A felicidade está no equilíbrio e na determinação

Nasci em Quilmes, Buenos Aires, cidade conhecida pela cerveja. Com 6 anos cheguei ao Brasil com meus pais e meu irmão Guillermo (com 3 anos). Meu pai recebera um convite para liderar a planta de polimerização da DeMillus, fabricação de roupa intima feminina. O ano era 1973, Rio de Janeiro, a “cidade maravilhosa”. 

O começo não foi fácil, éramos só nós quatro e mais ninguém. Cheguei para ser alfabetizado. O idioma foi um desafio: aprender a ler e escrever numa língua então estranha foi complicado. Minha mãe se esforçava para me ajudar e ditava os nomes que eu deveria escrever ao lado dos desenhos no livro. Ela dizia: “Meu filho, escreva “tenedor” (ao lado da figura de um garfo), e seguia: “anteojos” (ao lado do desenho de um par de óculos). Enfim, fomos convocados pela escola e pediram que ela parasse de tentar me ajudar.  

Seis meses depois, já escrevia e falava como se nativo fosse. Ainda falo espanhol com fluência, com minha mãe, irmãos e primos e quando o trabalho me requisita. 

Cresci nas ruas da Ilha do Governador, sem celular e sem medos, ao lado dos amigos do bairro. As brincadeiras eram as mesmas para todos os meninos que hoje estão com cerca de 50 anos: futebol na rua, bola de gude, pipa, bicicleta, etc. 

Aos 12 anos, mais um desafio: nos mudamos para Salvador, novamente seguindo os rumos profissionais do meu pai. Desta vez, atendendo a um chamado do polo petroquímico que recém iniciava suas atividades. 

Aqui, em Salvador, um ano depois nasceu minha irmã: Maria Marta, mulher, baiana e retada, 13 anos mais nova que eu. Cuidei dela muitas vezes quando meus pais precisavam sair. Temos uma família forte e inseparável. Estamos sempre juntos nos finais de semana. Nos divertimos fazendo churrasco, cozinhando, tomando uma cerveja e conversando amenidades. Em 2011 perdi meu pai em decorrência de uma doença de ordem vascular, que o levou. Nos deixou muito cedo, teria hoje 81 anos. Não levou nada com ele: nos ensinou tudo que aprendeu nesta vida, e não foi pouco. Dele, guardo lições repletas de sabedoria, conversas para sempre registradas no coração e, principalmente, alguns valores inegociáveis. Dona Martha, minha mãe e tão querida por todos, segue conosco mais forte e mais firme do que nunca. 

Em Salvador também conheci Maria Ângela, psicanalista, bailarina, minha esposa e companheira há 31 anos, mãe dos meus filhos: Henrique (26), advogado brilhante, inteligente e independente, de quem tenho um orgulho imenso; e Bernardo (22), artista plástico de muito talento. Bernardo é portador do TEA (Transtorno do Espectro Autista), o que faz dele um ser humano único, apaixonante e mais do que especial.   

Foi aqui na Bahia onde construí a minha vida profissional. Me formei em Administração, fiz MBA na Fundação Getúlio Vargas – FGV, Mestrado na Universidade Federal da Bahia – UFBA, e também pude estudar na Fundação Dom Cabral e no INSEAD (escola de negócios) em Fontainebleau, na França. 

Minha carreira começou na controladoria da COBAFI, no polo petroquímico. Aprendi cedo os principais conceitos inexoráveis, para que qualquer negócio avance de forma sólida e permanente. Em 1993, recebi um convite, do até hoje amigo, Ney Silva, para trabalhar na equipe dele, na CPC (primeira célula da Odebrecht na indústria química), e em 2002 recebi o chamado da Tronox (à época Millennium) para assumir o departamento de Supply Chain no Brasil e América Latina, onde permaneço até os dias atuais, também ocupando uma cadeira no conselho de administração da empresa. 

O meu dia a dia é preenchido por negociações de grandes aquisições, serviços e contratos. Lidero e tenho ao meu lado uma equipe de profissionais da mais alta qualidade, maduros, competentes e comprometidos. São o alicerce do sucesso que temos obtido ao longo de todos estes anos trabalhando juntos. Me orgulho muito de tê-los escolhido e com cada um aprendo sempre um pouco mais. Adicionalmente, divido minha experiência com atividades profissionais paralelas: Dou aulas de pós-graduação em algumas Universidades baianas e do Norte-Nordeste. Fui diretor da ABRALOG e atualmente sou o presidente da USUPORT (Associação do Usuários dos Portos da Bahia) que reúne mais de 35 empresas de grande e médio porte.

Foi também aqui na Bahia onde encontrei os amigos, com quem seguramente seguirei até o final, já não importando mais as mudanças que a vida ainda me reserve. Não citarei nomes, eles sabem quem são. 

Adoro cozinhar, tomar vinho, e estar perto de pessoas queridas. Tenho a música como um hobby: gosto de tocar violão, cantar e desde 2019 formamos, eu e mais três amigos, uma banda de Rock (anos 80) onde toco e também sou o cantor. Se chama @banda.ontherock (Instagram). Ensaiamos sempre às segundas feiras, dia que para muitos é entediante mas que para mim é esperado com ansiedade (não há nada que me deixe mais relaxado e feliz).

Não tenho religião, não tenho. Acho que tudo acaba em nosso último dia de vida e por isso faço minha parte neste plano. Ajudo a todos os que posso, converso muito com meus filhos, com minha esposa, com minha família, com meus amigos e me esforço para ser um bom exemplo para todos com quem convivo. Tento equilibrar minha vida entre família, trabalho, amigos e lazer. Com o passar do tempo, fui percebendo o quão breve é a vida. Passa sem que percebamos que o tempo voa e é a única coisa que não se pode recuperar. Tenho me desfeito de vaidades, de todo bem material do qual já não preciso, e me voltado mais para mim e para as pessoas. Preciso de muito pouco para ser feliz e, das poucas certezas que tenho, sei que ser feliz é o que realmente importa. 

Agradeço ao amigo Carlos Falcão por ter me incentivado a escrever este pequeno relato e à Revista Let´s Go Bahia, pelo espaço neste veículo, tão singular, ocupado sempre por pessoas especiais.