Circularidade ancestral na Amazônia
Por Edson Grandisoli, embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e especialista em Economia Circular pela UNSCC da ONU.
Foto:
Navegar pelo Rio Acutipereira até a Comunidade Santo Ezequiel Moreno, em Portel, no Pará, é também entrar em contato com uma forma de vida profundamente ligada à floresta e às águas da várzea. Ali, o ambiente não é apenas cenário, mas parte da identidade das pessoas, que vivem em harmonia com a natureza e preservam relações de respeito e cumplicidade cada vez mais raras em um mundo em crise socioambiental.
Nesse contexto, a bioeconomia surge não como novidade, mas como prática ancestral que hoje ganha força com apoio de iniciativas como o projeto *Sustenta e Inova*, que combina saberes locais e ciência para fortalecer a cadeia do açaí de maneira sustentável e inclusiva. Mulheres, jovens e produtores participam ativamente de capacitações, manejo e comercialização, promovendo tanto a autonomia econômica quanto a preservação ambiental. A circularidade se manifesta no reaproveitamento de resíduos, na compostagem e em decisões coletivas que ampliam o protagonismo comunitário.
Ainda assim, os desafios persistem. O desmatamento e as queimadas continuam sendo ameaças que colocam o Brasil entre os maiores emissores de gases de efeito estufa. Avançar rumo ao desmatamento zero e repensar o modelo agropecuário são passos que poderiam reduzir significativamente essas emissões e posicionar o país como referência em sustentabilidade. A experiência de comunidades como Santo Ezequiel Moreno mostra que essa transformação é possível: a Amazônia e seus povos oferecem ao mundo um exemplo vivo de circularidade, resiliência e novos modos de convivência com a floresta.