Brasil, mostra a sua máscara!
Coluna Let's Go Simples Assim
Alguns psicólogos sociais defendem que a natureza humana é solidária e colaboradora. O próprio significado do termo “humanidade” nos remete à benevolência e à solidariedade. No entanto, muitos especialistas concordam que ser mais altruísta ou mais egoísta depende da escala de valores da sociedade na qual você é educado. Isso talvez consiga explicar por que alguns países foram mais exitosos em conter a pandemia da COVID-19.
Lembro-me que, há muitos anos, um amigo me disse: “A solução do problema é o problema resolvido”. Em outras palavras, se focarmos somente nas causas, desviaremos a atenção para o que realmente interessa: a solução. Se já é conhecida a solução para controlar a disseminação do vírus, por que, então, as pessoas resistem a respeitar os protocolos de saúde? Por irresponsabilidade, por egoísmo ou por se considerarem inatingíveis?
"A pandemia marcou a história do nosso país não somente pelo número de mortes, mas também por escancarar os valores que regem a nossa sociedade."
Maria Medeiros
De modo simplificado, mas responsável, ao compararmos a experiência japonesa à brasileira, constatamos que é decisivo o comportamento da população no controle da pandemia. Aos que contestam esta comparação, alegando que o insucesso brasileiro se deve às dimensões continentais do país e à diversidade de suas regiões, cabe lembrar que a população do Japão equivale a pouco mais da metade da população brasileira, sendo que grande parte é formada de idosos. Além disso, a densidade demográfica do Japão supera a do Brasil em mais de doze vezes. No entanto, o Japão registrou, até dezembro, aproximadamente, 2.900 óbitos por COVID-19, enquanto o Brasil, mais de 200 mil.
Os japoneses, em geral, interpretaram a flexibilização como a possibilidade de retomar as atividades, mas não deixaram de pautar o seu comportamento com base no senso de responsabilidade, colaboração, respeito às regras e também pela consideração para com o outro e a coletividade. Lamentavelmente, no nosso país, o discurso da flexibilização tem sido percebido por grande parte da população como um “liberou geral”. O fato de nós, brasileiros, termos mais dificuldade em aceitar o distanciamento social por sermos considerados mais abertos às relações sociais não justifica acionarmos o gatilho da negligência, da irresponsabilidade e do egoísmo, e agirmos sem medir as consequências de nossas atitudes, que poderão causar sofrimento, agonia e pôr em risco a vida de muitas pessoas.
A pandemia marcou a história do nosso país não somente pelo número de mortes, mas também por escancarar os valores que regem a nossa sociedade. Valores que, lamentavelmente, se distanciam da ética. O ano de 2020 nos deixou um desafio ainda maior a ser superado: sermos capazes de ampliar e aprofundar a reflexão sobre quem somos como sociedade e como desejamos caminhar a partir de 2021. Para isso, temos que dar o primeiro passo: colocar a máscara que, paradoxalmente, representa o respeito e a consideração pelo outro.