Quando qualquer árvore morre, seja por decomposição ou por queima, ela emite carbono. Para os dados do Observatório do Clima, a unidade de medida é a tonelada de CO2, mas a floresta derrubada também emite outros gases: o metano (CH4), que equivale a 25 toneladas de CO2; e o óxido nitroso (N2O), que equivale a 270 toneladas.
"Se a floresta tem 200 toneladas de carbono vivas, e essas 200 toneladas vão oxidando depois do desmate, o carbono vira CO2 e, se está em condições anaeróbicas (sem oxigênio), pode até virar metano", explica Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), nome dado ao projeto que contabiliza as emissões.
Cidades que desmatam, mas que tem uma população reduzida, somam uma taxa de emissões per capita altíssima.
Por exemplo, Santa Cruz do Xingu (MT): cada pessoa emite 857,9 toneladas de CO2 por ano, um número equivalente à produção de gases do efeito estufa de 800 carros. Segundo Azevedo, essa distorção está relacionada à forte perda de floresta em um município que tem menos de 3 mil habitantes.
A agropecuária também é uma fonte importante das emissões de gases no Brasil. No topo da lista do setor, também está São Félix do Xingu. A cidade, além de contribuir com altas taxas de desmatamento, também tem o maior rebanho bovino do país. Dados mais recentes apontam um crescimento de 18% nos últimos 10 anos, com 2,3 milhões de animais apenas na cidade paraense.
"Quando você vê as emissões de agropecuária, elas envolvem os animais, são as chamadas 'fermentações entéricas', o arroto do boi. Ele come capim, e ele degrada a matéria orgânica dentro do estômago, um ambiente anaeróbico, que gera metano", explica Azevedo.
Além da participação do gado nas emissões de gás carbônico, o setor também contribui com os gases liberados pelas áreas alagadas das plantações de arroz, óxido nitroso dos fertilizantes nitrogenados, além de outras causas menos representativas.
São Paulo, Rio de Janeiro e Serra também estão entre as 10 cidades brasileiras com mais emissões e que, portanto, contribuem com mudanças do clima no planeta.
A capital paulista lidera as emissões por energia, com mais 12,4 milhões de toneladas de CO2 - a maior parte está relacionada à frota de veículos. A cidade também emite uma parte do setor de resíduos, mas o Rio de Janeiro está no primeiro lugar.
Os resíduos do Rio liberam mais gases do efeito estufa que os de São Paulo, uma história que está ligada a um outro município paulista: Caieiras. Como outras cidades brasileiras, tem emissões negativas de CO2. Como isso pode acontecer?
Caieiras recebe parte do lixo de São Paulo e faz um processamento do metano para geração de energia. O aterro está associado a uma usina que aproveita as emissões, sem liberar para o planeta. O Rio de Janeiro acaba liderando a lista de cidades com mais gases devido aos resíduos, em parte porque não tem um sistema de recuperação como o feito por Caieiras e São Paulo.
Já a cidade de Serra, no Espírito Santo, aparece na lista porque tem muitas emissões no setor industrial. Ela concentra uma parte das siderúrgicas do país, que também tem um papel no montante de carbono brasileiro.
Sobre os dados
Os dados do SEEG por município são inéditos e mostram qual é a quantidade de CO2 emitida por cada um dos municípios brasileiros. É o excesso do gás carbônico, e outros gases em menor quantidade, que gera o aquecimento da Terra, o tal do efeito estufa.
Em Vênus, nosso vizinho no Sistema Solar, a atmosfera é 96% composta por CO2 e a temperatura passa dos 400ºC. Por isso, o esforço em contabilizar a quantidade de gás carbônico e o papel do Brasil nas mudanças climáticas atuais.
Tasso Azevedo explica que para conseguir trazer os números mais completos, precisou juntar informações de 2000 a 2018, sendo que os dados acima são relacionados ao último ano.
O projeto utiliza como base de dados as informações públicas dos municípios, mas uma parte delas não está disponível para os anos de 2019 e 2020. De acordo com o pesquisador, o projeto trará novas informações assim que possível, com as emissões do país ano a ano.
Via: G1