Foto: Bruno Concha / Secom PMS
O dia 4 de dezembro é marcado por uma das celebrações mais simbólicas e populares da Bahia. A data homenageia ao mesmo tempo Santa Bárbara, mártir do cristianismo, e Iansã, orixá dos ventos e tempestades, em um dos sincretismos religiosos mais fortes da cultura afro-brasileira.
A devoção a Santa Bárbara remonta ao século III. Segundo a tradição católica, a jovem foi morta pelo próprio pai após assumir publicamente sua fé cristã. Logo após o martírio, um raio teria atingido o agressor, fazendo com que a santa se tornasse conhecida como protetora contra tempestades, incêndios e trovões. Seu símbolo de coragem e proteção atravessou séculos e ganhou força no Brasil, especialmente entre quem enfrenta batalhas cotidianas.
No candomblé, Iansã — Oyá — é a senhora dos ventos, do fogo e das mudanças. Uma divindade guerreira, que representa a força feminina, o movimento e a energia vital. Nos terreiros e na cultura popular, ela é celebrada como quem rompe limites, conduz paixões e abre caminhos com intensidade.
Durante o período da escravidão no Brasil, africanos foram proibidos de cultuar seus orixás. Para preservar sua fé, fizeram associações entre divindades afro e santos católicos com características semelhantes — Santa Bárbara e Iansã se uniram pela simbologia dos raios, do fogo e da coragem. Assim nasceu uma das expressões mais vibrantes da resistência e da religiosidade baiana.
Programação no Pelourinho: fé, cortejo e tradição
Mantendo viva essa fusão de crenças, a Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos realiza, de 1º a 4 de dezembro, a tradicional Festa de Santa Bárbara, com o tema: “Com Santa Bárbara, de fronte erguida e rosto sereno, testemunhamos Jesus Cristo, nossa Esperança”
Neste dia 4 de dezembro, Dia de Santa Bárbara / Iansã, o Centro Histórico amanheceu festivo, com alvorada de fogos às 6h, salva dos clarins às 7h e missa campal Às 8h, seguida de procissão pelas ruas do Pelourinho.
O cortejo sai da Igreja do Rosário dos Pretos e segue pela Gregório de Mattos, João de Deus, Terreiro de Jesus, Praça da Sé e Ladeira da Praça. Na Barroquinha, há a tradicional parada no Corpo de Bombeiros, do qual Santa Bárbara é padroeira. Em seguida, o cortejo continua pela Baixa dos Sapateiros, Rua Padre Agostinho e retorna ao Pelourinho, encerrando novamente no Rosário.
À tarde, às 15h, uma apresentação cultural celebra o encontro entre fé, música, ancestralidade e resistência.
A celebração do 4 de dezembro traduz a identidade baiana: plural, devota, viva. No mesmo dia e nas mesmas ruas, Santa Bárbara e Iansã reafirmam a força de mulheres sagradas que atravessam séculos e seguem pulsando na fé e no cotidiano do povo.
Em Salvador, quem participa da festa não apenas reverencia o sagrado, mas também preserva uma história que fala de luta, acolhimento e liberdade.