Neste momento em que o mundo clama por isolamento, a incerteza paira no ar e surgem muitas dúvidas sobre como cuidar dos nossos familiares e de nós mesmos.
O ir e vir não é mais uma questão financeira, nem de escolher um destino, nem de ter tempo de férias, nem mesmo gostar de viajar. Agora, somos reféns do invisível e a palavra de ordem é “ficar em casa”!
Mas o “ficar em casa”, ou o “novo normal” como muitos o chamam, foi ganhando novos contornos com o passar do ano. De março a junho no Brasil, era confinar-se em suas casas e evitar ao máximo se relacionar com familiares, amigos e vizinhos. Depressão... Ah! Isso ficou em alta com tanto confinamento. As pessoas foram relaxando e foram escolhendo e selecionando o que era “ficar em casa”. Pequenos encontros já não eram sinal de perigo mortal para alguns, e sair para trabalhar foi uma condição necessária para muitos.
No ritmo de “balança, mais não cai”, a economia seguiu com o apoio do Governo Federal, que muitas vezes defendeu que era preciso quebrar as quarentenas com proteção. Mas nas esferas estadual e municipal a ordem seguiu de manter as restrições, a despeito dos números em muitos lugares nunca terem se apresentado como uma grande ameaça. Quem estava certo? Nunca saberemos, afinal não dá para brincar com a saúde das pessoas.
O dia a dia ganhou um novo contorno e a globalização nunca esteve tão em alta neste mundo superdigital, cheio de conexões on-line, mas com o ser humano literalmente vivendo isolado e desconectado de afeto, de abraços, do olho no olho, do colo de avós, das paqueras com o piscar de olhos etc.
"O dia a dia ganhou um novo contorno e a globalização nunca esteve tão em alta neste mundo superdigital, cheio de conexões on-line, mas com o ser humano literalmente vivendo isolado e desconectado de afeto."
(Tereza Paim)
Os chefs de cozinha mundiais partiram para uma busca incessante por uma cozinha de raiz, com sabores locais, suportados por ingredientes artesanais, produzidos nas proximidades de cada um. Vivemos uma reviravolta na gastronomia mundial. Aqui na Bahia, vimos inúmeros restaurantes de cozinha internacional oferecendo comida típica baiana, restaurantes de alta gastronomia oferecendo marmitas com comidinha comfort food, e nessa hora eu pensei: “Deus tarda, mas não falha!”. Agora é a hora e a vez do ingrediente baiano ganhar destaque.
Muitos empreendimentos de nosso setor sucumbiram e fecharam as suas portas. Os resilientes, provavelmente os que trabalham com planejamento de longo prazo, passaram a ouvir as demandas de seus clientes e isso gerou um repensar em formas variadas de trabalho dentro das cozinhas.
Mais do que nunca, manipular um bom dendê foi visto com nobreza pelos cozinheiros baianos. Arrisco dizer que foi mandatário aprender a fazer moqueca, vatapá, caruru e bobó. Fica o pedido aos meus colegas gastrônomos: usem o dendê e o coco mais do que nas nossas maravilhosas moquecas, criem muitos pratos sem perder as referências da nossa cultura e tradição!
O “fique em casa” agora é fique na sua cidade, no seu Estado, no seu país, e é chegada a vez do Brasil para os brasileiros.