Definitivamente, o ano de 2020 é para ser esquecido, mas no mundo dos vinhos vimos acontecer uma grande, e positiva, transformação. Escrevi na coluna da edição anterior sobre o boom do consumo, mas agora falarei sobre outro fenômeno que nos enche de esperança: os novos vinhedos nas mais diversas regiões do país. Se na ponta da gôndola as vendas vão muito bem, no campo, o entusiasmo vai na mesma linha e novos empreendimentos vitivinícolas se espalham por locais antes impensáveis.
A Serra da Mantiqueira, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, já é uma realidade no mundo dos vinhos. Somente em 2020, a região ganhou dezenove novos vinhedos. No Estado de São Paulo, o enoturista encontrará vinícolas para visitar e se deliciar com os néctares dos deuses em municípios como Campos do Jordão, Espírito Santo do Pinhal, São Bento do Sapucaí ou Cunha, para citar apenas alguns, isso sem falar na já tradicional São Roque, a apenas 45 quilômetros da capital, que ganha um impulso fantástico, com grandes investimentos nos vinhos finos.
Os novos vinhedos não se resumiram a essas regiões: Ribeirão Preto, Ribeirão Branco, Amparo, Franca, Indaiatuba, Jundiaí (todos em São Paulo) já têm parreirais em diferentes fases. Entrando pelo sul de Minas, temos áreas plantadas nos municípios de Boa Esperança, Cordislândia, Três Corações, São Gonçalo do Sapucaí, Três Pontas e Santo Antônio do Amparo, mas o Vale do Jequitinhonha não ficou de fora, Diamantina também já está na rota do vinho. São muitas e surpreendentes novas fronteiras, passando por municípios como Santa Tereza (ES), indo à Chapada dos Guimarães no Mato Grosso, Terras Altas-Planalto, em Goiás, e adentrando o Nordeste.
Já são quinze Estados mais o Distrito Federal no mundo de Baco: RS, SC, PR, SP, RJ, MG, ES, BA, CE, DF, PE, MT, PB, RN e GO.
"Um dos maiores benefícios das novas fronteiras será a disseminação da cultura do vinho nos mais diversos e impensáveis locais do país."
Sérgio Queiroz
O Rio de Janeiro já conta com alguns projetos na serra fluminense. A Vinícola Inconfidência, pioneira, fica em Secretário, na região de Itaipava, mas no Vale do Fagundes (no encontro de três municípios: Petrópolis, Paraíba do Sul e Areal), distante apenas 20 quilômetros de Itaipava e 90 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, novos vinhedos prosperam.
A pergunta que vem de imediato é: o que está acontecendo, qual o segredo? De fato, temos grandes novidades tecnológicas que apontam para novos e bons caminhos por todo o nosso enorme país, some-se a isso mais conhecimento e mão de obra qualificada, mas, sem dúvidas, a técnica da dupla poda ou poda invertida é a que mais tem dado condições para o bom desempenho em diversas novas fronteiras do vinho. A técnica consiste em podar as videiras entre agosto e setembro, com uma poda curta de uma gema por esporão, e eliminar os cachos que venham nos meses de outubro e novembro. Com isso, os ramos amadurecem e a videira é podada uma segunda vez em janeiro. Deve-se aplicar a cianamida hidrogenada para promover uma brotação e a maturação homogênea das uvas. As colheitas ocorrem entre junho e agosto, dependendo das variedades; ou seja, vindimas em pleno inverno brasileiro.
Um ponto forte também é a paixão arrebatadora pela bebida do deus Baco e a visão empreendedora dos novos produtores, com a possibilidade de bons retornos.
Outros vinhedos em fase final de implantação
Brasília – DF:
A Vinícola Brasília é um consórcio de dez produtores que tem uma grande aposta no enoturismo e projeta 200 mil litros por ano. Abertura prevista para maio deste ano.
Garanhus – PE:
A Vale das Colinas é outra vinícola que estreou oficialmente em novembro de 2020, com três rótulos e visitações já abertas e agendadas via o site www.vinicolavaledascolinas.com.br
Itaberaí – GO:
Um projeto bem interessante que trabalha o enoturismo como poucos em pleno cerrado goiano.
Nazário – GO:
A Vinícola Casa Moura está produzindo sucos e vinhos, em parceria com a Universidade de Goiás, e terá os primeiros produtos no mercado em 2021.
A Vinícola Guaspari é hoje um dos melhores projetos do setor, com vários vinhos premiados e um enoturismo que não para de crescer.
O vinho Bandeiras 2010 chegou ganahndo prêmio e mostrando que Goiás pode fazer vinho de qualidade.
Vinho Dom de Minas 2013 na sua primeira rotulagem.
Malbec da Vinícola VAZ - Chapada Diamantina, já com seu selo da GP Vinhos do Brasil.
Chapada Diamantina: a grande promessa
A Bahia, que já tinha surpreendido com os seus vinhos do Vale do São Francisco, agora emplaca uma das regiões mais promissoras em termos de expansão de área plantada, mas principalmente em qualidade.
E na vanguarda desse movimento estão a Vinícola Vaz (Morro do Chapéu) e a Vinícola Uvva (Mucugê), que, além de ótimos vinhos, prometem também um enoturismo de tirar o fôlego. Um hotel de altíssimo padrão já está em fase de planejamento em Mucugê.
A Vinícola Uvva foi lançada oficialmente em 17 de setembro de 2020 e será aberta para visitações no primeiro trimestre de 2021. A produção estimada para o primeiro ano de vendas é de 55 mil garrafas.
A Vinícola Vaz, pioneira na região, comanda uma leva de produtores em Morro do Chapéu e sai ao mercado com a sua primeira safra comercial já com uma medalha de Good Wine na 9ª GP Vinhos do Brasil, o que aponta um belo futuro para a região. Outras duas vinícolas estão com vinhedos plantados em Morro do Chapéu e terão vinhos comerciais também este ano. A região conta com 10 ha de vinhedos atualmente.
O pontapé inicial veio após a visita de Christian Jojot (presidente da Cave Cooperative Des Riceys, em Champagne, na França) à região no ano de 2009, quando foi firmado um termo de cooperação técnica com a SEAGRI/BA e a Embrapa Uva e Vinho, o que permitiu a implantação da Unidade de Observação de Videiras, onde diversos testes foram realizados.