Últimas notícias

Dia do Escritor: a história de Cláudia Giudice contada em palavras

Dia do Escritor: a história de Cláudia Giudice contada em palavras
Da Redação

Da Redação

25/07/2024 8:00pm

Aprendi a escrever lendo. Érico Veríssimo, Jorge Amado, Clarice Lispector. Meu sonho adolescente era ser escritora. Sabia que era difícil, principalmente viver disso. Escolhi ser jornalista, a profissão que todos os escritores foram um dia. Por mais de 30 anos, escrevi diariamente. Reportagens, entrevistas e alguns livros. Não eram meus, mas das editoras nas quais trabalhei.

O primeiro foi um livro com 1000 dicas de qualidade de vida, com a finada marca Corpo a Corpo. É inesquecível porque escrevi no primeiro arremedo de computador que eu tive. Era o teletexto da Telesp. A memória ficava externa, em um disquete 5x8 (aquele bem fininho e enorme que parecia uma capa de CD. Quem lembra?). Estava na dica 867 quando esqueci a janela do meu quarto aberta. Saí para ir ao show do David Bowie. Ao voltar, o quarto estava inundado e o disquete naufragado. Perdi as 867 dicas que havia escrito. Hilário, patético e dramático. Depois desse desastre, fiz biografias, livros-reportagens e guias para a Editora Abril. Adorava.

Meu primeiro livro pessoal e intransferível começou a ser escrito há dez anos, quando fui demitida. "A Vida Sem Crachá", editora HarperCollins, hoje esgotado, foi um sucesso. Vendeu dez mil cópias graças ao relato nu e cru das agruras de uma ex-jornalista e ex-executiva tentando descobrir como viver sem o sobrenome corporativo. Por que eu escrevi? Para fazer terapia. Para aliviar o meu sofrimento. Para ajudar um montão de gente que estava na mesma situação que eu.

Anos depois, já morando na Bahia, lancei "Arembepe, Aldeia do Mundo", editora Máquina de Livros, em parceria com os jornalistas Sergio Siqueira e Lula Afonso. Trata-se de uma coleção de histórias divertidas, surpreendentes e emocionantes desse lugar mágico que foi um dos berços do movimento hippie no Brasil. A minha Arembepe, onde eu decidi viver e viver.

O último filho, "Sem Pai Nem Mãe", nasceu no ano passado. É uma história de amor. O amor incondicional que experimentei ao perder meus pais para o câncer com apenas seis meses de intervalo. Não é romance. Não é autoajuda. Trata-se de um diário. É forte. Intenso. E, por vezes, muito emocionante. No prólogo, explico por que o escrevi. Este trecho que reproduzo a seguir serve para resumir uma das faces da minha paixão por esse ofício: “Comecei a escrever por vício. Sempre que algo me aflige, me preocupa, me dói muito, eu escrevo. É um jeito de colocar para fora o medo, os fantasmas, a preocupação, o sofrer. Em geral, funciona. Dessa vez, serviu de conforto no princípio. Mas as dores, a angústia, a aflição foram maiores que o verbo. Parei. Calei. Foram 11 meses de silêncio (...).

Agora escrevo porque preciso contar, porque preciso lembrar e porque acho que pode fazer bem a alguém que esteja passando por uma experiência parecida com a minha. É isso. Tomara que minhas escritas tenham servido para fazer o bem.

Foto: Sergio Zalis