Tecnologia

Deepfakes e IA como a educação prepara cidadãos para o uso ético da tecnologia

Formação acadêmica superior ganha novo papel na era da inteligência artificial ao preparar profissionais para lidar com dilemas éticos, jurídicos e sociais das tecnologias emergentes

Deepfakes e IA como a educação prepara cidadãos para o uso ético da tecnologia
Jacson Gonçalves

Jacson Gonçalves

31/10/2025 4:54pm

Crédito da imagem: Imagem gerada por IA (Google Gemini)

A disseminação de conteúdos manipulados e o avanço das deepfakes  vídeos, áudios e imagens alterados por inteligência artificial para simular pessoas ou situações reais  colocam a sociedade diante de um cenário de desinformação e perda de confiança nas fontes digitais. Embora a tecnologia traga benefícios em diversas áreas, ela também amplia os riscos de uso indevido de informações e exige atenção crítica de cidadãos e profissionais.

Segundo levantamento da EY Brasil (2025), 92% dos brasileiros afirmam ter utilizado IA de forma consciente nos últimos seis meses, e 64% acreditam que seus benefícios superam os riscos. Ainda assim, o país enfrenta o desafio de formar cidadãos capazes de usar essas ferramentas de maneira ética e crítica, especialmente em regiões como o Nordeste, onde apenas 19,8% da população possui habilidades digitais básicas, segundo dados da Anatel de 2023.

Nesse contexto, as instituições de ensino superior assumem papel essencial na formação de futuros profissionais preparados para lidar com os impactos da inteligência artificial. Disciplinas específicas, programas de atualização e cursos voltados à governança da tecnologia e às implicações éticas e regulatórias da IA no acesso à Justiça têm contribuído para o desenvolvimento de competências críticas e técnicas que ajudam estudantes e sociedade a enfrentar os desafios de um mundo digitalizado.

O gestor e coordenador de Inovação e Projetos Especiais da Faculdade Baiana de Direito e Gestão, Diogo Guanabara, destaca a importância de expandir o alcance do conhecimento além da sala de aula. “Entendemos que a academia tem papel central na formação para o uso ético da inteligência artificial. E cabe a ela fomentar senso crítico, responsabilidade e visão humanista, de modo a equilibrar inovação e proteção de direitos fundamentais”, explica.

Para Guanabara, que também é consultor jurídico em Direito Digital e Proteção de Dados, os desafios são claros. “É preciso superar a visão de que a IA é apenas uma ferramenta técnica, sem impactos sociais ou jurídicos. A velocidade das inovações exige atualização constante de professores, alunos e materiais, e é fundamental envolver diferentes áreas do conhecimento, como Direito, tecnologia, comunicação e psicologia, para enfrentar o problema de forma completa”, afirma.

Com vídeos e áudios falsificados circulando com facilidade, o debate sobre alfabetização digital torna-se urgente. O professor Marcus Seixas observa que a sociedade ainda carece de preparo para enfrentar os riscos. “Deepfakes e sistemas de geração automática de conteúdo exigem alfabetização digital profunda. É preciso saber identificar manipulações, compreender os algoritmos e reconhecer quando estamos diante de construções sintéticas da realidade”, destaca o doutor em Direito que desenvolve atividades relacionadas ao uso de inteligência artificial.

Segundo Seixas, que é advogado e docente da Baiana de Direito, o Brasil ainda está em fase inicial de adaptação às novas formas de manipulação digital. Para ele, embora a população adote rapidamente novas tecnologias, a alfabetização digital não avança no mesmo ritmo. “Ainda há quem não tenha acesso regular à internet ou ao letramento digital básico, o que aumenta a exposição à desinformação e às campanhas que exploram a falta de repertório tecnológico”, alerta.