Pepsi Vs. Coca-Cola. Quem venceu? A Resiliência
Por Adriano Sampaio, Analista de Inteligência de Mercado, CEO da Duplamente Pesquisas
Foto: Acervo Pessoal
Era uma vez um refrigerante que nasceu para curar indigestões, sobreviveu a duas falências, foi rejeitado três vezes pelo maior rival do planeta e, em vez de sumir, decidiu comprar meio mundo. Não, não é um roteiro de Hollywood. É a história da Pepsi — a marca que riu da cara da desgraça, embalada por açúcar, astúcia e uma pitada de ironia.
Tudo começou em 1893, quando Caleb Bradham, um farmacêutico sonhador da Carolina do Norte, resolveu criar uma poção mágica para digestões capengas. Batizou-a de Brad’s Drink, mas, em um golpe de marketing pré-histórico, rebatizou-a como Pepsi-Cola — uma homenagem à “dispepsia”, porque nada diz “refresco” como lembrar o cliente de sua má digestão. A fórmula, claro, não tinha pepsina, mas quem se importava? O gosto era doce, a promessa era grande, e a Coca-Cola, já estabelecida, nem imaginava o que viria.
Bradham expandiu rápido: em 1902, já tinha 40 distribuidores. Até que, em um movimento digno de tragédia grega, apostou todas as fichas no açúcar antes da Primeira Guerra. O preço despencou, e a Pepsi faliu. Primeiro round: Coca-Cola 1 x Pepsi 0.
Mas a Pepsi tinha uma habilidade rara: ressuscitar. Em 1931, após ser recusada três vezes pela Coca-Cola (sim, eles se arrependeriam amargamente), a marca estava de novo no chão. Até que Charles Guth, um ex-executivo da Coca, decidiu vingar-se. Ele adocicou a fórmula, encheu garrafas gigantes e as vendeu pelo preço das minúsculas rivais. Era a Grande Depressão, e as massas famintas por açúcar e economia adotaram a Pepsi como símbolo da resistência popular. Ironia? A Coca-Cola, elitista, virou a “bebida dos ricos”.
Agora com sabor e estratégia, a Pepsi partiu para a guerra cultural. Nos anos 1940, enquanto rivais ignoravam a comunidade afro-americana, ela colocou negros em propagandas como pessoas, não caricaturas. Joan Crawford, estrela de Hollywood e esposa do presidente da empresa, levou a Pepsi para as telas de cinema. A marca não só vendia refrigerante — vendia identidade.
Mas o ápice da audácia veio em 1959, em plena Guerra Fria. Enquanto EUA e URSS trocavam ameaças nucleares, a Pepsi serviu um copo gelado a Nikita Khrushchev. O líder soviético sorveu, aprovou, e de repente, a Pepsi virou o primeiro produto americano no bloco comunista. O pagamento? Vodka. E depois, navios e tanques de guerra. Sim, a Pepsi chegou a ter o 6º maior arsenal militar do planeta — um feito e tanto para uma empresa que vendia “suco de dispepsia”.
Nos anos 1980, a Pepsi desferiu o golpe baixo perfeito: o Desafio Pepsi. Em testes cegos, consumidores preferiram seu sabor. A Coca, em pânico, lançou a New Coke — um fiasco histórico. A Pepsi riu por último, patrocinou Michael Jackson e abraçou a cultura pop como ninguém.
Hoje, a PepsiCo é um império: das batatas da Elma Chips ao Gatorade, controla 23 marcas que faturam US$ 1 bi cada. No Brasil, divide prateleiras com a Guaraná Antarctica, sob o guarda-chuva da Ambev — mais uma prova de que prefere alianças a rivais.
Moral da história? A Pepsi é a mestra da reinvenção. Nasceu duas vezes, virou diplomata, colecionou armas e transformou derrotas em taças de refrigerante. E se ainda é a “segunda opção”, que assim seja: afinal, como diria Khrushchev, “o segundo lugar às vezes tem um gosto mais doce”.