Lembro com felicidade da minha infância no Imbuí, no início da década de 80, quando o bairro ainda era de classe média baixa. Gostaria de mencionar o bairro, pois recordo como foi difícil para o meu pai manter-me no Colégio Anchieta. Em uma fase complicada na vida profissional dele, precisou vender o carro, mas eu continuei estudando no Anchieta, enquanto alguns colegas meus frequentavam o Rafael Serravale, uma escola pública de classe média, cujos pais possuíam carros de luxo da época, como o Monza ou o Opala.
Enquanto meu pai, Ekcner da Silva Góes, para os mais próximos apenas Silva Góes, foi exemplo de retidão, coragem e empreendedorismo, minha mãe, Elenir, foi exemplo de constância, de gestão responsável dos recursos, de trabalho e de estabilidade.
Foi muito importante para mim quando meu pai conseguiu uma bolsa de estudos para que eu pudesse estudar inglês no Ebec, com o compromisso de não ser reprovado para não perder a bolsa. A propósito, o discurso lá em casa era: "se for para recuperação, eu não pago; você perde o ano e vai estudar em escola pública".
Toda essa cobrança, ao invés de traumatizar, me fortaleceu e foi essencial para garantir que eu passasse no vestibular das duas Faculdades de Direito existentes à época em Salvador: UCSAL (Universidade Católica de Salvador) e UFBA (Universidade Federal da Bahia). Obviamente, vindo de uma família mais humilde, fui estudar na Faculdade de Direito da UFBA, de onde nunca saí e de onde sou professor.
Em paralelo ao estudo, o trabalho sempre esteve presente em minha vida. Ao passar no vestibular, o curso de inglês foi essencial para eu conseguir um emprego em uma agência de turismo que ficava no aeroporto. Ainda no início da Faculdade, meu pai morreu. Na época, ele trabalhava na Assembleia Legislativa, e alguns amigos dele me ofereceram um cargo. A experiência não foi boa. Percebi que não tinha a menor aptidão para trabalhar na política partidária.
Decidi, então, sair do emprego para ganhar bem menos como estagiário de Direito, mas pensar a longo prazo e trabalhar muito para o sucesso sempre foram duas das minhas poucas qualidades. Fui estagiar no escritório de advocacia de meu saudoso tio Edson Góes, e lá percebi que o Direito do Trabalho não era a minha praia.
Segui então para estagiar na Procuradoria Geral do Estado da Bahia, onde comecei a ter relação com Direito Administrativo, ramo do Direito, que ainda flerto e tenho alguma atuação. Mas foi ao estagiar na Caixa Econômica Federal que descobri minha verdadeira vocação profissional no Direito Civil e Empresarial.
Próximo de formar, pegando as últimas matérias do curso de Direito e ainda estagiando na Caixa Econômica Federal, o espírito empreendedor me fez buscar mais. Fiz parceria com dois advogados trabalhistas que foram importantes em minha carreira: Dr. Eliel Teixeira e Dr. João David da Costa. Com eles, tornei-me um "estagiário qualificado" que cuidava dos processos de Direito Civil antes dispensados e assim recebia 50% dos honorários.
Logo após a formatura, e antes mesmo de receber a carteira da OAB, embora já tivesse passado no Exame de Ordem na temida prova de Direito Civil, uma colega de turma, Dra. Dervana Santana, foi o fio condutor da minha união profissional com Joaquim Lapa, que é meu sócio até hoje, por mais de vinte e quatro anos. Abrimos os três o escritório Góes e Góes Lapa e Santana Advogados Associados no prédio Fernandez Plaza, na Av. ACM, na época (1999), imponente avenida comercial.
Por aqueles motivos que o destino traça, Dervana mudou-se para São Paulo e o escritório passou a se chamar LAPA GÓES E GÓES ADVOGADOS. Nele ingressou, logo em seus primeiros anos, Emanuela Lapa, hoje essencial para o escritório. O foco do escritório sempre foi prestar serviços jurídicos de excelência para empresas e empresários de todos os portes. Essa é a nossa vocação. Nesse caminho de mais de duas décadas, outros sócios vieram agregar, como Vera Mônica Talavera, Ana Virginia Menzel, Diego da Silva Carvalho, Daniel Moreno Castillo e João Victor Rodrigues Mafra.
Mas quem disse que o início do trabalho é o fim do estudo? Em áreas como o Direito, parar de estudar é o fim da carreira profissional. Logo após a formatura, eu me inscrevi na especialização em Direito Processual Civil na própria Faculdade de Direito da UFBA. Concluída a especialização, na mesma UFBA, ingressei no Mestrado. Enquanto cursava o Mestrado, fui aprovado no concurso para professor substituto. Com cerca de 25 anos e menos de 5 anos de formado, eu era professor substituto da minha amada Faculdade de Direito da UFBA.
A condição de professor substituto me abriu portas para lecionar em instituições privadas. Fui professor de Direito Processual Civil da FABAC e depois na UNIFACS, onde fiquei por quase uma década, até abrir um concurso público para professor efetivo da Faculdade de Direito da UFBA. Fui aprovado e desde o ano de 2010 sou professor de Prática Jurídica Cível e de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da UFBA, casa que me deu régua e compasso.
Essa correlação de estudo, mais estudo e muito trabalho foi o que mudou a minha vida, foi o que permitiu chegar onde cheguei e hoje, próximo dos 50 anos de vida, casado com Viena e pai de Sofia e Maria, sei que caminhei bastante, mas não me sinto nem na metade do caminho. Do lado acadêmico, preciso terminar o Doutorado, já iniciado por duas vezes e nunca concluído pelas dificuldades de uma agenda profissional muito intensa. Do lado da advocacia, acabamos de inaugurar uma nova sede para atender os nossos clientes com muito mais conforto.
Sou muito grato à Let’s Go Bahia e ao Business Bahia pela oportunidade de compartilhar essa história e espero, de coração, que ela possa ajudar os novos profissionais a entender que o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.