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O torço no candomblé e suas funções

O torço no candomblé e suas funções
Daisy Rose Silva - Iyalorixaá Esmeralda Idangue, Bacharel em Comunicação e Letras e também Pesquisadora de Etnicidade, Afrodescendência e Gênero

Daisy Rose Silva - Iyalorixaá Esmeralda Idangue, Bacharel em Comunicação e Letras e também Pesquisadora de Etnicidade, Afrodescendência e Gênero

12/10/2021 11:00am

No candomblé, o vestuário é carregado de significados e regras hierárquicas. Cada peça tem o seu porquê e sua razão de existir. No caso das mulheres, por exemplo, são aproximadamente oito peças que são cuidadas como verdadeiros tesouros. Lavadas à mão, engomadas e passadas com maior zelo, mostrando a dedicação à religião e ao amor aos Orixás.

Peças femininas: 

Calçolão - uma espécie de calça de tecido de algodão com aplicações de renda nas pontas

Singué - uma faixa de tecido de algodão que amarra os seios

Camisú - grande camisa que cobre dos ombros aos quadris

Anáguas, forro, saia, camisa de crioula ou bata, pano da costa  também compõem a indumentária feminina no candomblé, e especialmente o torço, conhecido no candomblé como ojá.

Falando especialmente do ojá (torço), esse tem uma função muito especial: proteger o òrí e o adoxó. O òrí, que em alguns momentos significa cabeça, nesse caso refere-se ao orixá comandante encarnado. 

Fazendo uma comparação meramente ilustrativa,  o òrí é como a nossa consciência, a mente ativa que nos rege. Já o adoxó é um ponto específico da cabeça que permite a conexão com a espiritualidade (consagrado na iniciação e retirado do corpo do candomblecista falecido).

A função principal do torço é proteger o òrí e o adoxó. Contudo podemos identificar algumas outras funções. 

Quando amarrado de forma pontuda significa que o orixá daquela pessoa é masculino (Babá), quando possui abas ou é completamente arredondado é um orixá feminino (Yabá). No momento do rum (dança), somente as Yabás dançam com a cabeça completamente coberta, os Babás dançam sem o ojá ou com faixas cobrindo parte da cabeça.

As indumentárias tradicionais eram confeccionadas em tecidos de algodão, com detalhes bordados feitos com técnicas como Richelieu, Renda de Birro, Ponto de Cruz. É importante ressaltar que quanto mais bordada ou enfeitada é a roupa, mais anos de iniciação tem o adepto. Por exemplo: só se usa Richelieu com no mínimo 7 anos de iniciado, ou com permissão especial (herança de cargo por exemplo). Hoje em dia, a importação dos tecidos africanos (os famosos Ankara) deu nova cor e textura aos candomblés, porém é importante ressaltar que esses não fazem parte da fundamentação tradicional, e aqui fazemos um parêntese: não existe candomblé na África, candomblé é uma religião essencialmente brasileira inspirada no culto dos orixás africanos. 

Voltando aos ojás, qualquer pessoa pode usá-los, mesmo que não seja iniciado (abiã). Como dissemos, ele tem a função de proteger e embelezar. Sendo assim, empodere-se, vista seu torço como uma coroa e mostre o orgulho por sua ancestralidade.

Por Daisy Rose Silva
(Iya, sucessora da Iyalorixaá Esmeralda Idangue. Bacharel em Comunicação e Letras, Pequisadora de de Etnicidade Afrodescendencia e Genero)