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Esperança é um plano B

Claudia Giudice Coluna Let's Go Plano B

Esperança é um plano B
Cláudia Giudice - Jornalista, escritora e mãe de Chico

Cláudia Giudice - Jornalista, escritora e mãe de Chico

29/01/2021 10:00pm

Um dia de cada vez. Vai passar. Tenha fé. Tenha paciência. Calma, a esperança é a última que morre. Desde 17 de março, me alimento dessas pequenas frases feitas. Clichês em formato de chavões que têm servido para nos acalentar nestes tempos difíceis, que parece não ter começo nem fim. Por isso e muito mais, que não vêm ao caso, me tremi toda com o desafio de escrever sobre ela, aquela que só morre antes dos Deuses. Falar o quê, que não fosse chuva no molhado? Onde buscá-la depois de tantas perdas pessoais e coletivas?

Sem poder recorrer à minha mãe para ter inspiração, corri ao dicionário, o pai dos burros, em busca de uma pista. Achei duas. A primeira poderia estar no meu jardim. Esperança é um inseto, de cor verde, que pertence à ordem Orthoptera, a mesma da família dos gafanhotos e grilos. Achei graça, afinal os gafanhotos foram uma praga bíblica e no ano apocalíptico de 2020 aterrorizaram as plantações da Argentina e do sul do Brasil. Fuçando na rede, encontrei uma versão mais feliz da esperança. Um inseto com uma coloração cor-de-rosa; esse, sim, muito raro, costuma ocorrer um a cada 500 nascimentos do bicho. Tanto que uma foto do dito-cujo, feita por uma fotógrafa e estudante de Medicina, Gabriele Cordeiro, rendeu matéria de jornal em Minas Gerais.

Insatisfeita, segui buscando a esperança. No pai dos burros, como sempre, reencontrei a dita-cuja. A esperança tão desejada e banalizada tinha outras faces. Na teologia, é uma das três virtudes humanas, ao lado da fé e da caridade, trilogia representada por uma âncora. No léxico, o substantivo feminino, além de confiança, crença e fé, é definido como um sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja. Também é uma maneira de pensar, um processo cognitivo.

"Acredito que para tudo existe esperança e, por conseguinte, um plano B. A exceção é a morte." 

(Claudia Giudice)

Opa! Aqui tem coisa, pensei. Segui fuçando e encontrei o estudo do doutor Charles R. Snyder, Ph.D em Psicologia e falecido em 2006, autor do livro The Psychology of Hope (“A Psicologia da Esperança”). Conhecido por ter desenvolvido o conceito de Psicologia Positiva, ele afirmava que a esperança é um processo de pensamento composto por uma trilogia de metas, caminhos e ações. A esperança, portanto, não está ao léu. Ela exige dedicação e trabalho.

Primeiro, ela depende da nossa capacidade de estabelecer metas realistas. Em Nova Iorque, minha amiga Renata Pasqualini, que trabalha no desenvolvimento de uma das vacinas da COVID-19, sabe aonde quer chegar com sua pesquisa e seu time de cientistas. Segundo, a esperança se realiza na capacidade de descobrir como alcançar essas metas com flexibilidade. Todas as noites, depois de duras 18 horas de trabalho, Renata repete para si mesma o mantra: “Sei como chegar lá, sou persistente, posso tolerar frustrações e tentar novamente”. Por último, a esperança, segundo Snyder, exige autoconfiança. “Eu posso fazer isso!”, garante Rê, quando falamos sobre a sua missão quase impossível.

Não sou cientista nem teóloga e já tive mais fé na vida. Ao ler o livro do Dr. Charles Snyder, me convenci, no entanto, de que a esperança pode ser também um plano B da humanidade. Com ela, podemos estabelecer metas e ter determinação e perseverança para persegui-las, além de acreditar em nossas próprias habilidades. A esperança se aprende. A esperança se cria como uma saída. A esperança é uma alternativa. Vale para momentos ótimos, bons, médios, ruins e péssimos. A esperança é um facilitador. Ter esperança se torna um modo de vida. O cérebro se acostuma a pensar em alternativas. Quase como um jogo. Pode se tornar tão automático quanto escovar os dentes antes de dormir ou trocar a marcha do carro no trânsito. Acredito que para tudo existe esperança e, por conseguinte, um plano B. A exceção é a morte. Acho que apenas os suicidas e pacientes terminais têm a esperança de morrer.

Sempre fui movida a planos B. Por isso, encerro este texto propondo que todos tenhamos esperança de escapar da COVID, de vencer o racismo, de combater o preconceito, de aniquilar a corrupção, de extinguir a pobreza, de exterminar a ignorância, de valorizar a ciência, de promover o conhecimento e de reafirmar a nossa fé. Que todos os nossos planos B se realizem em 2021!