Gerado e criado em Uauá, mas nascido em Salvador, Técio Filho mostra que é possível viver de forma sustentável dentro das grandes cidades. O meio ambiente, assim como a conexão entre as pessoas e o espaço onde elas habitam são as maiores preocupações que fazem parte da história de Técio, que se graduou em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2001, onde já havia frequentado o curso de Engenharia Civil, entre 1992 e 1996.
Como a sustentabilidade é trazida para os seus projetos profissionais?
A experiência do concreto na engenharia, somada à arte do desenho, me influenciou positivamente como um profissional que vê a arquitetura como uma ampliação de horizontes. Já fui músico, compositor, já tive banda de rock, gravei CD, tive casa noturna e sempre segui na arquitetura e com a arquitetura. Afinal, a arquitetura é música condensada. Tive a Boomerangue, casa noturna da qual fui proprietário no bairro boêmio do Rio Vermelho, que foi a primeira experiência com a reciclagem de materiais no processo construtivo. Quando ainda não se falava em sustentabilidade, eu já reaproveitava madeira, metais, pedras ou vidros desde a concepção do projeto até a sua execução. Desde então, passei a inserir, sempre que possível, o reúso no meu processo criativo e na execução dos meus projetos de arquitetura.
E que caminho você trilhou na Arquitetura?
Eu diria que aproveitei oportunidades, como o intercâmbio que me possibilitou passar pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e o início da carreira no premiado escritório Sete 43, de Naia Alban e Moacyr Gramacho. A minha arquitetura também foi moldada nos trabalhos de cenografia em teatros, encenações a céu aberto, shows, exposições e muita experimentação! E, claro, a sustentabilidade estando presente em todas as minhas obras.
Dentro de diversos contextos de projetos, fossem eles de urbanismo ou de arquitetura residencial, comercial ou institucional, sempre busquei por soluções sustentáveis. Passei a defender esse tipo de arquitetura que se conecta de forma bacana com a economia circular, que defende a eficiência energética e que traz a sustentabilidade para o cotidiano daqueles que ela abriga. Se o corpo abriga a nossa alma, a arquitetura, enquanto construção, abriga os nossos corpos. E precisa, portanto, ser tão saudável quanto um corpo. Precisa ser salubre, precisa de conforto ambiental, seja ele térmico ou acústico. Precisa de fluidez, luz e beleza!
"A experiência do concreto na engenharia, somada à arte do desenho, me influenciou positivamente como um profissional que vê a arquitetura como uma ampliação de horizontes"
Técio Filho
E como surgiu o projeto de criar a sua própria residência completamente sustentável?
Na minha casa, a “Casa das Árvores”, tive maior liberdade. Nela pude fazer uma compilação de todas as soluções sustentáveis que já havia proposto para os meus clientes em projetos anteriores como: teto verde, implantação da edificação sem supressão das árvores preexistentes, reúso das águas pluviais, reúso de águas cinzas, aquecimento solar para água potável, energia fotovoltaica, alto índice de permeabilidade, ventilação cruzada, iluminação natural, jardins verticais, reúso de materiais como metais e madeiras, piso em laje zero, concreto aparente, biodigestor biogás, entre outros itens.
Foi um grande desafio e muito gratificante projetar e construir uma edificação em um terreno extremamente íngreme, em declive, buscando manter ao máximo o seu relevo natural e respeitar as preexistências nele. O resultado é uma arquitetura contemporânea, com expressão tectônica, extremamente confortável, sustentável, com uma estética acolhedora, de fácil assimilação e mimetizada na mata.
Depois de uma avaliação rigorosa, que durou, aproximadamente, um ano, em 2019, a “Casa das Árvores” ganhou o primeiro e único Selo Gold Residencial de IPTU Verde da cidade de Salvador. Essa experiência, agora, está sendo levada para diversos projetos de arquitetura e para os novos empreendimentos que eu assino, como o Vista Mundaí, em Porto Seguro, e o Canto do Mar Privilege, em Guarajuba.
O que te inspira a levar os seus projetos de maneira sustentável?
A minha relação com a natureza, o meu entendimento de que podemos e precisamos pensar as cidades mais verdes. Dessa forma, já estamos defendendo uma arquitetura sustentável e uma relação saudável com as preexistências, coexistindo ao invés de impormo-nos. Pensar em espaços que promoverão sensações relacionadas à felicidade das pessoas me traz a convicção de que preciso compartilhar essa consciência, que é o que me estimula e me inspira!
E quais os seus planos para o futuro?
Continuar fazendo arquitetura de qualidade, defendendo esse conceito de uma arquitetura viva e cidades mais biofílicas. Aprimorar-me cada vez mais nas técnicas de reúso e de eficiência energética e poder desempenhar melhor esse papel de orientador, que é o do arquiteto e urbanista. É isso, profissionalmente, quero cada vez mais trabalhar a sustentabilidade na prática e para todos os padrões construtivos.
FOTO: San Júnior - @sanjrphoto