The Latvian Talks com Fabi Maimone encerra temporada de 2024 com Arthur Rufino
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A empresária Luiza Helena Trajano fala com exclusividade à Let’s Go sobre crise econômica, carreira e a sua relação com a Bahia
Por Adalton dos Anjos
Luiza Helena Trajano tem pressa e não tem medo de desafios. Quando sua mãe sugeriu que ela fosse trabalhar na loja dos tios, aos 12 anos, nas férias de verão, Luiza foi lá e se tornou a melhor vendedora daquele mês. Desde que assumiu a superintendência do Magazine Luiza, em 1991, de modo célere, alçou a empresa para o seleto grupo das maiores do Brasil, influenciando todo o setor do varejo com as suas soluções inovadoras em vendas.
Hoje, é presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e comanda mais de 900 lojas físicas em 17 Estados brasileiros e 22 mil funcionários. Lidera mais de 45 mil mulheres no Grupo Mulheres do Brasil – entidade suprapartidária de apoio a políticas afirmativas, à eliminação da desigualdade de gênero, raça e de condições sociais. Luiza está em movimento e prontamente compreendeu que precisava ser um agente de transformação. Sua memória emotiva lhe diz que a convivência em um colégio de freiras na infância despertou-lhe esse lado mais sensível. Já o seu instinto empresarial grita: “Os que não partirem rapidamente para ações mais conscientes vão perder a preferência dos consumidores”.
Ela não tem dúvidas que somente a união entre os diversos setores da sociedade será capaz de salvar o Brasil da crise econômica. Para Luiza, a pandemia só acelerou essa percepção e impôs respostas urgentes para problemas sociais brasileiros antigos. Sem demora, confira a entrevista exclusiva que a presidente do Magalu concedeu à Let’s Go, em que ela fala sobre a pandemia, política, crise econômica, o passado e o futuro.
Como a senhora tem passado este período de distanciamento social provocado pela pandemia da COVID-19?
Ninguém esperava por esta situação. Fui pega de surpresa, em Franca, quando vim para o lançamento do livro do meu amigo Hélio Rubens e nem pude mais voltar para São Paulo. Mais recentemente eu havia estado no lançamento do Grupo Mulheres do Brasil na Alemanha; visitei duas feiras lá e percebi que a China não estava presente. Sabíamos que o coronavírus era um risco que estava aumentando, mas ninguém esperava essa velocidade e gravidade. Agora, a principal preocupação é cuidar da saúde, pois CPF não volta. Ao ter uma atenção muito grande com o social e o desemprego, a pandemia escancarou a diferença social que já sabíamos que existia.
As mulheres têm passado por este momento de modo bem intenso. Como tem visto e vivido esse acúmulo de trabalho e de responsabilidades que recai sobre as mulheres neste período de distanciamento social?
Todos nós tivemos que nos adaptar imediatamente à nova realidade do home office e é preciso entender que estamos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco. As casas não foram preparadas para acomodar o trabalho, e as mulheres, que sempre tiveram dupla ou tripla jornada, acabam acumulando muito mais trabalho e responsabilidades.
Quais as lições que os impactos provocados pela pandemia podem deixar para o empresariado brasileiro?
São inúmeras, mas destaco a cultura digital, principalmente para as empresas que não a possuíam. Não falo de um software ou um aplicativo, mas de um modo de pensar com agilidade, usando a tecnologia. Quem ainda não estava nessa cultura teve que se adaptar rapidamente, e isso é algo que não tem volta, fica para sempre na empresa. O Magazine Luiza auxiliou muito nesse sentido, abrindo, ainda bem no começo da pandemia, a sua plataforma de vendas on-line para os pequenos e microempresários por meio do programa Parceiros Magalu.
Em sua opinião, como vamos conseguir sair desta crise econômica no pós-pandemia?
Todos os países estão realizando uma forte injeção de recursos na economia, pois se trata de uma situação de guerra. O governo está fazendo muitas ações boas para as pequenas empresas e precisamos manter os empregos neste momento. O que precisa acontecer é que o dinheiro chegue rapidamente a quem precisa dele. As micro e pequenas empresas precisam de recursos com baixo custo para a manutenção dos seus negócios. É preciso união em todas as esferas para que possamos enfrentar esta crise econômica.
A senhora defende a necessidade de união e diálogo para melhorar a situação do país. Como acredita que podemos superar o abismo que separa os brasileiros neste contexto de intensa polarização política?
A única forma é a união, e isso é tarefa da sociedade civil organizada cobrar. Não podemos admitir que discussões eleitorais ou de ponto de vida de pensamento sejam responsáveis por fome e desemprego que, aliás, já estão em altos níveis no país. Esta crise está acordando a população para isso, e os governantes que insistirem no confronto como forma de ação política serão cobrados por esses atos.
A senhora lidera o Grupo Mulheres do Brasil desde 2013 e é uma referência para mais de 40 mil empreendedoras brasileiras que fazem parte dessa entidade suprapartidária. Poderia citar os principais impactos sociais desse grupo?
Hoje, já somos mais de 45 mil mulheres em dezenas de núcleos no Brasil e até no exterior; o grupo é formado por mulheres brasileiras que querem ajudar o país. Os núcleos têm diversos comitês, que procuram não inventar a roda, mas auxiliar os projetos já realizados por entidades sérias e competentes. Graças a isso, já causamos um imenso impacto social em todo o Brasil, cuidando desde o assistencialismo, que hoje é necessário, pois a pandemia trouxe a fome, até questões estruturais como o racismo, a violência contra a mulher, saúde, educação, saneamento, a situação nos presídios e muitas outras.
O Grupo Mulheres do Brasil quer fazer política e provocar impacto social positivo, porém aparenta não desejar disputar cargos no Legislativo ou Executivo. Como reconheceram que esse modelo era o mais estratégico para os objetivos que traçaram?
Acreditamos que o que mudará o Brasil não será um salvador da pátria, mas, sim, a sociedade civil unida e consciente de sua força. Atuamos política e democraticamente, mas sem a intenção de cargos eletivos e querendo participar com a nossa força na construção de políticas públicas.
Acredita que a configuração política partidária no Brasil está em esgotamento?
A política partidária, com as mais diversas ideologias, é construtiva e alimenta a discussão da democracia. Temos um excesso no número de partidos no Brasil, e é necessária uma reforma, pois isso virou moeda de troca na política, mas, em número moderado, os partidos são necessários e fazem parte do jogo democrático.
A senhora se destaca entre os grandes empresários brasileiros por se engajar abertamente em uma luta por uma sociedade com igualdade de oportunidades entre gêneros e raças. De onde vem a inspiração para se dedicar a esse trabalho?
Sempre fui assim, desde menina, quando, estudando em um colégio de freiras, questionava muito as desigualdades. O importante é quando percebemos que temos que atuar fortemente para mudar esta realidade. O Grupo Mulheres do Brasil é um desses instrumentos fortes que reúne milhares de mulheres. Agora, também criamos os Jovens do Brasil, com pessoas que trabalham para mudar esta realidade de desigualdade.
O que falta para que outros empresários despertem para o capitalismo mais consciente?
Os que não partirem rapidamente para ações mais conscientes vão perder a preferência dos consumidores, simples assim. Estamos chegando ao tempo em que as pessoas irão avaliar e cobrar o engajamento das empresas com a sociedade; não adianta vender barato e não pagar adequadamente aos seus funcionários. A pandemia acelerou ainda mais o despertar para o coletivo.
A senhora não se considera nem de esquerda nem de direita. Acredita que esses espectros políticos estão esvaziados?
Eu sou totalmente apartidária. Quanto aos partidos, é justa a ideologia política deles, mas, acima de tudo, é preciso haver preocupação com o bem comum, sem disputas eleitorais. Veja o exemplo da pandemia, não é possível uma discussão de ideologia enquanto o povo sofre com a falta de saúde e o desemprego. Independentemente do partido, é necessário união para resolver a situação emergencial. Não acho que os espectros políticos estão esvaziados e sou contra qualquer radicalismo e falta de união, pois a necessidade está acima da discussão.
Aos 12 anos, a senhora já trabalhava como balconista do Magazine Luiza nas férias. O que a motivou a buscar essa experiência?
Minha mãe tinha uma grande inteligência emocional. Eu sou filha única e gostava muito de dar presentes para as minhas amigas. Minha mãe nunca me falava não, mas encontrava soluções. Então, ela sugeriu que eu fosse trabalhar na loja de minha tia como vendedora e, com o dinheiro que eu ganhasse, comprasse os presentes. Fui a melhor vendedora do mês, peguei muito gosto pela venda e descobri que gostava de lidar com pessoas.
O que a senhora aprendeu durante aquele período e com o contato com seus tios Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato?
Já vivíamos muito unidos em um núcleo familiar pequeno e sempre aprendi com eles e com outros tios que se reuniram para trabalhar. Foram inúmeros ensinamentos ao longo de muitos anos de convivência. Talvez, se eu precisasse destacar alguns, seriam a preocupação com o cliente, a ética e nunca ter medo de empreender.
Poderia comentar sobre esse seu hábito de conversar com clientes e vendedores nas lojas?
Até hoje tenho contato direto com vendedores e clientes, que são a base do negócio. Até deixo minhas redes sociais abertas para comentários de clientes e tenho uma equipe que resolve eventuais problemas. Tenho centenas de histórias incríveis que dariam um livro. Todo presidente de empresa precisa ter uma linha direta com os seus colaboradores e clientes, senão só vai ficar ouvindo o que quer ouvir, e não o que precisa.
Desde 1991, quando a senhora assumiu a superintendência do Magazine Luiza, uma série de inovações premiadas e implementadas na companhia têm sido copiadas por todo o setor de varejo brasileiro. Como funciona o seu processo de invenção?
Sempre foi feito no caos, como uma startup. Sempre incentivei a equipe a trabalhar com rapidez e criatividade. O erro faz parte, mas precisamos aprender com ele e nunca repetir o mesmo erro. É preciso criar uma cultura de participação da equipe, pois ninguém faz nada sozinho.
Para onde aponta o futuro do Magalu?
Acredito que o futuro aponta para o mesmo caminho que foi trilhado até agora: o da inovação. Tivemos um trabalho intenso com a equipe, e o que responde a esta pergunta foi o slogan utilizado em um dos “encontrões” anuais que sempre fazíamos, que reuniam todas as lideranças. O slogan era: “O que não muda é que o Magazine Luiza sempre muda”.
O que a senhora gosta de fazer nas suas horas de lazer?
Sou totalmente normal. Ultimamente, o que mais gosto de fazer é estar na companhia de meus netos. É uma grande alegria, mas também gosto, principalmente, de esportes aquáticos. Sou uma ótima pilota de jet ski.
Qual a sua relação com a Bahia?
Eu adoro o Nordeste todo e amo a Bahia. Tenho muitos amigos aí e já fui inúmeras vezes ao Estado todo, seja a trabalho ou a lazer. Fiquei muito feliz quando o Magazine Luiza comprou as Lojas Maia, foi a nossa entrada em toda a região, e fico fascinada com a alegria e a criatividade do povo baiano; aproveito para mandar-lhes um grande beijo.
Que mensagem a senhora deixaria para os trabalhadores do setor de saúde que estão atuando na pandemia da COVID-19?
São heróis que merecem todo o reconhecimento pelo grande esforço que têm feito. É um momento oportuno para valorizarmos os profissionais de saúde e o SUS, que era questionado por muitos, mas provou que é um orgulho nacional na sua concepção, porém que precisa muito melhorar a sua gestão. Assim como os profissionais de educação, os de saúde precisam
ser valorizados e mais bem remunerados.
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