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E tudo pode ter um novo começo em 3, 2, 1...!

Laêmia Gondim - sócia-diretora da Vilage Marcas e Patentes (@laemiagondim)

E tudo pode ter um novo começo em 3, 2, 1...!
Coluna Business Bahia

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26/03/2023 3:00pm

“Os ursos polares sentem frio. Os bipolares ora sentem frio, ora sentem calor.” “Parece um geminiano: uma hora tá bem, na outra, tá de mau humor!”. Essas são duas das tantas piadas que um bipolar tem que ouvir. Imagina numa vida corporativa você ser bipolar? Acrescente a fibromialgia. Consegue imaginar as dores e as aflições que habitam no seu dia a dia? Seria essa, então, a receita de um fracasso?!

Há mais de 20 anos, já na minha jornada empresarial, sentia muitas dores no corpo que me faziam contar até mil para conseguir levantar, insônias que me traziam dias de baixo rendimento, enxaquecas que me levavam à emergência. Eu via meus objetivos ficarem inalcançáveis e, invariavelmente, a depressão me visitava.

De tantas idas a médicos, hospitais, promoções perdidas e focos embaçados, recebi o primeiro diagnóstico - fibromialgia. Ao ouvir sobre o diagnóstico, minha primeira reação foi: “E agora?”. Tendo aversão à dependência, meu outro pensamento foi: “Dou conta!”. Foi a minha pior decisão. Escolhi brigar com a doença. E o que ganhei? Mais dores!

Só me restou aceitar. É bem diferente de se entregar. No meu caso, foi só quando compreendi a minha condição que iniciei o processo de convívio saudável. Explico: precisei deixar claro para mim que a Fibromialgia não me tem e não me define. Porém, como tudo na nossa vida, houve o ganho indireto: uma “egotrip” compulsória. Esse processo de autoconhecimento lançou feixes de luz sobre meu desconhecido, minhas trevas; convidou meus fantasmas para um banquete no bosque Imperial em pleno sol de meio-dia. E, não há como, todo esse processo não te impulsionar a ser uma pessoa melhorada; te dotar de um poder inenarrável - é o gracioso processo da auto vulnerabilidade.

Depois de um tempo de "convívio saudável" com a fibro, surge o diagnóstico da bipolaridade. Esse aqui, confidencio, no início não levei a sério. Apenas internalizei o que eu queria ouvir - a doença tinha cura e ponto. Em um dado momento, a medicação me estabilizou. Eu, ensandecida para chegar naquele famoso "lá", tomei essa estabilização como o verdadeiro estanque da doença. Por isso, deixei as medicações de lado. Mergulhei de braçadas longas em novos projetos e, sem intenção nenhuma, nadei na mesma velocidade direto para o olho do furacão. Assim, vi os sintomas reverberarem na minha vida profissional. Agora assumo: sou bipolar.

O convívio saudável com algumas supostas limitações oferece o desafio - nunca de mudar o alvo - porém, podemos empunhar novas engenhosidades contumazes para se chegar ao alvo - e ir bem além.

Todos os meus diagnósticos, hoje afirmo, me fortaleceram. Assumi riscos. Fracassei. Esqueci que tinha vergonha do fracasso. Me acolhi e me escolhi. Acertei. Cai. Entendi a relatividade do tempo no processo da aprendizagem.

Todo e qualquer processo é inteligível. A sacada está na condução das etapas e o Delta T das etapas é pessoal. Quando entendemos essa minudência, somos magistralmente catapultados para outro nível!

A minha trajetória me trouxe a um momento presente de plena realização. Tornei-me sócia-diretora de uma das maiores empresas de consultoria em Propriedade Intelectual do país - Vilage Marcas e Patentes. Sou palestrante. Sou escritora (próximo livro "História das nossas marcas" - um livro que está sendo gestado por mulheres, cujo lançamento será em 2024 pela editora DB Academia do Saber). Sou Mentora. Sou Mulher. Sou sabedora, hoje, que o além é logo ali, virando a esquina.

Eu sou Laêmia Gondim, prazer!