Aos mestres com carinho
José Carlos Raimundo Brito - Médico
Agradeço ao Business Bahia e à Revista Let's Go Bahia pela oportunidade de escrever nesta coluna, onde destacadas figuras da sociedade baiana dissertam sobre suas trajetórias empresariais, dentre elas o meu querido amigo Carlos Sérgio Sampaio Falcão, que me convidou para escrever esse texto.
Sou médico, graduado em 1976, pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP, à época localizada na Ladeira de Nazaré, próxima ao Hospital Santa Izabel.
Até alcançar esse feito, que dedico aos meus amados e saudosos pais, Lídia Raimundo Brito e Waldomiro Magalhães Brito, os desafios foram enormes. Comerciário desde a adolescência, meu genitor representou um grande exemplo para nossa família, assim como minha mãe, filha de libaneses, técnica em Contabilidade, exemplo no cuidar dos filhos. O casal, com orçamento limitado, envidou esforços para educação dos quatro filhos, todos alcançando formação superior.
Tive excelentes mestres ao longo da vida, mas decidi homenagear a minha professora das primeiras letras, em nome dos demais. A Escola Raquel Ribeiro, onde cursei o primário, foi fundamental na minha caminhada. Situada na Rua Direita do Santo Antônio, dirigida por anos pela educadora que dava nome ao estabelecimento de ensino, e que, infelizmente, não conseguiu manter-se após o seu passamento, educou, em sua maioria, crianças residentes no Centro Histórico, Carmo, Santo Antônio, Barbalho e imediações. Haver estudado ali significou um diferencial para o meu crescimento e evolução como pessoa. Espírita convicta, sem nunca ter influenciado os seus alunos em questões religiosas, a professora Raquel era uma mulher avançada no seu tempo. Além de dirigir uma escola muito bem avaliada, fundou a Casa de Emanoel, no mesmo bairro, que acolhia moradores de rua, oferecendo-lhes teto e alimentação. Patriota, professora Raquel escolheu um modo muito interessante para estimular seus pequenos estudantes: ao final de cada mês, reunia todas as turmas para premiar os que se destacavam com melhores notas, que tinham a honra de segurar o pavilhão do Brasil, quando todos cantavam o Hino Nacional e o Hino da Bandeira.
O próximo passo foi ser aprovado no exame de admissão do Colégio Estadual Severino Vieira, onde permaneci os quatro anos do ginásio, na década de 1960. A seleção era muito concorrida, mas com a base adquirida na Escola Raquel Ribeiro, logrei êxito no certame.
Já com o intuito de ser médico, optei pelo antigo científico, no Colégio Estadual da Bahia, o Central, destino dos que tinham inclinação pelas áreas de ciências e exatas.
O curso de Medicina foi alcançado através do vestibular da EBMSP, no ano de 1970. Tendo aprendido com Professores memoráveis, cheguei, como estagiário quartanista, no Hospital Santa Izabel (que até hoje me acolhe), quando a Cardiologia me arrebatou, em 1974, pelos ensinamentos e técnicas trazidos por médicos formados no Instituto Dante Pazzanese, grupo que alavancou a especialidade na Bahia. Sinto-me privilegiado, pois fui o primeiro estudante a acompanhar o trabalho dessa equipe, à qual, atendendo a convite, incorporei-me após a graduação. Quero destacar meu estimado mestre e amigo Heitor Ghissoni de Carvalho, a quem devo minha formação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, companheiro de trabalho e ideal há 46 anos.
Especialista em cardiologia, com diploma conferido pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Cardiologia a 01/10/1987, membro titular da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, Coordenador da Especialidade de Cardiologia e Coordenador do Centro de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Santa Izabel e do Hospital da Bahia, honra-me, sobremaneira, trabalhar nessas Instituições ao lado de colegas extremamente qualificados.
No Hospital Santa Izabel sou preceptor da Residência de Cardiologia desde 1982, atividade que me deixa muito lisonjeado pelo contato diário com residentes em busca do saber. A referida Residência é destaque nacional, tendo formado, ao longo desses 40 anos, dezenas de Cardiologistas, excelentes profissionais que atuam na Bahia e em outros estados.
Finalmente, na condição de Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Secção Bahia (1998-2000), da Associação Bahiana de Medicina (2002-2008), Vice-presidente de Associação Médica Brasileira (2005-2008) e Secretário Municipal de Saúde de Salvador (2008-2010), cumprindo o juramento de Hipócrates, procurei exercer os cargos e funções, servindo aos pacientes e à comunidade.
José Carlos Raimundo Brito