Tecnologia

Educação com futuro na tela

Educação com futuro na tela
Camilly Oliveira

Camilly Oliveira

09/05/2025 5:08pm

Foto: Alpha School / Divulgação 

Na Alpha School, no Texas, ninguém mais aprende com giz e lousa. Lá, a autoridade não usa gravata nem dá bronca, mas responde com algoritmo. Cada aluno tem um tutor digital exclusivo, que analisa erros, acertos e até o tempo que demora para resolver um exercício. 

O plano de aula não é igual para todos e é refeito diariamente, com base no que cada aluno precisa. Resultado? Os alunos estão entre os melhores do país, com notas que superam a média nacional no SAT (Scholastic Assessment Test), o exame que abre as portas das universidades, equivalente ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

Esta escola cortou o tempo de sala pela metade. Em duas horas, os estudantes vencem as disciplinas obrigatórias. Depois disto, o currículo vira laboratório: programação, desafios de lógica, simulações de liderança, projetos de arte e negócios. O foco não é passar no vestibular, mas entender o mundo, agir sobre ele, criar soluções reais. O ambiente lembra menos uma escola tradicional e mais uma mistura de startup com centro de pesquisa juvenil.

E isto não é caso isolado. Nos Emirados Árabes, o uso de IA nas salas já é regra. Na China, algoritmos avaliam até as expressões faciais dos alunos para medir engajamento. O mercado de educação digital explodiu e saltou para US$ 163 bilhões em 2023 e deve chegar a US$ 550 bilhões até 2033. A revolução já começou, e quem ficar de fora não vai perder apenas tecnologia, mas o controle da narrativa, autonomia e soberania sobre o que se ensina.

Só que por trás dos gráficos de desempenho surgem questões mais complexas. Quem escreve os códigos que decidem o que seu filho vai estudar? Quais interesses estão nos algoritmos? O discurso da personalização individual esconde o risco da escola vira um negócio de dados, no qual o aluno é consumidor e o conteúdo, produto. 

Fora isto, o acesso desigual à tecnologia empurra milhões de estudantes para a margem, dados da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostram que 1,3 bilhão de estudantes no mundo todo não tem acesso à internet em casa. E há também o apagamento do professor que ouve, provoca, improvisa, subverte. A IA corrige testes, mas não consegue revolucionar o ensino.


A Alpha School não está vendendo apenas software, mas propondo um novo contrato com o conhecimento. Menos fila, menos cartaz de boas-vindas, menos maçã na mesa da professora. Mais autonomia, mais precisão, mais eficiência. Mas também mais vigilância, mais dependência e menos humanidade. A questão não é se este modelo vai chegar, ele já chegou. A questão agora é: a sociedade vai aceitar como progresso inevitável ou disputar o que significa educar em um mundo dominado por máquinas?