Escrito pelo médico referência no assunto, José Carlos Souto, "Uma dieta além da moda" destaca a importância das estratégias de baixo carboidrato para a saúde, emagrecimento, mas também para o manejo e prevenção de doenças como diabetes tipo 2, gordura no fígado e hipertensão.
Como a low-carb, uma estratégia alimentar saudável, que produz tão bons resultados com relação ao emagrecimento e tratamento de doenças metabólicas, pode ser tão negligenciada por profissionais da saúde? Buscando responder essa pergunta o médico referência nacional em dietas de baixo carboidrato, José Carlos Souto, escreveu o livro “Uma dieta além da moda – Uma abordagem científica para a perda de peso e a manutenção da saúde”, publicado pela Editora WMF Martins Fontes.
Em um pouco mais de 350 páginas, o autor desmonta os mitos a respeito das dietas low-carb, rechaçando o uso pejorativo do termo “dieta da moda”, e explicando, com farta documentação, que se trata de uma estratégia com embasamento científico robusto, capaz de produzir resultados consistentes, podendo ser adotada como um estilo de vida alimentar por quem precisa e por quem o deseja. Tudo isso explicado de forma didática e acessível ao público leigo e também profunda para satisfazer o profissional de saúde interessado nas referências científicas.
Com o aumento de sua popularidade, Souto reconhece que a dieta low-carb foi também abraçada pelo que chama de “tribos estranhas”, que não têm muito compromisso com fatos científicos, mas enfatiza que o seu lugar “é no cânone das práticas de saúde baseadas em evidências”. Assim o autor quer resgatar a estratégia do meio de suas más companhias e, paralelamente, mostrar para possíveis adeptos e profissionais de saúde que se trata de uma das estratégias nutricionais mais poderosas, seja para emagrecimento, seja para problemas metabólicos como gordura no fígado, pressão alta, entre outros. “Se este livro tiver servido para mudar a atitude de alguns profissionais de saúde e para tranquilizar alguns pacientes, terá cumprido a sua função”, afirma.
A fim de ser o mais didático possível, objetivando cativar todo o tipo de leitor, o autor estrutura seu livro de forma lógica, envolvente e progressiva. Ao todo são 15 capítulos que também contemplam resumos para facilitar a compreensão. O livro é dividido em três partes. No primeiro trecho, o médico aborda com mais ênfase os mecanismos envolvidos no controle do peso e dá assim ao leitor subsídios para que ele possa compreender as dietas de baixo carboidrato, cujo funcionamento e cuja eficácia são tratados diretamente no segundo segmento. Fazendo uso de analogias que elucidam o assunto, torna-se mais fácil para o leitor apreciar a terceira e derradeira parte, na qual Souto rebate os mitos que cercam essa prática alimentar.
Na primeira parte, um dos pontos mais interessantes destacados pelo autor é aquele que diz respeito à teoria carboidrato-insulina, segundo a qual alimentos que elevam mais a nossa insulina, como é o caso dos açúcares e dos amidos, dificultam a perda de peso, visto que a insulina é um hormônio que favorece o acúmulo de gordura. Por este motivo, uma dieta pobre em carboidratos favoreceria o emagrecimento.
À luz de novas evidências científicas, o médico reconhece que tal teoria é incompleta. Isto porque, se assim não fosse, o consumo de proteína, que também resulta em maior produção de insulina, geraria aumento de peso, o que, é sabido, não acontece; de fato, sucede o contrário: emagrecimento. Nesse sentido, é apresentado o conceito da “proteína como freio do apetite”, elencando sua importância para o aumento da saciedade.
Ao abordar diretamente as estratégias de baixo carboidrato, na segunda parte do livro, Souto dá orientações gerais a respeito da dieta e fornece uma lista de quais alimentos se encaixam e não se encaixam nesse estilo alimentar, sempre levando em consideração que low-carb é um espectro, que varia desde uma abordagem mais restritiva até a versão moderada e liberal – de acordo com a necessidade de cada caso. Se restarem dúvidas, enfatiza o autor: “Dê preferência à comida de verdade, que é tudo que você encontra no açougue, na peixaria, na feira. Comida de verdade não costuma ter rótulo, e o alimento é seu próprio ingrediente. Por exemplo: carne, ovo, espinafre, couve, vagem etc.”.
Nos capítulos que compõem a segunda parte, o médico faz também uma retrospectiva histórica para mostrar o renascimento da estratégia low-carb atualmente. Ele ressalta ainda que, embora haja um número massivo de estudos apontando sua eficácia para emagrecimento, prevenção e tratamento de doenças, alega-se que a dieta não é efetiva no longo prazo. O autor explica que, assim como tantas outras abordagens que preconizam a mudança de estilo de vida, esta precisa de acompanhamento e dos incentivos certos para não ser abandonada ao longo do tempo – o que também se aplica a outras áreas, como a prática de atividade física, por exemplo.
Além disso, Souto ressalta a importância da dieta no combate a resistência à insulina e a síndrome metabólica, que hoje atingem grande parte da população e “são a mãe da maioria das doenças degenerativas – os quatro cavaleiros do apocalipse: diabetes, doença cardiovascular, câncer e demência (Alzheimer, por exemplo)”. Para comprovar a eficácia da redução do consumo de carboidratos no manejo e reversão de diabetes tipo 2 e síndrome metabólica, Souto lança mão de diversos estudos clínicos randomizados, o melhor tipo de estudo que existe, porque consegue estabelecer uma relação entre causa e efeito.
Na terceira e última parte, Souto aponta que os mitos sobre a low carb – difundidos pelo senso comum e profissionais de saúde – são os grandes responsáveis pela estratégia não receber o reconhecimento que merece, não obstante as robustas comprovações científicas acerca de sua eficácia para o emagrecimento e para o combate de doenças metabólicas. Entre os mitos estão aqueles que dizem que low-carb faz mal para os rins e para o fígado, provoca perda de massa muscular e óssea, aumenta os riscos cardiovasculares, aumenta o ácido úrico e causa gota.
Segundo o autor, alguns mitos têm como fundamento mecanismos biológicos, - que em suas palavras “pavimentam o caminho para o inferno” -, outros nem isso. Mas todos são refutados com argumentos sólidos, a partir de referências a estudos que não somente mostram a inexistência da relação entre a estratégia e os riscos aventados, como, muitas vezes, comprovam o potencial benéfico da prática alimentar aos órgãos que, segundo os mitos, a restrição de carboidratos prejudicaria.
Nesta parte, um dos capítulos mais instigantes é aquele que se debruça sobre os possíveis riscos cardiovasculares acarretados pela estratégia low-carb. Nele, o autor afirma ser necessário ultrapassar a polarização simplificadora que contamina as discussões sobre o tema, em que um lado diz que “colesterol simplesmente não é um problema” e outro afirma que “a dieta é perigosa pois pode elevar o colesterol”. Conforme Souto, duas postulações simples e erradas que só podem ser combatidas por meio de uma discussão que introduza nuances. É o que o autor se propõe a fazer e faz muito bem.
Em conclusão, Souto afirma que seu intuito não é convencer o leitor que todas as pessoas devam seguir uma dieta de baixo carboidrato. “O objetivo do livro não é afirmar que dietas de baixo carboidrato são o único caminho para promover saúde e emagrecimento. Não resta dúvida de que é possível ser saudável consumindo uma dieta alta em carboidratos e baseada principalmente em plantas, por exemplo”, diz. Mas esclarece que só a ignorância acerca do assunto pode explicar as críticas a uma abordagem alimentar que comprovadamente apresenta excelentes resultados no combate a tantos males que assolam a população brasileira e mundial. “Ainda mais quando se sabe que é uma das poucas dietas que não requer passar fome e que pode ser feita com comida de verdade, sem suplementos ou medicamentos. Trata-se de uma ferramenta eficaz, entre outras, para melhorar a qualidade de vida da população”, conclui.