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Trump: make Brazil great again

Trump: make Brazil great again
Ricardo Amorim - Economista mais influente do Brasil, segundo a Forbes, e Influenciador no 1 no LinkedIn

Ricardo Amorim - Economista mais influente do Brasil, segundo a Forbes, e Influenciador no 1 no LinkedIn

28/05/2025 2:30pm

Foto: Divulgação

O segundo mandato de Donald Trump começou como um terremoto político, que está causando vários tsunamis econômicos. Neste início de mandato, vimos confrontos internos e externos com potencial de redesenhar não só a economia americana, mas toda a ordem geopolítica global. Elon Musk virou símbolo dessa nova era, ao liderar, por apenas alguns meses, o “Departamento de Eficiência Governamental”, fechando agências inteiras com uma “motosserra” metafórica.

Na campanha eleitoral, Trump prometeu elevar substancialmente as tarifas de importação para proteger a economia. Inicialmente, cumpriu a promessa, mas voltou atrás diversas vezes, após uma reação muito negativa dos mercados financeiros americanos, preocupados com grandes impactos inflacionários que as tarifas teriam.

Prometeu também zerar a dívida pública americana, Até agora, o efeito foi inverso, apesar dos esforços de Musk em cortar substancialmente os gastos públicos. Os impactos negativos das medidas de Trump sobre o crescimento econômico americano reduziram o crescimento das receitas, enquanto os gastos públicos com programas de governo e juros da dívida público continuam batendo recordes, fazendo a dívida pública americana crescer mais do que nunca, com exceção do período da pandemia, no primeiro mandato do próprio Trump. Ele disse também que acabaria com a guerra entre Rússia e Ucrânia em um dia. Ainda não conseguiu, mas inegavelmente está reorganizando toda a geopolítica global.

A política de alianças com parceiros militares liderados pelos EUA, foi substituída por um “cada um por si”. Em resposta, países europeus, liderados pela Alemanha, anunciaram, para os próximos 10 anos, os maiores aumentos dos gastos militares da História. Isso vai gerar mais crescimento econômico, fragilizar as contas públicas e elevar a inflação na Europa, nos próximos anos.

A relação mais conflituosa com a Europa, tanto no aspecto militar – incluindo declarações de que os EUA querem ficar com a Groenlândia, que pertence à Dinamarca - quanto no tarifário, pode, inclusive, criar condições para que o Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia seja finalmente aprovado pelos europeus, beneficiando o Brasil, e em particular, nosso agronegócio. Com instabilidade geopolítica, escassez de alimentos e medo inflacionário, os países querem segurança alimentar. E apenas os EUA, visto agora como um parceiro pouco confiável, têm a combinação que o Brasil oferece: terra, água, clima e capacidade produtiva.

O agronegócio brasileiro já está se beneficiando muito dos conflitos tarifários. Com as tarifas impostas pela China aos EUA, o agro brasileiro exportará maiores quantidade e a preços mais elevados para a China, o que, aliás, também aconteceu no primeiro mandato de Trump.

O impacto da guerra tarifária na indústria brasileira é menos uniforme. Em alguns subsetores da indústria, principalmente, no curto prazo, o impacto na produção brasileira pode ser negativo; às vezes, até fortemente negativo. Produtos chineses que seriam exportados para os EUA podem ser desovados no Brasil. Isto deprimiria a produção nacional. Por outro lado, isso ajudaria a conter a inflação por aqui.

Em outros subsetores da indústria, o impacto será exatamente o oposto: produtos antes produzidos na China e no Vietnã para serem exportados para os EUA, por exemplo, passarão a ser produzidos no Brasil, uma vez que a alíquota de exportações daqui para lá é bem mais baixa, e produzir nos EUA seria bem mais caro. Eu mesmo fui procurado por uma empresa de calçados e uma de motocicletas que já estão fazendo isso.

Com tarifas americanas pressionando México, China e Canadá, o Brasil pode assumir o papel de nova “maquila” latino-americana — montando produtos localmente para exportar aos EUA. Também temos a chance de fortalecer nossa posição como fornecedor global de energia, que ganha ainda mais relevância estratégica em tempos de conflitos crescentes entre países. 

Por fim, as idas e vindas de Trump reduziram brutalmente a previsibilidade na economia americana, tornando-a mais parecida com a de um país emergente, como o Brasil. Isso fez os EUA perder, de vez, a classificação de risco AAA e reduziu a confiança no país, em sua moeda - o dólar - e nos títulos do tesouro americano. No auge da crise de confiança causada pela guerra tarifária, o dinheiro saiu dos EUA, em busca de segurança, e foi para Alemanha, Suíça e Japão. Isso nunca havia acontecido antes. Em todas as crises financeiras anteriores, a busca por segurança levou investidores a levarem dinheiro para os EUA, nunca a tirar dinheiro de lá. Isso sinaliza um dólar mais fraco daqui para frente. Dólar em queda costuma causar alta de preços das commodities, uma vez um dólar mais fraco barateia as commodities em moedas locais, elevando seu consumo, em todo o mundo. Se isso se concretizar, o Brasil vai se beneficiar ainda mais, com menos inflação - por conta do barateamento das importações com a queda dólar - e mais receitas de exportações - por conta do da elevação do preço das commodities.

Um resumo, até agora, Trump está fracassando em sua promessa de tornar os EUA grandes novamente, mas está criando as melhores condições para tornarmos o Brasil grande novamente. Cabe a nós não desperdiçarmos essa oportunidade, como já desperdiçamos tantas outras.