Entre 2020 e 2024, os investimentos globais diretos em transformação digital devem atingir um total de 7,8 trilhões de dólares, segundo projeções internacionais da Statista. Nesta acelerada corrida por vantagens em automação, liderada por lucros privados, entram no páreo atores focados nos lucros reais da caridade. A ousada equipe do Hospital Martagão Gesteira (HMG), inspirada pelo Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, de forma inovadora, operando dentro da visão ESG (Governança sócio, eco-nômica e ambiental). Enfatizo o ‘eco-nômico’ porque também está embutido nesta equação onde o ‘S’ está no comando.
Enquanto grandes grupos privados avançam em aquisições no setor de saúde assumindo o controle de clinicas e hospitais; a inquieta, arrojada e competente equipe do Martagão, que traz no seu DNA o “S” do social - agora emprestado ao ESG - corre na frente. Quando mais os capitais, antes livres, contorcem-se para faturar com os filtros ESG, que não têm manual nem centrais de controles e acompanhamentos, mais percebem que as novas forças que regem o mercado entrelaçam-se na digitalização do tecido social.
Mergulhando na transformação digital com parceiros internacionais de alto calibre, o Martagão, ainda invisível por estar no Nordeste brasileiro, em breve poderá surpreender, deixando de ser apenas um hospital filantrópico que faz anualmente impressionantes 500 mil atendimentos via SUS; para integrar-se, como centro global de excelência ao ‘planeta digital’. Passará a ser uma ‘porta digital’ integrada com tecnologias avançadas, como computação quântica, machine learning, IoT e blockchain, ligado a pesquisas internacionais sobre doenças tropicais de alto interesse da ciência e da indústria farmacêutica.
Com a inclusão digital, no momento em que a criança estiver sendo examinada, ou operada, a enfermidade também estará sendo automaticamente pesquisada e avaliada via algoritmos da inteligência artificial em centros multidisciplinares do planeta, que incluirão o Martagão - e a criança carente da Bahia - entre os recebedores de recursos para pesquisa e desenvolvimento.
Acompanhando os processos, equipes internacionais da Ernst Young, especializadas em governança global na saúde, parceiros do hospital, estão vigilantes. De outro lado, a Philips, uma das empresas parceiras do Martagão nessa transformação digital, está atenta. “Com inovação do ecossistema digital, graças à inteligência artificial (IA), aplicativos cada vez mais inteligentes aprendem com massas de dados cada vez maiores”, afirma Henk van Houten, vice-presidente executivo global de tecnologia da Philips.
Quando o Martagão foi inaugurado, em 1965, a Bahia tinha 6.5 milhões de habitantes. Hoje, o estado com 15 milhões de habitantes e rendimento domiciliar per capita médio de R$ 965 em 2020 (IBGE), abaixo da média do país de R$ 1.380, as carências sociais são acentuadas. Aí estão postos os imperativos para ampliação do único hospital privado e filantrópico, de alta complexidade, exclusivamente dedicado à criança carente da Bahia.
A proposta de criação de um Fundo Patrimonial (Endowment Fund), em rápida articulação pela instituição, que tem por objetivo de levantar 100 milhões de reais para a construção do Martagão II, celebrando o centenário da Liga Álvaro Bahia Contra Mortalidade Infantil (LABCMI), entidade mantenedora do HMG que completa 100 anos em 2023, avança a passos largos. O que antes soava como ‘alto valor’, vem rapidamente sendo encampado e abordado por grandes grupos financeiros privados, oferecendo mecanismos de captação, aplicação e gestão. Sem o fortalecimento da governança do ‘S’, o ESG não se sustenta, porque o peso crescente das carências sociais corrói suas estruturas. Uma instituição que passou um século acolhendo a mãe e a criança carentes, não tem receios desses pequenos desafios.
Pacientes, familiares, profissionais e estudantes, que circulam no Martagão, sentem a força da fé encarnada na competência da gestão aguerrida e inovadora que faz mover a máquina. A cada criança socorrida pela ousadia da alta complexidade numa instituição também carente, 100% SUS, milagres são operados por mãos movidas pela caridade humana, onde valores não têm preço.
Eduardo Athayde é diretor do WWI e membro do Conselho de Administração da LABCMI