Sempre escutei meu pai falando isso desde pequeno e não conseguia entender exatamente o que queria dizer. Segundo ele, se tratava de uma frase muito repetida por meu avô em referência aos, assim como ele, filhos de imigrantes italianos nascidos no Brasil. Meus pais, vindos do interior de São Paulo, chegaram à Bahia comigo na barriga de minha mãe em 1984, ano em que nasci. Aqui, eu e minhas duas irmãs mais velhas fomos criados desde pequenos com uma forte ética de trabalho e empenho (até as cantigas infantis tratavam de temas laborais). Tivemos uma infância simples em Itapuã mas nossos pais sempre se esforçaram para nos prover bons estudos.

Meus pais chegaram em Salvador como aventureiros em busca de um lugar ao sol, sem família aqui e com poucos conhecidos. Em 1988 fundaram a Venturoli, empresa pequena e familiar, a qual, décadas depois, veio a se tornar líder de mercado no Norte / Nordeste no segmento de eucalipto tratado para a construção civil. Todos os três filhos estudaram administração de empresas mas cada um tomou seu rumo ao se formar. Em 2006, ano em que concluí o curso, meu pai e seus sócios decidiram fundar uma unidade de pré-moldados em Camaçari e fui convidado para gerenciar a implantação e operação da empresa. Era um grande desafio para mim: começar tudo do zero, formar uma pequena equipe de trabalho em um segmento que pouco conhecia. Abracei o desafio e 15 anos depois me orgulho muito dos resultados alcançados. Hoje, a LA Pré-Fabricados conta com 100 funcionários e é referência no setor de estruturas pré-fabricadas (postes, galpões, estruturas prediais e peças especiais para obras de infraestrutura). 

Lógico que toda história de sucesso tem diversos pontos-chave mas se pudesse destacar um, certamente seria a capacidade de cumprir contratos com uma visão de longo prazo. Explico: desde quando ingressei no mercado, cansei de escutar histórias de prestadores de serviço que não cumpriam o prazo prometido ou mesmo de empresas que entregavam produtos com algum problema e que impunham uma série de complicações para resolver a questão (quando resolviam). Penso que isso deriva de uma visão imediatista de “não querer ter aquele prejuízo naquele pedido” ou de “não poder perder aquela venda”. Acho que isso é um erro colossal. O maior ativo de uma empresa é a sua reputação e errar faz parte da natureza de empreender, só não erra quem não arrisca. Sendo assim, cumprir o que foi prometido, ainda que isso implique em eventualmente perder alguma venda ou mesmo tomar um prejuízo para ressarcir ou corrigir um problema causado pela empresa é fundamental para gerar confiança nos clientes. E clientes satisfeitos são a melhor propaganda que uma empresa pode ter. A prosperidade vem da constância, da solidez de passos bem dados na direção correta.

Quando comecei a trabalhar tinha planos de me aposentar com 40 anos. Hoje estou com 37 e não pretendo me aposentar mais. O senso de realização é essencial para manter a chama acesa, movendo nós mesmos e o resto do mundo. Estou concluindo o mestrado em economia e pretendo passar um pouco do meu conhecimento para a turma que vem chegando. Formalmente, já não sou mais o único baiano da família depois que me casei com uma baiana e tive dois soteropolitanos com ela: Matheus e Giovanna. Afinal, acho que meu avô estava errado: gato nascido no forno é biscoito sim! Atualmente, somos todos baianos, de meus pais até os meus filhos!