Na adolescência, o cérebro passa por transformações significativas que influenciam comportamento, tomada de decisão e saúde mental. Este período crucial do desenvolvimento neurológico é marcado por mudanças estruturais e funcionais, particularmente no córtex pré-frontal e no sistema límbico, áreas responsáveis pelo controle de impulsos, planejamento e regulação emocional. No entanto, essas características "normativas" do desenvolvimento cerebral estão sendo cada vez mais desestruturadas por fatores contemporâneos como o uso excessivo de telas e a má alimentação, que impactam negativamente o neurodesenvolvimento.
Segundo Kleber Fialho, psicólogo e neurocientista, CEO do Instituto KF e NeuroKonex, "a adolescência é um período de refinamento sináptico, onde as conexões neurais são fortalecidas ou eliminadas com base nas experiências e aprendizados do jovem. Este processo é essencial para a maturação cognitiva, mas também torna o adolescente mais vulnerável a comportamentos de risco e instabilidades emocionais". O uso excessivo de dispositivos digitais interfere nesse processo, desorganizando o cérebro e dificultando a formação de conexões neurais saudáveis, o que pode levar a um aumento de problemas como a ansiedade e a depressão.
A má alimentação, por sua vez, prejudica ainda mais esse desenvolvimento, pois nutrientes essenciais são fundamentais para o funcionamento adequado do cérebro. A ingestão inadequada de alimentos pode comprometer a maturação cerebral, tornando os jovens ainda mais suscetíveis a disfunções emocionais e comportamentais. Essa interação entre a alimentação ineficaz e o uso excessivo de telas enfatiza a precariedade do ambiente no qual muitos adolescentes se encontram, reforçando a necessidade de intervenções que fomentem práticas saudáveis.
Kleber Fialho já publicou desde 2013 sobre esses problemas, relatando casos clínicos no âmbito do cyberbullying, que exemplificam o impacto dessas desestruturações. A remodelação do cérebro adolescente está associada à busca por novas experiências e maior sensibilidade às recompensas, aspectos que podem ser potencializados por um ambiente tecnológico desregulado e pela falta de uma alimentação balanceada. "Entender essas mudanças neurológicas é fundamental para oferecer suporte adequado aos jovens, promovendo um ambiente que estimule o desenvolvimento saudável e minimize fatores de risco", destaca Fialho.
A saúde mental na adolescência também é uma preocupação crescente. As flutuações hormonais e as pressões sociais podem exacerbar condições como ansiedade e depressão. "É crucial que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de sofrimento mental e saibam intervir de maneira apropriada", enfatiza o neurocientista.
Compreender as particularidades do cérebro adolescente não apenas ajuda a lidar com os desafios dessa fase, mas também a valorizar o potencial de crescimento e adaptação que os jovens possuem. Contudo, para que esse potencial se concretize, é imperativo enfrentar os fatores que desestruturam seu desenvolvimento, como o uso excessivo de telas e a má alimentação. "A neurociência nos fornece ferramentas valiosas para apoiar o desenvolvimento dos adolescentes, preparando-os para uma vida adulta mais equilibrada e saudável", conclui Kleber Fialho.