Não estou aqui a passeio.
É muito bom quando a gente toma consciência do porquê de estarmos aqui e agora.
Venho de uma família de classe média baixa que, desde cedo, aprendeu o valor do estudo, do trabalho, da espiritualidade, da verdade e do respeito. E, também, a diferença entre valor e preço. Todos esses aprendizados contribuíram para eu me tornar a pessoa que sou hoje. E estou feliz e grata pelo meu momento e consciência atual.
Minha mãe foi exemplo de trabalho e espiritualidade. Obrigava a gente a fazer o evangelho com ela todo domingo, às 8h da manhã. A gente mal sabia ler, então ela aproveitava para os filhos treinarem leitura e interpretação. Meu pai foi exemplo de força e gentileza, ao mesmo tempo. A nossa conexão transcendia... quando a gente se olhava, ambos os semblantes mudavam; éramos almas afins. Ou melhor, somos! Embora ela tenha partido, fisicamente, eu era e sou “a filha do pai”. E eu amo ser filha dele. Dá saudade, mas olho para o alto e ainda solto beijos e envio boas vibrações para que ele receba onde estiver. Seu destemor físico e enfrentamento ‘dentro do que os homens aprenderam e ouviram a vida toda – seja forte! – me moldou’, aliado ao que minha mãe sempre dizia: “não traga desaforo para casa!”.
Estudei em colégio de freira até a antiga alfabetização (me traumatizou), depois colégio normal, colégio de freira de novo da 6ª à 8ª série (já me posicionava, como qualquer adolescente... rsss) e depois escola normal de novo. Na hora do vestibular, me deparei com a dúvida de boa parte das pessoas aos 17 anos: o que fazer? O que queria ser?
Não sabia se queria ser atriz ou apresentadora/jornalista. Minha mãe e madrinha tinham uma expectativa para mim, que boa parte das famílias têm: ser médica ou advogada. Como ver sangue estava descartado, me pressionaram para fazer vestibular para Direito, mesmo contra a minha vontade que, naquele momento, não fiz valer. Cedi. E... perdi o vestibular. Decepção total... “Como assim você perdeu?”, “Uma ótima aluna, estudiosa, inteligente...”, ninguém entendia, só a minha alma. Tentei de novo e perdi... até ter coragem de virar para as duas e dizer: “Eu não quero e não vou fazer Direito!”. Dou graças a Deus, pois não tem nada a ver comigo.
Enfim, decidi fazer vestibular para Comunicação, com habilitação em Jornalismo. No início da faculdade, quando vi o salário de um jornalista, em Salvador, percebi que ‘morreria de fome’ e decidi empreender. Tirei a minha Carteira de Trabalho aos 18 anos e tenho orgulho de dizer que ela é virgem. Rsss... Comecei a trabalhar com freelancer e, no meu primeiro job, ganhei 1/3 de um salário-mínimo em um dia de trabalho. Nesse momento, decidi que não teria emprego e trabalharia para mim. Comecei a organizar eventos corporativos em 1998 e 18 meses depois, abri a minha empresa de eventos corporativos. Era julho de 2000.
A Duetto Eventos e Consultoria foi uma escola de negócios. Tive oportunidade de atender grandes empresas, locais, nacionais e internacionais, realizar projetos no Brasil e no exterior, e trabalhar sempre com diretores e CEOs. Cresci e aprendi muito nesses anos de atuação ininterrupta. Fiz amigos, me tornei quem sou, conheci pessoas que me ensinaram e outras com quem pude compartilhar um pouco do que sabia. Mas, o que gosto mesmo, é de contribuir para as pessoas desenvolverem o seu pleno potencial.
Em 2005, comecei a ter inquietações, que se concretizaram em ações, a partir de 2007. As dificuldades e conflitos que todos os meus amigos(as) e eu enfrentávamos em família, me inquietavam e eu fiquei me perguntando “o que poderia fazer e como poderia contribuir para aliviar as tensões, conflitos, desentendimentos e dores das pessoas” e minhas também. Sempre gostei de gente. E sempre observei muito as pessoas e as suas reações quando dialogavam. Foi aqui nesse ano que concebi o Cabeça de Homem.
Quem me conhece sabe que converso ‘olho no olho’, sempre, e que observo e capto a micro mímica corporal de cada um com quem interajo. Esse comportamento, aliado ao meu interesse e curiosidade pela psicologia, me renderam um repertório que contribuiu para o meu momento atual e diferencial: ter a plena noção do que nos tira do prumo e do que nos conecta, horizontalmente.
Percebi que o que tira as pessoas do prumo são as questões emocionais e existenciais não resolvidas. E, mais, que os homens não tinham nem licença e nem ‘permissão social’ para expressar e vivenciar as suas emoções como medo, alegria e afeto. O resultado desse comportamento social masculino, fruto de um aprendizado equivocado de que os homens têm ‘o suposto poder de escolher ou controlar sentir emoções’, são os desequilíbrios, agressividades e violências que imperam hoje, não só no Brasil, como no mundo. É preciso atuarmos para mudar essa realidade.
Ainda em 2005, comecei a estudar sobre comportamento masculino, com foco em trabalhar essa temática quando chegasse na 3ª idade. Não consegui esperar. Em 2013, percebi que tinha acumulado um vasto repertório e compreensão da alma masculina, após tanta convivência, entrevistas, bate-papos, leituras e desconstrução. Entendi por que – homens e mulheres – estamos no ponto em que estamos.
Desenvolvi um conceito e metodologia proprietários, que registrei, e em outubro passado recebi um convite/provocação (que vinha se repetindo desde 2010, quando finalizei a minha 1ª especialização em Psicologia), para fazer mestrado. Aceitei o desafio, participei da seleção e, não só passei entre os primeiros colocados, como também fui contemplada com uma bolsa de estudos. Podem me perguntar se foi sorte e direi, veementemente, que NÃO! Pois, estudo sobre Masculinidades desde 2005.
Começo a colher os resultados do meu investimento. Desenvolvi os meus primeiros produtos: uma palestra e um programa sobre Equidade, Diversidade e Inclusão sob um novo paradigma, tendo os homens como ponto de partida para a criação de uma sociedade mais equânime, além de uma websérie com episódios diários, que começarei a comercializar, em breve. Os primeiros clientes do eixo sul-sudeste do país, já começam a ver o impacto de um novo paradigma de atuação. O foco do meu trabalho é levar informação diferenciada, conhecimento e ferramentas para que cada pessoa possa entender os seus porquês e transformar a sua realidade e, consequentemente, trazer mais lucro para as organizações.
Como eu mesma disse no título desse perfil, eu nasci para fazer uma R.Evolução: a revolução do masculino, em homens e em mulheres. Estudo e trabalho para contribuir com a transformação das nossas heranças sociais/culturais/históricas/familiares negativas, que não têm mais utilidade e espaço no século XXI. O mundo mudou, as mulheres estão mudando e, agora, os homens começam a perceber que é muito melhor aliar razão e emoção, pois uma vez que as emoções são inatas e não passam pelo cérebro, nem o homem mais inteligente, culto, forte e/ou rico tem o poder de escolher senti-las, tampouco, controlá-las. E, como bem ensinou Daniel Goleman no livro “Inteligência Emocional”, um homem sem gestão emocional, perde facilmente a razão. Então, avancemos juntos, homens e mulheres, contribuindo de forma equânime com o melhor que cada um tem a oferecer. Vamos fazer uma R.Evolução para Evoluir. Vamos juntos?
O Eu Sou que há em mim saúda o Eu Sou que você é. Namastê!
Maiara Liberato é jornalista e empresária. É pesquisadora de Gênero, com foco em Masculinidades. Atual mestranda na pós-graduação em Família na Sociedade Contemporânea (UCSAL) e integrante do NEDH – Núcleo de Estudos sobre Educação e Direitos Humanos. Tem especialização em Psicologia Organizacional e formação em História de Vida. É uma amante da vida e das pessoas.