O Mito da Beleza: como a regulação social das mulheres surge como forma de controle
Por Drª. Laura Andrade, médica dermatologista, PHD em Cabelos pela UFBA
Foto: Acervo Pessoal
Ao longo da história, as mulheres vêm sendo submetidas a regras – muitas vezes implícitas – sobre como devem se comportar, vestir e, especialmente, como devem se parecer na sociedade. Na contemporaneidade, esse controle social migrou do olhar direto da comunidade para a tela dos nossos smartphones: filtros de aplicativos, trends de beleza asiática ou ainda mais específicas a padrões sutis impostos pelas redes sociais que reforçam uma “patrulha da aparência” que parece não ter limites.
Na década de 1990, ao lançar o livro "O Mito da Beleza", em que analisava como o modo a vigilância sobre os corpos femininos causa sofrimento e atende a interesses econômicos e políticos, a jornalista Naomi Wolf tornou-se uma das maiores referências femininas na luta pela autoaceitação e desconstrução do ideal de beleza feminino. Em 1991, mesmo antes da explosão digital, o ideal de beleza já era um mito inalcançável. Com o advento das redes sociais e das tecnologias de edição de imagem, esse mito ganhou notoriedade e consolidação na sociedade e levando o tema para discussões mais profundas.
O que vemos na atualidade é que a patrulha da beleza segue em ascensão com mitos inalcançáveis como ausência de celulite, flacidez, rugas,manchas e etc. Percebo, diariamente, inúmeras mulheres adoecidas insatisfeitas, mesmo tendo uma aparência muito saudável, pois a cobrança do mito da beleza e juventude ainda vive pulsando na rotina de todos nós.
Porém, por mais prejudicial que seja, o mito persiste devido aos interesses econômicos — a grande força motriz do mundo — que o renovam constantemente, alicerçados em um mercado da beleza de crescimento vertiginoso e apto a fomentar desejos na sociedade. Parece ser estranho um texto assim escrito por uma dermatologista, afinal de contas meu consultório atendo para manter a saúde e a beleza da pele e dos cabelo dos meus pacientes, mas é mandatório lembrar que o dermatologista é o médico responsável pela saúde da pele , atendemos mais de 3mil doenças dermatológicas, porém me assusto com a dor das pessoas , transtorno dismórfico corporal em homens, mulheres, meninas e adolescentes que duvidam da sua capacidade intelectual e econômica se sua aparência não atende a um padrão social de muitas cifras.
Me perdoe Vinicius de Morais, mas não existe uma frase mais infeliz do que: “me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental”. Fundamental é a saúde da pele, fundamental é a mulher ser feliz na sua carreira e na sua família, fundamental são as suas conquistas pessoais e profissionais e a pele a pele sim deve ser saudável, beleza mesmo é um mito e envelhecer com saúde é uma dádiva.